Pagamento dos salários aos Bombeiros Voluntários da Ajuda poderá demorar “algumas semanas”

Os 15 bombeiros assalariados, que não recebem desde novembro, já suspenderam o contrato de trabalho.

Cinco pessoas e uma criança estão a viver no quartel dos Bombeiros Voluntários da Ajuda devido aos salários em atraso que não são pagos pela direção da Associação Humanitária (AHBVA). A situação é tão grave que os 15 bombeiros assalariados já suspenderam o contrato de trabalho. Um deles, João (nome fictício), conversou com o e o SOL, abordando os problemas financeiros enfrentados pelos bombeiros, como a falta de pagamento de salários e a falta de transparência nas finanças da associação. João expressou a preocupação em relação à falta de resposta por parte da direção da associação e a sensação de impunidade que isso gera. Destacou também a necessidade de investigação para descobrir para se saber qual é o destino do dinheiro que os bombeiros geram com o seu trabalho. Além disso, mencionou “o cansaço e a exaustão da equipa”, que está “a lutar para manter a operacionalidade apesar das dificuldades financeiras”. Apelou ao apoio da comunicação social e das autoridades para resolver a situação e restaurar a confiança na associação.

“Estamos com veículos muito degradados, o nosso material não tem segurança já há muito tempo, mas vamos tentando fazer o melhor que podemos. Acho que tudo isto põe em risco tanto a nossa segurança como a segurança da população”, desabafou. “Fazemos uma média de 12, 13 mil euros mensalmente em serviços, por aquilo que vamos percecionando. Portanto, onde é que está o fruto do nosso trabalho?”, perguntou, mostrando-se visivelmente consternado. “Em vez de trabalharmos 8 horas, trabalhamos 12 e as horas extra são pagas a pouco mais de 2 euros. As Juntas de Freguesia da Ajuda e de Alcântara é que têm sido impecáveis a ajudarem-nos com a alimentação. Se não fossem elas, estaríamos ainda pior”. Em comunicado, a Junta de Freguesia da Ajuda explicou que a AHBVA serve também as freguesias de Belém, Alcântara e Benfica – ou seja, aproximadamente 80 mil pessoas – e, por isso, o panorama afigura-se preocupante. “Já entregámos alimentos para emergências e disponibilizámos a documentação necessária para assinar um protocolo de apoio que possibilitará o pagamento parcial dos salários dos bombeiros”, lê-se no texto.

“Sabíamos que a situação financeira da Associação não era boa, mas nos últimos meses tem-se degradado muito”, continuou João. “Há alguém aqui que está a ganhar muito dinheiro ou que está a viver muito à conta disto. Acho que isto tem de ser investigado. É preciso perceber-se, porque se nos dissessem que era por falta de trabalho, falta de operacionalidade… Não! Nós sempre tivemos muita operacionalidade, sempre tivemos muito trabalho, trabalhávamos muito”. Já Tiago Martinho, dirigente da direção nacional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins relatou ao i e ao SOL “a situação de crise financeira enfrentada pelos bombeiros, incluindo atrasos nos salários dos funcionários, sendo que alguns vivem em condições precárias”. Mais precisamente, “em contentores” da Associação Humanitária.

Numa primeira conversa frisou “a falta de resposta da direção da Associação Humanitária, apesar dos pedidos de reunião feitos pelos trabalhadores” mas, numa segunda, esta segunda-feira, explicou que esteve reunido com a direção. No entanto, a conclusão foi a mesma: os salários demorarão a ser pagos. O prazo apontado? “Algumas semanas”, de acordo com os dirigentes da AHBVA. Para além disso, falou-se no despejo das pessoas que estão a viver no quartel, mas a direção da Associação terá dito que “tudo não passou de um mal-entendido”. Outra fonte ouvida pelo e pelo SOL indicou “um acordo verbal entre a associação e uma empresa que realizou obras de renovação, resultando em contas bloqueadas devido a alegados problemas de pagamento”, expressando “preocupação com o impacto da situação não apenas nos bombeiros e nas suas famílias, mas também na qualidade do serviço prestado à população”. 

O i e o SOL contactaram a AHBVA mas, até à hora de publicação deste artigo, não obtiveram qualquer resposta.