‘Estão na adolescência. É horrível!

A adolescência pode ser a fase mais difícil e sem dúvida a mais desafiante da parentalidade.

Um dia destes encontrei uma amiga que não via há muito tempo. Quando lhe perguntei pelos filhos respondeu: ‘Estão na adolescência! O que é que eu posso dizer mais? É horrível! Horrível!’.

Esta reação não difere muito de outras que ouço de pais de adolescentes. E não admira! A adolescência pode ser a fase mais difícil e sem dúvida a mais desafiante da parentalidade. Muitos pais têm ainda muito presente o nascimento dos filhos, os primeiros passos, a primeira sopa, as idas ao parque, a ingenuidade, as brincadeiras, mimos e gracinhas, e encaram com alguma tristeza e por vezes até mágoa a forma como de repente os filhos se transformam.

Embora haja uma série de mudanças anteriores, ao longo da infância, que nem sempre são fáceis para ambas as partes e que frequentemente se traduzem em noites em claro ou birras impossíveis, é na adolescência que a maior modificação é sentida. Se até aí as crianças seguiam mais ou menos os passos dos pais e estes tinham o comando do caminho, quando eles crescem começam a traçar o seu próprio trilho, que muitas vezes é diferente daquele que os pais imaginaram, desejaram ou chegaram mesmo a delinear para eles. Este choque na harmonia familiar e este conflito de interesses e de ideias nem sempre é fácil de gerir. Tanto pelos pais, como pelos filhos. Todos os dias há novidades e por vezes os comportamentos são absolutamente inesperados e até repreensíveis, traduzem sobretudo a ânsia da descoberta de si próprios e do que os rodeia, a sua vertente nova, mais independente e adulta, a sua superação e a sua vontade de afirmação. É uma aprendizagem por tentativa e erro de se encontrarem e de descobrirem o seu lugar entre os outros. Esta dança agitada que sentimos, os constantes desafios, a distância, a irreverência, a transgressão, o testar limites, não passam de uma tentativa, por vezes bastante atribulada, de edificação de uma identidade, de assegurar a sua autonomia e independência, de percorrer um caminho próprio e original, que levará à construção do novo ser adulto.

Podemos pensar que seria mais fácil se os jovens se mantivessem como carneirinhos no rebanho. Se seguissem obedientemente as indicações dos pais e caminhassem a seu lado no carreiro predefinido por eles, harmoniosa e tranquilamente. Mas dessa forma não passariam de um depósito dos desejos e frustrações dos próprios pais e um prolongamento destes. E mesmo que mais tarde tentassem encontrar o seu próprio caminho, já não teriam a mesma facilidade, porque tinham desperdiçado toda aquela fase de descobertas e aprendizagens, ficando facilmente agrilhoados.

Quando os filhos crescem, os pais devem deixar de procurar neles a criança que já não são, para receberem, aceitarem e apoiarem o novo jovem e futuro adulto. Isto implica mudanças, conflitos de ideias e um enorme desafio para ambas as partes. Os filhos já não são levados ao colo, nem andam de mão dada, muitas vezes vão abrindo caminho à frente dos pais, e estes, a seu lado, vão contrabalançando, guiando, dialogando, apoiando, sempre com a distância necessária para que eles se possam movimentar com liberdade, para que possam fazer as suas escolhas de forma segura e encontrar o seu próprio caminho. Só através deste equilíbrio de vontades, de saberes, de amor, de compreensão e de bom senso, os filhos conseguem chegar a bom porto, tornando-se adultos autónomos, emocionalmente equilibrados e únicos.

Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
filipachasqueira@gmail.com