«Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Tudo o resto é propaganda», diz a velha máxima. Mas não diz a esmagadora maioria do jornalismo português – salvo honrosas exceções – que vai para a mesa com o poder económico e mete-se na cama com políticos. Há um problema na Global Media e uma crise no jornalismo nacional? O que há ou tem de haver é um momento de verdade. Sobram razões para que muitos cidadãos se recusem a pagar por notícias (como as plataformas que as oferecem de borla, claro). Mas a principal é a essência do próprio jornalismo: se tantos órgãos de comunicação social abdicaram do seu papel maior de incomodar, de escrutinar, de investigar, se passaram a café sem cafeína, se prescindiram do seu próprio princípio ativo, é só normal que percam clientes. Quando passa a ser prática diária apresentar marketing como se fosse notícias, quando é o pão nosso de cada dia jornalistas com lugar nos conselhos de administração, quando é comum políticos contratarem grupos de comunicação social para autopromoção, estavam à espera de quê? Do paraíso? Do Nirvana?
Jornalismo mercantilista, sem ética e sempre a enganar o destinatário não pode sobreviver. Aliás, esse jornalismo deve mesmo morrer, depressa e definitivamente até porque a comunicação social independente e livre é essencial à democracia. Morra o jornalixo, desapareçam com jornaleiros e pés de microfone, tragam os whatchdogs, os assanges, os intrépidos. Esse autêntico jornalismo é pago, patrocinado, sustentado pelos seus leitores/ouvintes/espectadores. Nem doutra forma poderá ser. Quando se escuta, por estes dias, que «a bem de um jornalismo independente, o Estado tem de intervir» estamos perante a perversão máxima. Quando o Estado financia o jornalismo (como durante a covid), o resultado é o tal esvaziamento da sua função nervo e nobre. Ademais, a que propósito é que o Estado deveria intervir? Para que o dinheiro dos contribuintes bancasse projetos de propaganda? Para que os diretores continuassem bem montados nos seus popós? Mas o Estado agora tem de salvar todas as empresas que dão pesado prejuízo? Também vai resgatar a Farfetch, o Bota Alta e a Academia dos Amadores de Música? E a lavandaria do meu bairro que fechou esta semana? Ou os jornalistas devem usufruir de um estatuto de trabalhadores superior aos empregados fabris, médicos ou lojistas? Bom, se os jornalistas fossem sempre tão combativos quando outras empresas vão ao charco, o país estava bem melhor…
Também aqui temos visto apenas uma reação corporativa na qual o quarto poder usa os seus dotes e dons para se proteger a si mesmo e não para defender a sociedade, a justiça e a verdade. Não admira. Afinal, também nunca se interrogaram (embora sejam jornalistas!) donde é que vinha o dinheiro para sustentar equipas gigantes a parirem números miseráveis de leitores ou ouvintes. Mas devem ter mantido sempre o ‘livro de estilo’ como manual de cabeceira. Citando Almada Negreiros: «Portugal com todos esses senhores, conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Há-de abrir os olhos um dia e então gritará comigo, a necessidade que Portugal tem se ser qualquer coisa de asseado! Morra o Dantas, Morra! Pim!».