Já entrámos no novo ano! Para trás ficaram as lembranças, umas boas outras más, mas as muitas interrogações quanto àquilo que aí vem acompanham-nos, quer queiramos quer não. E neste momento temos razões suficientes para estarmos inquietos e apreensivos. Com duas guerras em pano de fundo de consequências imprevisíveis, e sem se saber como ficará o país após as eleições antecipadas que se avizinham, o panorama, à partida, não é dos mais animadores.
Os conflitos entre povos são o reflexo de intransigências e da dureza de coração dos homens que, através da força, tentam impor a sua lei, não olhando a meios para atingir os fins.
Vimos isso na guerra da Ucrânia, ao ser invadida pela Rússia, e mais recentemente entre palestinianos e israelitas. As imagens que num e noutro caso nos vão chegando são de tal maneira chocantes que não haverá ninguém que não diga imediatamente: «Basta!». E agora, com o ano a começar, o que se deseja em primeiro lugar é o fim dos horrores que esses conflitos desencadeiam para que urgentemente regresse a paz de que tanto precisamos.
Como – graças a Deus! – nem fazemos uma pequena ideia do que será viver debaixo de um pesadelo daqueles, vamos olhando para a nossa ‘faixa territorial’ aguardando com expectativa o que nos espera depois de março. Neste contexto, toda a gente aposta num Governo forte, coeso, gerador de estabilidade, que restitua a confiança aos cidadãos e que ponha fim às más recordações de um passado recente, que culminaram com a decisão (a meu ver correta) do nosso Presidente ao dissolver a Assembleia da República.
No meu ramo profissional, aguardo com algumas reservas a evolução dos acontecimentos que nestes últimos tempos têm posto frente a frente Governo e sindicatos. O setor médico foi ficando para trás em termos de reestruturação e assim se tem mantido no mesmo patamar, apesar de se reconhecer que sem médicos não há SNS. O resultado está à vista: urgências a fechar, hospitais sem dar resposta, centros de saúde muito aquém das necessidades e cada vez mais portugueses sem médico de família.
Convém ter presente que a especialidade de Medicina Familiar tornou-se pouco atrativa, não só por ser mal remunerada como também pela desastrosa burocracia que a foi minando e desviando da sua verdadeira missão. O número de médicos de família que se vão formando é sempre insuficiente para responder às necessidades da população, pelo que muitas vagas postas a concurso nesta especialidade ficam por preencher.
E como quem não tem médico de família não dispõe de outros recursos, fica simplesmente sem assistência médica, o que é inaceitável e deveras preocupante.
E o que dizer da crise da habitação que está a afetar em especial os jovens, muito particularmente os que querem constituir família? Será razoável que um jovem casal habituado ao pagamento mensal de cerca de seiscentos euros pela compra de casa se veja, de repente, obrigado a pagar mais de mil? Perguntava-me há tempo um jovem: «Como será possível viver em Portugal?». De facto, com salários tão baixos como os nossos – que mal chegam para as necessidades básicas do dia-a-dia –, não sei sinceramente para onde estamos a caminhar. Num país com tão baixa natalidade, fará sentido ‘castigar’ os jovens desta maneira, convidando-os a procurar lá fora aquilo que cá dentro lhes negamos? Que país estamos nós a construir? Um país sem jovens não tem futuro!
O que nos espera, pois, em 2024? Ninguém sabe. Mas também não devemos andar obcecados com as incertezas do futuro. O importante é que cada um cumpra a sua obrigação e mantenha o sentido cívico da solidariedade. Vamos lutar por um mundo novo sem nunca perder a esperança de um amanhã melhor.
Para todos os leitores aqui fica o meu abraço e os desejos de que 2024 vos traga aquilo de que ardentemente mais precisamos: a paz.