Dakar 2024. A grande aventura vai começar

Os protótipos do deserto estão de volta à maior corrida do mundo. Um bom Dakar é um Dakar difícil para pilotos e máquinas, é isso que se espera este ano

Há 45 anos uns loucos saíram de Paris com destino a Dakar, capital do Senegal, mas decidiram fazê-lo atravessando dunas gigantescas e a África negra. O Dakar atual é muito diferente, mas o espírito e a magia da prova não desapareceram completamente. Desde 1979 que homens e mulheres optam por começar o ano a milhares de quilómetros de casa para sentir o “perfume” do deserto, primeiro da África Ocidental, agora do Médio Oriente.

A prova organizada pela Amaury Sport Organisation (ASO) tem início dia 5 de janeiro, com centenas de pilotos de automóveis, motos e camiões a lançarem-se a toda a velocidade pelas dunas do deserto arábico, uma aventura que só termina dia 19 depois de percorridos quase oito mil quilómetros, 4.727 quilómetros dos quais são cronometrados, com passagem por oito cidades sauditas e três locais considerados património da UNESCO (AlUla, Hegra e Yanbu). “Num território tão vasto como é a Arábia Saudita é fácil encontrar pistas diferentes, pelo que grande parte do percurso é novo, ficaram apenas algumas partes de etapas anteriores”, referiu Pedro Almeida, diretor da maior corrida do mundo, que reconheceu tratar-se de uma “organização com grande dimensão e supercompetente. Muitas das pessoas que estão envolvidas com o Dakar estarão depois na estrada a organizar a Volta à França em bicicleta, uma vez que a organização é a mesma”. A ASO coloca 500 pessoas no terreno que trabalham em áreas tão diferentes como a logística, direção desportiva, segurança, assistência médica e restauração. 

Deserto assustador O percurso inclui a passagem por alguns locais impressionantes e quase intransponíveis da Arábia Saudita, como é o Empty Quarter. “É um deserto profundo, com dunas impressionantes, onde praticamente não há vida”, disse-nos Pedro Almeida. A edição deste ano apresenta uma novidade: “Os concorrentes vão fazer uma etapa maratona inédita, totalmente disputada nas dunas, com 584 quilómetros. A etapa decorre ao longo de 48 horas, não há assistência, mas os pilotos podem ajudar-se entre si, e, no final do dia, pernoitam numa tenda montada no meio das dunas, dormem em sacos-cama, não há casas de banho e recebem apenas água e uma ração militar. É o regresso ao espírito do antigo Dakar”, recordou Pedro Almeida. A passagem pelo Empty Quarter pode ser determinante para encontrar o vencedor do rali “a etapa tem sete setores seletivos e fecha às 16 horas, ou seja, quem chegar a um controlo horário depois dessa hora é obrigado a parar no bivouac seguinte por uma questão de segurança. Os pilotos retomam a prova às 7h00 dia seguinte para completar o que resta da etapa”, disse o diretor de prova, que explicou o motivo dessa breakzone “às 17 horas é de noite e é um risco continuar a correr nessas condições. O Dakar é uma aventura, mas feita em segurança”. Ainda relativamente à segurança, disse “a estrutura PCO controla em tempo real a localização de todos os pilotos através de GPS. Além disso, existem 12 helicópteros ao serviço da organização e todos têm a bordo um médico para prestar os primeiros socorros em caso de acidente”.

Uma prova de 15 dias que atravessa a Arábia Saudita, desde a costa do Mar Vermelho até ao Golfo Pérsico, exige meios impressionantes “é uma estrutura extremamente profissional e competente para evitar que haja falhas”. O bivouac é um grande acampamento que muda de local diariamente, mas com a particularidade de ser sempre igual “quando chego ao novo acampamento a minha tenda é exatamente igual à que deixei antes, a única coisa que pode mudar é a paisagem à volta”, explicou. Cerca de 3.000 pessoas passam pelo bivouac que é montado numa área superior a 24 hectares, com nove zonas para os veículos de prova, seis zonas de WC, um espaço de restauração, um centro médico, um local para o briefing diário da organização, um centro de imprensa, não faltando sequer uma zona VIP e o Dakar Club, tudo isto muda todos os dias de local, exceto em duas etapas.

O Dakar é uma das competições mais duras e difíceis do mundo e consiste numa combinação entre velocidade, resistência, estratégia e trabalho de equipa. Há uma diferença do outro mundo entre as equipas de fábrica e os outros concorrentes, razão pela qual a ASO tenta reduzir essa diferença de várias formas “a organização só liberta o roadbook eletrónico em cima da hora de partida da etapa para evitar que os “mapman” trabalhem sobre imagens de satélite e descubram o traçado que é secreto”, disse-nos o responsável da prova. A etapa maratona sem assistência é outra forma de nivelar as forças em presença, mas é sempre possível contornar essa situação, como nos explicou Pedro Almeida. “As equipas oficiais inscrevem outros veículos que transportam mecânicos e material de substituição para ajudar os pilotos durante as especiais”.

A Toyota alinha com cinco Hilux EVO T1U com motor a gasolina V6 turbo (359 cv), que é uma evolução da pick up que venceu as duas últimas edições do Dakar. O line up de pilotos combina experiência com juventude. Giniel de Villiers, vendedor em 2009, é o piloto de ponta da marca japonesa. O campeão do mundo de todo-o-terreno e penta vencedor do Dakar, Nasser Al-Attiyah, vai alinhar com o BRX Hunter da Prodrive, um protótipo com motor a gasolina V6 turbo (400 cv), e tem como colega de equipa Sébastien Loeb, nove vezes campeão do mundo de ralis, os dois pilotos apontam à vitória. A aventura da Audi no Dakar termina em 2024, pois vai dedicar-se à Fórmula 1 em 2026. Stéphane Peterhansel, 14 vezes vencedor da prova, e Carlos Sainz, bicampeão mundial de ralis, vão conduzir os Audi RS Q e-tron com dois motores elétricos que geram uma potência conjunta de 600 cv. Enquanto alguns pilotos correm para vencer, outros estão na vanguarda com carros e motos que utilizam novos combustíveis. O Dakar 2024 vai ter motos elétricas e carros hibrídos e 100% a hidrogénio. Nas motos, a KTM é a principal favorita com Kevin Benavides, vencedor em 2023, e Toby Price. O campeão do mundo de todo-o-terreno Luciano Benavides é outro candidato à vitória com a Husqvarna, assim como Ricky Brabec com a Honda e os pilotos da GasGas Sam Sunderland e Daniel Sanders. Há 18 portugueses que vão participar na prova principal nas categorias Auto e Moto e cinco no Dakar Clássico.