Uma estudante embateu, na passada quinta-feira, contra um porta de viro, acabando por morrer a caminho do hospital, levando a escola a suspender as aulas no dia seguinte. O estabelecimento de ensino deu o alerta pelas 13h48 e os bombeiros demoraram poucos minutos a chegar ao local. A jovem já se encontrava em paragem cardiorrespiratória e com ferimentos graves no tórax. O óbito acabou por ser declarado já no hospital de Seia. A Polícia Judiciária (PJ) encontra-se a apurar as circunstâncias do incidente e, até ao momento, ainda não se sabe se a jovem foi contra a porta de vidro por acidente ou se terá sido empurrada. Devido a esta tragédia, a Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes (ANFAJE) “alerta que é imperativo saber escolher os vidros das janelas e portas eficientes de acordo com as suas características e funcionalidades”.
“O acidente fatal, em Seia, podia ter sido evitado, segundo a ANFAJE – Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes. Ao contrário das palavras do Senhor Ministro da Educação, a escolha adequada do tipo de vidro pode proteger-nos de quebras acidentais provocadas por embates e salvar vidas! Para tal, a ANFAJE alerta as entidades competentes, os profissionais e os clientes particulares, para a importância de uma escolha ponderada e correta do tipo de vidro para uma janela ou porta eficiente, de acordo não apenas com o seu desempenho energético, mas também de acordo com a sua funcionalidade e segurança”, explica em comunicado enviado ao Nascer do SOL e ao i. “O conselho da ANFAJE é, atualmente, ainda mais relevante já que Portugal tem de aproveitar correta e eficazmente os recursos financeiros, disponibilizados pelo PRR, para a reabilitação do parque escolar português”.
“Lamentavelmente, no passado dia 11 de janeiro, o embate contra a porta de uma escola, em Seia, foi fatal para uma jovem de 16 anos e esta tragédia podia ser evitada! A escolha adequada do tipo de vidro para uma janela ou porta eficiente tem aqui um papel extremamente importante, pois os vidros não são todos iguais e não serve um vidro qualquer. Aquando da construção ou reabilitação de habitações e edifícios (acrescendo a sua importância em edifícios ou espaços públicos), é necessário escolher cautelosamente o tipo de vidro mais adequado em função da sua exposição, funcionalidade e segurança, de acordo com o vasto leque de soluções disponíveis no mercado”, esclarece, sendo que esta escolha é exigida pelo ITE 52, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, “documento que apresenta a metodologia de dimensionamento mecânico da caixilharia exterior, tendo por base o Regulamento de Segurança, sintetizando os aspetos de segurança que os vidros devem satisfazer, tendo em conta as normas europeias”.
“O tipo de vidro correto deve ser empregue como medida preventiva em muitas aplicações, desde logo em zonas de frequente circulação de pessoas, como o caso de uma porta de acesso ao exterior numa escola” e, por estes motivos, “a ANFAJE reage às palavras do Ministro da Educação, o qual terá, segundo a comunicação social, afirmado que a tragédia, em Seia,’poderia ter acontecido em qualquer lugar onde haja vidro’”, acreditando que “estas declarações, revelam uma falta de conhecimento técnico e legal e uma grave falta de ponderação nas suas palavras”. “O perigo não está no vidro, mas sim na sua má escolha e aplicação! Ao contrário do que afirmou o Senhor Ministro da Educação, o acidente foi fatal devido às condições específicas e às evidentes necessidades de reabilitação da escola de Seia”.
Recorde-se que o ministro da educação rejeitou, esta sexta-feira, qualquer relação entre a morte da aluna na Escola Secundária de Seia e as condições do estabelecimento. “Nós estamos a falar de um acidente que poderia ter acontecido, infelizmente, em qualquer escola ou em qualquer lugar onde haja vidro. Acho que qualquer associação entre a tragédia e as diferentes condições que as escolas têm é de mau gosto”, afirmou João Costa, na Covilhã. O ministro da Educação, que enviou condolências à família, revelou igualmente que estava em contacto com a diretora da escola e classificou a situação como “trágica e lamentável”, mas sublinhou que o incidente não está relacionado com “as condições específicas da escola. “As autoridades estão a investigar. O conhecimento que tenho é que foi um acidente”, acrescentou João Costa.
“Os vidros apresentam uma dupla função. Por um lado, são transparentes para permitir ver e apreciar o exterior, disfrutando o máximo possível da luz natural, por outro, permitem isolar-nos e proteger-nos no interior dos edifícios, ao nível térmico, acústico, contra intrusões ou acidentes. O tipo de vidro certo pode proteger-nos das consequências (que podem ser fatais, como no acidente de Seia) de quebras acidentais causadas por embates, sem pôr em causa a eficiência energética da janela ou porta”, diz a ANFAJE, adiantando que “no que diz respeito à proteção e segurança, existem dois tipos de vidros adequados: os vidros temperados e/ou laminados”, sendo que “os vidros temperados são vidros que, no caso de quebra, se desfazem em múltiplos fragmentos de tamanho mínimo e de bordos não afiados, eliminando o risco de ferimentos graves no caso de algum acidente, como o que infelizmente aconteceu na semana passada” e “os vidros laminados – 2 vidros ‘colados’ com uma pelicula transparente no meio – que, em caso de pancada e quebra, permitem reter os pedaços ou fragmentos de vidro, eliminando também neste caso o risco de ferimentos graves”.
“Tal como tem vindo a defender nos últimos tempos, na opinião da ANFAJE, Portugal tem de saber aproveitar e aplicar correta e eficazmente os recursos financeiros disponíveis no Plano de Recuperação e Resiliência (em montantes nunca vistos) para reabilitar o seu parque edificado (edifícios, estabelecimentos de ensino, unidades de saúde, etc.), melhorando a sua eficiência energética, mas também a qualidade da construção, as condições de habitabilidade e segurança dos edifícios”, conclui.
Importa dizer que o resultado da autópsia realizada no último sábado, na Guarda, confirmou que a morte da aluna de Seia foi acidental. Segundo o relatório, as perfurações no pulmão e as hemorragias internas foram determinantes na situação clínica que levou à morte da jovem de 16 anos. De acordo com o relatório, a causa da tragédia foi um pedaço comum e pontiagudo de vidro. Acredita-se que a aluna tenha batido com a mão direita na porta de vidro e alumínio, resultando na projeção do corpo para a frente. As aulas foram retomadas na segunda-feira na escola, que há muito tempo solicita obras substanciais. Há 15 anos, a escola estava incluída no plano de parceria público-privada da Parque Escolar, mas a execução foi interrompida pela troika. Mesmo com um projeto subsequente de 200 mil euros para canalizações, as melhorias no edifício não foram realizadas.
Em 2022, a autarquia de Seia fez uma nova candidatura, mas a falta de aprovação do Tribunal de Contas impediu a continuidade do processo. O autarca de Seia, Luciano Ribeiro, expressou frustração com a demora burocrática, destacando a dificuldade em transformar a identificação da necessidade em ações concretas. O Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) emitiu um comunicado relacionando a morte da aluna com o estado negligenciado da escola. O professor da vítima e presidente do Conselho de Educação, Alberto Reis, expressou o desejo por melhores condições para desenvolver as atividades educacionais.