O jovem turco

Pedro Nuno Santos: como apresentar aos eleitores uma agenda reformista nas áreas em que os eleitores reclamam respostas diferentes?

Pedro Nuno Santos tem dois meses para convencer os Portugueses que é o homem certo para governar o país e que, na comparação com Luís Montenegro, ganha em credibilidade e na substância das suas propostas. À partida, dir-se-á que a sua posição não está facilitada, nem pela dinâmica temporal nem pelas circunstâncias. Vejamos: o PS está há 8 anos no Governo. É muito tempo. As políticas públicas deveriam ter sido intervencionadas de modo a criar melhores níveis de satisfação na sociedade portuguesa. Não foram e o que foi feito ficou aquém de um país que continua desamparado, asfixiado pelos impostos, desvalido com os jovens que partem. Há uns anos, entrevistei o falecido médico João Lobo Antunes e perguntei-lhe: «Como é que sentia o país?». Ele respondeu: «Sinto um país triste?». Talvez hoje, dissesse o mesmo.   

Olhando para estes 8 anos, o PS justificou a governação com a reversão das medidas de austeridade herdadas do governo de Passos Coelho. A este argumento, os socialistas acrescentaram – coincidência – as contas certas, com Fernando Medina a sublinhar a colocação da dívida pública abaixo dos 100 por cento.

Quanto às circunstâncias em que Pedro Nuno Santos chega à liderança do PS, elas decorrem da queda do Governo, da demissão de António Costa, da marcação de eleições antecipadas afastada que foi a hipótese de Mário Centeno assumir a chefia do Executivo, na sequência das investigações do Ministério Público, visando diretamente o primeiro-ministro.

Neste contexto, as perguntas são óbvias: irá o Partido Socialista ser penalizado nas urnas por uma investigação judicial, mesmo envolvendo o chefe do Governo no crime de prevaricação? Não creio. O facto de António Costa não ter ainda sido chamado ao Supremo Tribunal de Justiça e de não perder uma oportunidade para lembrar que o seu Governo caiu por causa de um parágrafo de um comunicado da Procuradoria-Geral da República permite ao próprio vitimizar-se e municiar os dirigentes do PS com uma narrativa que foi evidente no primeiro dos dois dias do Congresso do PS.

No passado sábado, as intervenções dos principais protagonistas do PS foram marcadas pela alusão ao «diabo». Na realidade, não foi apenas um, mas três. Escutamos durante horas a referência ao «diabo» da direita, do Ministério Público e do Presidente que dirigentes como Carlos César, Augusto Santos Silva e Manuel Alegre, entre outros, responsabilizam pela queda do Governo. Ficou claro que esta mensagem irá estar presente na campanha eleitoral, assim como ficou evidente a agenda programática com que Pedro Nuno Santos se apresenta ao eleitorado. Tendo sido ele ministro nestes anos de governação socialista, a sua situação remete para um equilíbrio difícil: como fazer diferente numa linha de continuidade que decorre do seu passado, das suas responsabilidades como membro do governo?  A filosofia encontrou uma designação para as ruturas e mudanças súbitas que acontecem ao longo do processo de evolução do conhecimento – ‘corte epistemológico’. Na incumbência eleitoral do PS, esta questão poderá colocar-se do seguinte modo: Como mudar na continuidade? Como apresentar aos eleitores uma agenda reformista distinta nas áreas em que os eleitores reclamam respostas diferentes quando Pedro Nuno Santos foi um dos mais destacados ministros do Governo de António Costa com as pastas das Infraestruturas e da Habitação? Talvez seja esse o seu principal desafio e será, por certo, a principal arma dos seus opositores.     
        

Jornalista