A crise no Global Media Group, entidade detentora, entre outros órgãos de informação, do Jornal de Notícias, do Diário de Notícias, d’ O Jogo e da TSF, veio colocar em evidência a falta de sustentabilidade de todo um sector, um problema que não é de hoje e que tende a agravar-se.
Com claro prejuízo para a democracia, há já um deserto de notícias em vastas áreas do território nacional provocado pelo encerramento de dezenas ou até mesmo centenas de jornais regionais e locais. A extensão da crise a órgãos de maior dimensão talvez permita um sobressalto que traga nova esperança a um sector fundamental.
O modelo de negócio do jornalismo impresso assenta na venda de jornais (em banca ou por assinatura) e de espaço publicitário, sendo que esta segunda fonte de receitas está directamente dependente da primeira, porquanto será tanto mais valioso o espaço publicitário quanto maior volume de leitores tiver o órgão de informação.
Com a expansão da internet, e em particular com as redes sociais, os leitores habituaram-se a consumir informação gratuitamente. As redacções continuam a produzir notícias, alimentando a voragem capitalista de grandes grupos (Google, Facebook), mas pouco ou nada são remuneradas pelo seu trabalho, na medida em que cada vez mais escasseia quem esteja disposto a pagar pelo que pode ler de borla. A transição do papel para o digital, como tem ficado demonstrado, pouco ou nada altera, com a pirataria a grassar sem freio.
Não se vendem jornais, também não se vende publicidade. Encontrando-se os leitores nos meios digitais, é para lá, naturalmente, que os investimentos publicitários se dirigem.
No modelo de gestão actual, ainda que alguns projectos, porque alimentados artificialmente, se mostrem mais vigorosos, não existe em Portugal um único projecto sério de comunicação social financeiramente sustentável no médio ou longo prazo.
Como já se percebeu, o jornalismo deixou de ser um negócio e isso traz novos desafios, mas também oportunidades.
Na perspectiva económica, a informação jornalística tornou-se um bem público – como a iluminação das ruas ou a segurança pública, por exemplo. Ninguém quer pagar directamente por ela, mas todos querem dela usufruir e a isso acham ter absoluto direito.
Conceptualmente, como é sabido, não existem bens públicos sem intervenção do Estado, pelo que, na situação presente, exigem-se apoios públicos a quem faz jornalismo.
O jornalismo independente deveria ser apoiado, entre outras, com as seguintes medidas: apoio financeiro à criação e manutenção de postos de trabalho; programa de regularização de dívidas ao Estado com prazos mais alargados; linhas de crédito bonificadas; criação de vouchers de incentivo à leitura que permitam a todos os cidadãos adquirirem um determinado valor em produtos de imprensa; pagamento da totalidade dos custos de expedição dos jornais vendidos por assinatura; majoração em sede de IRC das despesas de publicidade em imprensa; reforço da publicidade institucional.
Convém, porém, que não se confundam apoios a órgãos de informação com apoios aos seus accionistas.
No actual contexto, não me parece que exista melhor forma de garantir a independência e sustentabilidade da produção jornalística do que a aposta em cooperativas de informação, controladas pelos jornalistas.
O apoio público deveria ter como condição fundamental a constituição de cooperativas de informação detidas maioritariamente por jornalistas.
Sendo entidades que não visam a distribuição de lucros, todos os excedentes resultantes da operação das cooperativas serão sempre reinvestidos na sua actividade, assim contribuindo para a sustentabilidade dos projectos editoriais.
A independência editorial só se consegue com independência económica e esta só pode ser preservada por financiamento transparente dos órgãos de informação.
Rui Pedro Faria
Presidente da Cooperativa Milho-Rei