Caros leitores,
Antes de mais, espero que tenham passado umas excelentes Festas e que o Novo Ano vos sorria a todos. Para os que seguem mais atentamente esta minha série de artigos, peço desculpa não ter escrito na semana passada, mas alguns compromissos pessoais impediram-me de ter o tempo e a inspiração para escrever.
Para quem tem estado atento/a aos acontecimentos, realmente não tem faltado atividade militar e política no Médio Oriente nas últimas três semanas. Dezenas de comandantes, sargentos e figuras políticas do Hamas, Jihad Islâmico Palestiniano e Hezbollah têm sido feito vítimas dos ataques aéreos (e esporádicas invasões à mão armada nos seus bunkers) das forças armadas israelitas, depois da bonita salgalhada que aqui armaram. Ainda aparentemente longe de chegar a Yahya Sinwar, Mohammed Deif ou Marwan Issa, as maiores figuras do terrorismo em Gaza de momento, ou de chegar a um acordo para a libertação dos ainda mais de 100 reféns com vida (mais umas dezenas de corpos de reféns ou soldados previamente assassinados), tem havido um paulatino retirar de tropas de reservas de Gaza, o qual marca a entrada naquela que se vai apelidando de ‘terceira fase da guerra’ (pelo menos na região Norte de Gaza). Espera-se agora que os ataques sejam mais direcionados e precisos nas zonas onde a abundância de resistência terrorista é menor, de modo a ir concluindo a destruição das estruturas de ataque e de governação do Hamas, e permitir aos residentes do Norte de Gaza de voltar aos seus campos e às suas casas (as que restam).
Em Gaza continuam-se a encontrar provas evidentes do uso de espaços públicos – escolas e jardins de infância, hospitais, universidades, armazéns das Nações Unidas – e de apartamentos privados de famílias locais para fins de ataque militar e de armazenamento de mísseis e armas de fogo, assim como acessos aos túneis subterrâneos que vão permitindo aos militares manterem-se vivos, enquanto civis não militantes por vezes não têm por onde fugir. À medida que o avanço militar israelita vai acontecendo, vão-se descobrindo mais documentos com informações sobre o paradeiro (temporário) dos reféns, assim como milhões de dólares fruto do tráfico de armas (enquanto mais de metade da população vive em pobreza extrema). A nível informático, tem havido um esforço conjunto com os Estados Unidos para interromper o fluxo financeiro direcionado para o empoderamento militar do Hamas, tendo já sido descoberta uma ligação entre Hamas, o Iraque, o Al Qaeda e uma investidora imobiliária no Sudão. Escusado será dizer que o Irão e todos os proxies (Hezbollah, Houthis e companhia) também partilham destes fundos e de modus operandis no que à sua atividade militar se refere.
Vão-se entrevistando mais e mais reféns que já foram libertados a descrever os horrores do dia 7 de Outubro e do que passaram enquanto em cativeiro, particularmente mulheres que contam a testemunha de violações sexuais a outras mulheres (que ainda se encontram nos túneis de Gaza) que presenciaram. Previamente, alguns dos reféns tailandeses ou árabes descreveram como os homens iam sendo agredidos com bastões de choque e deixados com meia pita e uma lata de atum para 4 pessoas por dia. Se esta era a situação aos 50 dias em cativeiro, nem quero imaginar como estarão a ser tratadas/os agora…
A Norte de Israel, nas fronteiras com o Líbano e com a Síria, tem-se intensificado a atividade militar, mas com um foco bem maior nas estruturas militares dos dois lados. O Hezbollah tem feito várias incursões via drones e mísseis (maioria deles anti-tanque, que sobrevoam a menores altitudes e dificultam a deteção e destruição por parte dos sistemas de defesa aéreos israelitas), com particular ênfase nas bases militares e nos postos de vigilância. Já há meia dúzia de kibbutzim onde grande parte das casas sofreram estragos destes bombardeamentos e a verdade é que a data de regressar a casa, para nós e muitas mais famílias, prevê-se ainda bem longínqua. Por outro lado, os estragos às estruturas militares do Hezbollah (e os líderes da sua unidade militar elite Radwan no sul do Líbano) têm sido bem mais consideráveis e, no caso do estado libanês não conseguir apelar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para o implementar para a Resolução 1701 (o que impediria atividade e presença militar do Hezbollah a sul do rio Litani, e devolveria as forças militares libaneses a este território para assegurar a paz na região – travando assim as investidas aéreas israelitas nesta zona), pode ser que a situação se ‘tenha’ de resolver ‘a mal’.
Quem vai certamente sentindo o descontentamento da população é Netanyahu e seus compinchas da extrema-direita. Milhares de pessoas em todas as maiores cidades de Israel têm-se manifestado a pedir novas eleições num futuro breve e o destituir do primeiro-ministro e do seu governo. Mas não só nas ruas têm-se visto esta pequena ‘revolução’, com o Supremo Tribunal a anular o voto governamental do ano passado que daria permissão à coligação em poder de ‘reverter’ decisões jurídicas, assim como o prevenir Ben-Gvir de poder dar ordens policiais face aos protestos. Haja esperança!
Até à próxima.
Não tem faltado atividade militar e política no Médio Oriente
.Espera-se agora que os ataques sejam mais direcionados e precisos nas zonas onde a abundância de resistência terrorista é menor, de modo a ir concluindo a destruição das estruturas de ataque e de governação do Hamas.