Muitas vezes quando famílias com crianças se encontram há alguém que pergunta: “Os vossos filhos dão-se bem? Não brigam? Meu Deus, os nossos passam a vida a brigar!”.
O desejo romântico e otimista da maioria dos pais é o de que os filhos sejam como um grupo de melhores amigos, que se relacionam lindamente, que se ajudam e brincam imenso sem nunca se zangarem. Há pais que vivem toda a infância e juventude dos filhos na expectativa de que esse dia chegue. O que seria fantástico e pouparia muitas dores de cabeça. Mas às vezes, mesmo quando parece estar a correr tudo bem, acordam do sonho com um: “Ele tocou-me. Ela olhou para mim!” que desencadeia uma briga desenfreada, incontrolável e interminável.
Todos sabemos que as crianças não só criam facilmente conflitos, porque ainda não têm maturidade para pensar e gerir as situações de outra forma, como, pela mesma razão, têm dificuldade em resolver e terminar esses mesmos conflitos. Ainda assim, esperamos sempre que ajam de maneira diferente.
Ao mesmo tempo há várias razões para que nem sempre os irmãos sejam os melhores amigos. Por exemplo:
Os amigos escolhem-se de acordo com as características e afinidades, enquanto os irmãos podem ter personalidades absolutamente incompatíveis;
Ao contrário do que acontece com os amigos, os irmãos são obrigados a uma partilha forçada, ainda por cima do que têm de mais precioso: os pais, o espaço, o tempo e às vezes até o quarto e os brinquedos. Convenhamos, pode não ser fácil;
E ainda, a convivência é constante e obrigatória, mesmo quando têm vontade de estar sozinhos ou só com os pais. Acordam e eles estão lá, almoçam e lá estão eles, vão de férias e… quem é que está ali outra vez?
Tudo isto leva a que os irmãos tenham tendência para competir, entrando em comparações de quem é o melhor aluno, o melhor desportista, quem é o mais simpático, o mais amado, chegando até a disputar quem teve o maior acidente ou ferimento, ou seja, quem mais precisa da atenção e compaixão dos pais. É muito importante ganhar o primeiro lugar e assim, na sua cabeça, ser o preferido. Entre amigos a competição não se dá da mesma forma, até porque não há júri, nem rivalidade, pelo menos tão significativa.
Embora seja difícil, os pais devem intervir o menos possível nos conflitos dos filhos e evitar tomar partidos, que não só irão empolar a disputa e sentimento de ciúme e injustiça, como levarão a que o mais protegido seja ainda mais atacado. Quando intervierem é importante sobretudo ouvir todos e ajudar a clarificar e a orientar, em vez de tomar decisões. Com o tempo, serão eles a encontrar as suas próprias soluções, o que os fará também ganhar e desenvolver estratégias para os seus relacionamentos futuros.
Na verdade, o relacionamento entre irmãos pode ser um laboratório de experiências sociais eficaz e seguro. Ali podem aprender a lidar com uma série de comportamentos e sentimentos de forma controlada, sem se exporem a grandes perigos. Salvo casos excecionais, ninguém se magoa (pelo menos de forma considerável) e os pais estão sempre por perto. É uma forma de experimentar papéis, de testar limites, de aprender a atacar e a defender, a argumentar, a situarem-se em relação aos outros, tudo de uma forma relativamente controlada.
Quando crescerem, se tudo correr bem, podem vir a ser os amigos que os pais sempre desejaram. Porque já não estão na disputa da sua atenção e amor, da partilha da casa ou dos papéis que sentiam que tinham de desempenhar perante a família. Nessa altura os conflitos diminuem e a amizade e companheirismo aumentam. As brigas são um mal necessário? Talvez não, mas também nem sempre são necessariamente um mal.
Brigas entre irmãos: um mal necessário?
Embora seja difícil, os pais devem intervir o menos possível nos conflitos dos filhos e evitar tomar partidos