Há uns anos estava na China, em Guangzhou, a nossa Cantão, para fazer uma visita ao meu querido amigo Luiz Felipe Scolari cujo carinho foi crescendo desde o tempo em que trabalhámos juntos com aquele grupo mágico de 2004 e 2006. Fui lá mais do que uma vez, não vou deitar aqui a adivinhar-me em qual delas ao certo terá sido, mas também não é importante. Chegados ao centro de treinos do Guangzhou Evergrande, que ele treinava na altura, reparei num pormenor curioso: junto à entrada para os campos relvados estava uma mesa curva com uma rede pequena a separar as duas metades, uma espécie de mesa de ping-pong com a diferença de que, em vez de ser direita, inclinava para baixo em cada uma das pontas. Tinha sido colocada lá à experiência para que os jogadores pudessem perceber se lhes agradava ou não iniciarem o aquecimento com alguns exercícios feitos sobre o aparelho. Alguns pura e simplesmente ignoraram a coisa e foram de imediato trocar bolas sobre a relva; outros, mais curiosos, ensaiaram jogos procurando meter a bola do lado da rede do adversário e preparando-se para rebater as respostas.
Um jovem americano estava disponível para responder a todas as questões que lhe quisessem colocar sobre a novidade, pois de facto uma novidade se tratava, e gastei alguns minutos à conversa com ele até perceber que o responsável pelo negócio, que também o era, se tratava do meu bom amigo Simão Sabrosa e ele tinha combinado fazer levar a mesa a uma série de clubes onde tinha boas relações com os treinadores de modo a deixar que os jogadores transmitissem as suas opiniões sobre ela. Não sei se o Simão ainda tem algo que ver com o negócio, ao tempo era o representante em Portugal dessas mesas, mas provavelmente as suas funções no Benfica não lhe dão grande folga para tal.
Do treino ao jogo
Se na altura o objetivo principal dessas mesas de ping-pong curvas nas pontas era o de proporcionar aos jogadores de futebol uma série de exercícios diferentes daqueles que estavam habituados nos treinos, hoje isso passou definitivamente à história. O Teqball, que os brasileiros apelidaram de mesabol, é uma modalidade de competição – masculina, feminina e mista – que já estabeleceu as suas próprias competições organizadas sob a responsabilidade da International Teqball Federation, sediada em Budapeste desde março de 2017, não tivesse o jogo sido inventado por dois húngaros, um antigo jogador de futebol, Gábor Borsányi, e o outro um cientista de computadores, Viktor Huszár. Para perceberem a popularidade crescente do desporto, acrescente-se que a Federação deTeqball (cujo presidente é, precisamente, Gábor Borsányi, tendo como vice-presidente György Gattyán e como presidente da mesa da Assembleia Geral Viktor Huszár) conta com nada menos de 124 membros. Curioso o facto de o maior número de membros pertencer à Confederação Africana (nada menos de 39).
O primeiro Campeonato do Mundo de Teqball também foi organizado em Budapeste, Hungria, quase como não poderia deixar de ser, e teve lugar em junho de 2017. A prova é dividida em cinco especialidades – singles masculinos, singles femininos, pares masculinos, pares femininos e pares mistos. Assim à moda do ténis, mais ou menos. Os Mundiais são anuais – houve interrupção em 2020 por causa da pandemia – e os seguintes tiveram lugar em Reims, França (2018), Budapeste outra vez (2019), Gliwice, Polónia (2021), Nuremberga, Alemanha (2022) e Bangkok, Tailândia (2023). A modalidade está apontada para se tornar olímpica a partir dos Jogos de 2028. Os atuais campeões do mundo são, na verdade, bastante heterogéneos. Adrian Duszak, da Polónia, é o campeão de singles masculinos; Rafaella Fontes, do Brasil, é campeã de singles femininos; na dupla masculina temos como campeões mundiais Csaba Banyik e Balazs Katz, da Hungria; na dupla feminina, Suphawadi Wongkhamchan e Jutatip Kuntatong, da Tailândia; finalmente na dupla mista, uma equipa de tailandeses: Phakpong Dejaroen e Suphawadi Wongkhamchan. Tudo muito democraticamente dividido no desporto da mesa curva…