De acordo com Afonso Marques, de 26 anos, este será “um ano de grandes desafios”, enquanto Pedro Eduardo Ribeiro, de 27 anos, espera “aproveitá-lo ao máximo”. Já Marlene Novais, de 21 anos, tem como objetivo encontrar o primeiro emprego e continuar a lutar pelo avô, que sofre de demência. Marta Gonçalves, de 24 anos, teme aquilo que poderá acontecer social e politicamente e Adriana Lopes Cardoso, de 23 anos, assevera que este “será um dos anos mais decisivos em termos eleitorais”. Rita da Nova, de 32 anos, reflete acerca da condição feminina e da literatura. Catarina Corujo, de 36 anos, apela à neutralidade corporal. David Silva Ramalho, de 35 anos, espera que se invista na justiça e haja uma mudança no panorama desta. Já Paulo Silva destaca a relevância da cibersegurança.
Adriana Lopes Cardoso
Mestre em ciências farmacêuticas, co-founder da academia Próxima Geração e participante do podcast ‘Lei da Paridade’ – 23 anos
O Ensino Superior, a saúde e o cenário político
2024 será um dos anos mais decisivos em termos eleitorais. Teremos 3 eleições só até meio do ano, e o meu principal receio é a falência dos partidos de centro em conseguirem manter uma alternância de poder cíclica que afaste os extremos do governo. Portugal tem carências históricas que foram agravadas nos últimos dois anos e não nos podemos dar ao luxo de cenários de ingovernabilidade e de irresponsabilidade governativa. O meu grande objetivo é conseguir não ser mais um produto da escola e universidade públicas que foi exportada para outros países europeus para ter uma vida digna, algo que não coloco de parte. Definiria este ano como decisivo. O muro que até agora impediu a extrema-direita de ter poder político em Portugal pode ruir. O SNS não pode continuar a contar com o brio, burnout e dedicação máxima dos profissionais de saúde para sobreviver. O sistema educativo está a deixar de ser fator de mobilidade social, e já não basta trabalhar para deixar de ser pobre. Não quero ser pessimista, mas temo que tudo isto possa estalar.
Rita da Nova
Escritora, uma das autoras dos podcasts ‘Terapia de Casal’ e ‘Livra-te’ – 32 anos
Ser mulher e a importância da literatura
Creio que tenho receios partilhados pela maior parte das pessoas: a crise económica e da habitação que estamos a viver, os conflitos armados que não parecem abrandar – tudo contribui para que entremos num novo ano apreensivos em relação ao mundo em geral. De um ponto de vista pessoal e profissional, o meu principal objetivo é continuar a trabalhar na minha carreira enquanto escritora. Isso envolve escrever livros, claro, mas também continuar a lutar por um mundo editorial mais inclusivo – onde, por exemplo, as mulheres possam ter mais representatividade e oportunidades. Este trabalho já está em desenvolvimento, com várias das iniciativas que o Clube das Mulheres Escritoras, do qual faço parte, está a preparar. Sinto que vai ser um ano desafiante, porque não se avizinham tempos fáceis, mas creio que será um ano mais introspetivo para toda a gente. Os anos pós-pandemia deram-nos muita vontade de voltar a fazer coisas, de “recuperar o tempo perdido” e, agora, tenho a sensação de estarmos coletivamente um pouco mais ponderados e, espero, preocupados com o estado do mundo. O principal projeto que tenho em mãos para 2024 é o lançamento do meu próximo romance.
Marlene Novais
Estudante de serviço social, escritora,palestrante e cuidadora informal – 21 anos
Ser assistente social
Um dos meus principais receios é, depois de terminar o meu curso, não conseguir arranjar trabalho na minha área. Isto acontece constantemente aos recém-formados. Se tiver de ir trabalhar para a caixa de um supermercado, vou sem problema algum. A questão é que passei quatro anos a estudar e temo não ter nenhuma oportunidade na área do Serviço Social. Também tenho medo de ‘ser forçada’ a emigrar por não ter oportunidades cá. Queria continuar em Portugal para trabalhar e iniciar o mestrado em Gerontologia Social na faculdade onde estou, mas não sei se isso será possível. Só o futuro o dirá, mas queria que todo o meu esforço desse frutos. Neste ano, também espero que não haja mudanças no que diz respeito ao reconhecimento da profissão de assistente social. A Ordem está a fazer o seu trabalho, mas, mesmo assim, ainda há muita falta de reconhecimento aos níveis institucional e da comunidade. Isto dificulta a inserção dos recém-formados no mercado de trabalho. O meu grande objetivo é acabar a licenciatura. Também quero: encontrar trabalho e voltar a meios televisivos porque faz uma grande diferença nesta área dos cuidadores informais e da demência. Espero continuar a fazer ainda mais diferença na vida do meu avô, que sofre de demência.
