Arnaldo Trindade. O Fundador da Orfeu

1934-2024 – O histórico editor de música

Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Fausto, Sérgio Godinho e José Mário Branco. Mais tarde, José Cid, Carlos Mendes, Tonicha, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Conjunto António Mafra, Maria da Fé e, na área da Poesia, ‘diseurs’ como Mário Viegas e Eunice Muñoz. Estes são apenas alguns dos nomes que fazem parte do catálogo da editora Orfeu, nascida nos anos 50 e que revolucionou o mercado discográfico português. O seu fundador, Arnaldo Trindade, morreu aos 89 anos, anunciou na segunda-feira a família nas redes sociais, sem adiantar mais pormenores.

«Só não gravei todos porque não tinha possibilidade de o fazer, não tinha espaço nem técnicos, apesar de termos estúdios com uma boa qualidade técnica e uma boa apresentação dos discos, o que explica o sucesso do nosso trabalho», explicou em 2020 numa entrevista ao jornal i, depois de elogiado por ter gravado os maiores da época. «Fomos os primeiros a apresentar discos com capas de pintores da nossa escola de Belas Artes, como o Fernando Alves… A Orfeu não foi só uma editora de discos, também havia muita qualidade na apresentação, design e fotografia. Quando começámos a gravar, enquanto os nossos colegas ainda estavam virados para os discos de 78 rotações, nós estávamos a trabalhar com os discos de vinil. Nós editávamos 20 LP’s por semana, os nossos principais concorrentes faziam um LP de três em três meses ou de quatro em quatro. Em pouco tempo atingimos os 2 mil discos gravados», lembrou.

Nasceu no Porto, em 21 de setembro de 1934, «no seio de uma família da burguesia comercial», tendo frequentado o Liceu Alexandre Herculano, na cidade onde nasceu, tal como conta na sua biografia publicada no livro de poesia Jogos de Xadrez e da Vida, em 2013. Após a morte do seu pai, com 19 anos, «optou por seguir a tradição familiar em detrimento da manutenção dos seus estudos académicos». Viajou depois por países como Inglaterra, França e EUA e foi nessa altura que perceber a «necessidade de evolução» do Portugal da ditadura do Estado Novo. Ao regressar, ligou-se à vida cultural portuense e mudou o país, «ignorando» os perigos da PIDE e sem nunca perguntar a um artista se era de esquerda ou de direita.