Depois de o Vaticano ter autorizado oficialmente, a 18 de dezembro, a bênção dos casais do mesmo sexo, numa declaração de cinco páginas, o departamento da Santa Sé para salvaguardar a ortodoxia doutrinária explica que algumas conferências episcopais precisam de mais tempo para “reflexão pastoral” acerca da aprovação formal de Francisco em relação a estas bênçãos. No entanto, frisa que “não há espaço para nos distanciarmos doutrinariamente” da Declaração sobre as bênçãos ou “para a considerar herética, contrária à Tradição da Igreja ou blasfema”, como é possível ler no comunicado do Dicastério para a Doutrina da Fé, citado pela agência norte-americana Associated Press (AP).
Na declaração lê-se que “a prudência e a atenção ao contexto eclesial e à cultura local podem permitir diferentes métodos de aplicação” da nova regra das bênçãos e que não pode haver “uma negação total ou definitiva deste caminho que foi anunciado aos sacerdotes”. Nas situações em que “existem leis que condenam com prisão e, nalguns casos, com tortura e até a morte o mero ato de alguém se declarar homossexual, é evidente que uma bênção seria imprudente”, na medida em que “os bispos não desejam expor os homossexuais à violência”.
Porém, é indicado que é “fundamental” que as conferências episcopais “não apoiem uma doutrina diferente da declaração assinada pelo Papa”. No entanto, as Conferências dos Bispos da Zâmbia e do Malawi – onde o sexo homossexual é punível com uma pena que pode ir dos 15 anos à prisão perpétua e onde há 14 anos de prisão para estas relações, com a opção de castigos corporais, respetivamente – já se vieram manifestar contra esta declaração.
Em dezembro, quando o Papa Francisco aprovou estas bênçãos, no documento emitido pelo escritório doutrinário do Vaticano era possível ler que as mesmas não serão uma forma para “legitimar situações irregulares”, mas sim um sinal de que “Deus a todos acolhe”.