Marta Gonçalves
Médica interna de formação geral – 24 anos
A “incerteza que o nosso país atravessa”
Sendo que 2024 é o meu primeiro ano de trabalho, espero, sobretudo, que seja um ano de muita aprendizagem e realização profissional! Por outro lado, espero que seja também um ano em que consiga realizar alguns dos desejos e objetivos pessoais! Acho que o meu maior receio é mesmo a incerteza que o nosso país atravessa, quer seja a nível de trabalho, habitação ou custo de vida. Relativamente à leitura, pois sou uma leitora assídua e tenho um bookstagram, sem dúvida que a palavra que melhor definiria seria liberdade: eu e o meu livro, eu e aquela história, eu e aquelas personagens, nada mais importa naquele momento. O bookstagram para mim é partilha e amizade. Não tenho dúvida alguma que o bookstagram me deu muito mais do aquilo que eu lhe dei, as pessoas que eu conheci são o melhor de tudo e foi, sem dúvida, uma das melhores decisões que tomei em integrar-me nesta comunidade.
Afonso Marques
Estudante de doutoramento/bolseiro de investigação na área da física – 26 anos
A urgência de “objetivos claros de financiamento para a Ciência”
Considero que 2024 vai ser um ano de grandes desafios. Um dos meus receios para 2024 é que não seja possível constituir um governo estável sem o apoio dos partidos extremistas e populistas de esquerda e direita. Outro dos meus receios é que esta instabilidade política se reflita numa gestão ineficaz e diminuída dos apoios europeus para o desenvolvimento. Deve ser feito um esforço entre os partidos para a aplicação célere destes programas de financiamento. Receio, ainda, que a Ciência seja deixada uma vez mais para trás. O investimento em Ciência e no desenvolvimento de Tecnologia é uma questão muito pertinente e que nos separa de outros países mais desenvolvidos. Devem ser consertados esforços para a valorização da profissão de investigador, de bolseiro de investigação, dos auxiliares de laboratório, entre outros. Porque razão um Bolseiro de Investigação é deixado no limbo relativamente ao acesso a descontos para IRS ou para a Segurança Social? Ainda, deverá ser feito um plano plurianual (e que não dependa de orçamentos de estado) com objetivos claros de financiamento para a Ciência. Os investidores precisam de saber com o que contar e que as regras não mudem de ano para ano ou de legislatura em legislatura.
Pedro Eduardo Ribeiro
Estudante de doutoramento/bolseiro de investigação na área das ciências da comunicação – 27 anos
No doutoramento “de corpo e alma”
Em relação a 2024, os principais receios residem em algo acontecer politicamente e ficar sem bolsa de doutoramento, com ela suspensa ou reduzida. Não sei bem o que esperar em termos de estabilidade política, que, depois, se pode traduzir a outros níveis, como na Ciência ou nas perspetivas para o futuro. Nem que a gente venha a não trabalhar na área. Toda a gente tem o direito a, e o dever de ser paga e decentemente paga. Ainda mais, naquilo em que é especializada. Em resumo, ficar sem rendimentos e, no futuro, não ter rendimentos decentes. Haja saúde. Dispenso fazer previsões relativamente ao ano, mas espero aproveitá-lo ao máximo. Para trabalhar o mais que puder e, simultaneamente, para me permitir algum relaxamento e algum contentamento. Há que buscar, sempre que possível, o nosso próprio equilíbrio. Num mundo como este, tão estimulado, não é tarefa fácil. Será um ano de desafios. Mais um. Projetos em que estarei envolvido? O meu projeto de doutoramento. De corpo e alma. Que vai seguindo e que ambiciona estudar como as revistas de estilo de vida trabalham a linguagem e potenciam certos fenómenos, como a objetificação do corpo.
