Nanoplásticos ligados a mudanças nas proteínas cerebrais associadas à doença Parkinson

Em três tipos diferentes de experiências – em soluções, em células cultivadas em laboratório e em ratos geneticamente modificados para terem uma predisposição para desenvolver uma doença semelhante à doença de Parkinson – a presença de plásticos atraiu aglomerados invulgarmente grandes de alfa-sinucleína.

Os plásticos estão a afetar o nosso ambiente e possivelmente até a nossa saúde de formas preocupantes – e os mais pequenos pedaços foram agora associados a alterações nas proteínas cerebrais associadas a certos tipos de demência, incluindo a doença de Parkinson.

Segundo a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, “a Doença de Parkinson é considerada a segunda doença neurodegenerativa progressiva do sistema nervoso central mais frequente na população mundial, para além da Doença de Alzheimer”, “pensa-se que em todo o mundo existam 10 milhões de doentes de Parkinson” e “em Portugal, estima-se que 20 mil portugueses padeçam desta doença e todos os anos são identificados mais dois mil novos casos desta patologia”.

Uma equipa liderada por investigadores da Duke University, nos EUA, analisou a relação entre os nanoplásticos decompostos a partir do poliestireno e a proteína alfa-sinucleína. Um acúmulo de formas aberrantes desta proteína foi observado anteriormente no cérebro de pessoas com Parkinson. “A doença de Parkinson tem sido considerada o distúrbio neurológico de crescimento mais rápido no mundo”, diz o neurobiologista e autor sénior Andrew West, da Duke University. “Numerosos dados sugerem que fatores ambientais podem desempenhar um papel proeminente na doença de Parkinson, mas tais factores, na sua maioria, não foram identificados”.

Em três tipos diferentes de experiências – em soluções, em células cultivadas em laboratório e em ratos geneticamente modificados para terem uma predisposição para desenvolver uma doença semelhante à doença de Parkinson – a presença de plásticos atraiu aglomerados invulgarmente grandes de alfa-sinucleína. De particular interesse foram as fortes ligações químicas formadas entre as nanopartículas de poliestireno e a proteína alfa-sinucleína, especialmente nos lisossomos celulares, onde é feito o descarte de resíduos. Há evidências aqui de que o plástico interfere no processo natural de limpeza dos neurónios, o que mais uma vez aponta para o mal de Parkinson e doenças semelhantes.

Essas descobertas ainda são iniciais e nenhum teste foi feito em humanos. A relação entre nanoplásticos e alfa-sinucleína ainda não está clara, nem a relação entre a concentração de alfa-sinucleína e a demência. É importante notar que se acredita que a alfa-sinucleína desempenha um papel importante na manutenção da saúde dos neurónios do cérebro – somente quando ela fica deformada ou mal dobrada é que os problemas começam. No entanto, determinar se isso é uma causa ou um sintoma de doenças como a Parkinson é complicado.

O que este estudo mostra é que os nanoplásticos afetam os níveis da proteína. Segundo o Science Alert, “o próximo passo é olhar mais de perto – e isso pode exigir novas tecnologias que sejam mais capazes de monitorizar os níveis de plástico e as suas interações químicas nas escalas mais pequenas”, sendo que “o que já sabemos é que a maioria de nós já carrega partículas microscópicas de plástico no sangue” e “descobrir como isso está a impactar a nossa saúde será uma área crucial de pesquisa nos próximos anos”.

“Embora os contaminantes microplásticos e nanoplásticos estejam a ser avaliados de perto quanto ao seu impacto potencial no cancro e nas doenças autoimunes”, diz West, “a natureza impressionante das interações que pudemos observar nos nossos modelos sugere a necessidade de avaliar o aumento dos contaminantes nanoplásticos na doença de Parkinson e na demência”. 

A pesquisa foi publicada na Science Advances.