Catarina Corujo
Coach de empoderamento feminino e autora do livro ‘Bem me quero’ – 36 anos
A desinformação e a neutralidade corporal
O meu principal receio é que a desinformação nos leve a uma sociedade sem empatia e responsabilidade emocional. Principalmente na minha área de atuação, existe muita desinformação sobre a obesidade que leva ao estigma de peso. Os meus grandes objetivos são não deixar de cuidar da minha saúde mental, estar mais presente, continuar a desfrutar cada vez mais deste veículo que é o meu corpo e trazer ao mundo ainda mais conteúdo sobre neutralidade corporal e quem sabe iniciar o meu negócio. Sinto que vai ser um ano incrível de descobertas, de contínua desmistificação do que é um corpo e uma mente em equilíbrio. Não posso partilhar ainda, mas está muita coisa no forno para ajudar cada vez mais mulheres a sentirem-se em paz com o seu corpo. Não se esqueçam de comprar o meu livro se estão numa busca pela paz interior em qualquer tipo de corpo, é um ótimo começo!
David Silva Ramalho
Advogado na Morais Leitão e assistente convidado na FDUL – 35 anos
A necessidade de mudança na justiça
É difícil ser otimista quanto ao que 2024 terá para nos trazer. Com o crescente clamor público por mão pesada do Estado no combate à criminalidade e até às contraordenações em setores regulados, como se daí resultasse – e comprovadamente não resulta – uma diminuição da prática de ilícitos, e o aparente crescimento de uma linha política que dá acolhimento a esta tendência, é possível antecipar um aumento de iniciativas legislativas, e mesmo de posturas judiciárias, de pendor securitário, que não é desejável nem eficaz.
Os anos recentes têm demonstrado que a Justiça Penal se foca cada vez mais na fase de inquérito, com grandes operações de nomes pomposos, com detenções e medidas de coação gravosas, com demissões e perdas de cargos, muitas vezes desacompanhadas de desenvolvimentos e resultados nos anos seguintes, sempre com grande impacto na comunicação social e à custa da reputação e da carreira dos visados, que, para além de serem sempre presumíveis inocentes (que é quanto baste ou deveria bastar), não raras vezes são mesmo inocentes, embora no final de contas, com o passar do tempo e das notícias, a presunção desapareça e a inocência também, pelo menos aos olhos do público.
Paulo Silva
Engenheiro informático que trabalha como ‘Cyber Security Analyst’ na Alemanha – 34 anos
A importância da cibersegurança
Para 2024 o principal receio é o agravar da instabilidade das guerras/conflitos que decorrem. A incerteza desses acontecimentos penso que irá marcar o ano. Guerras, alterações climáticas e fluxo migratório… São vários os “pontos quentes” a nível mundial que a qualquer momento podem gerar problemas gravíssimos. Em Portugal, devido às eleições, à situação financeira e aos problemas gravíssimos em diversas áreas importantes, são vários os setores que necessitam de reformas urgentes.
Acredito que será um ano muito exigente pessoal e profissionalmente. A continuação da evolução será um grande objetivo para 2024. Atualmente trabalho numa equipa denominada de “Blue Team” que tenta diariamente proteger os nossos clientes de ataques informáticos. Devido à transição digital, à pandemia e às guerras, a área da Segurança Informática cresceu muito. Estes acontecimentos levaram a um aumento significativo de ataques informáticos de elevada importância em setores críticos. Por esses motivos a procura por serviços e profissionais nesta área é elevada e assim irá continuar durante 2024. É uma área de extrema importância a nível mundial.
Andreína Nunes
Psicóloga Clínica – 27 anos
O lugar de destaque da saúde mental
“Às vezes os sonhos são tão grandes que nos imobilizam. Às vezes, a perceção do tempo que temos é tão vasta que não conseguimos rentabilizá-lo. Às vezes a vontade de fazer acontecer é tão intensa que acabamos bloqueados e estagnamos num lugar onde já não pertencemos. Sinto-me tão pequena à beira da imensidão do mundo, das possibilidades de usufruí-lo e dos sonhos que tenho para este novo ano. Quero transformar o meu mundo mas não sei bem como. Sinto-me desafinada, tenho a pauta à minha frente mas parece que, de repente, não sei nem lê-la, quanto mais tocá-la. Sei para onde ir mas não sei como lá chegar, ou talvez saiba, mas não hoje, não neste momento em que me sinto assoberbada pela ânsia desenfreada por cruzar a meta de uma maratona que apenas começou ontem”, escreveu Andreína, no seu Instagram, há uma semana, refletindo acerca dos sentimentos que nutre à entrada de 2024. A psicóloga clínica explica à LUZ que, neste ano, receia “o aumento dos preços gerais”, mas espera “poupar, fazer duas viagens, crescer a plataforma digital e o negócio”. Na ótica da jovem, 2024 será próspero e de conquistas, sendo que continuará envolvida no seu consultório online de psicologia e na promoção da saúde mental.