Em abril de 1953, o fabricante italiano de motos e triciclos Iso Automotoveicoli surpreendeu os visitantes do salão de Turim com o Isetta, um automóvel de baixo custo adaptado ao ambiente de recessão económica que se seguiu ao final da Segunda Guerra Mundial. O engenheiro aeronáutico Ermenegildo Preti inspirou-se num avião de carga com abertura pela frente para conceber este estranho um veículo de três rodas com a forma de carlinga de avião.
O Isetta tinha uma imagem inconfundível, muitas pessoas apelidaram-no de ovo, e características peculiares como a porta dianteira de acesso ao interior, onde podiam viajar duas pessoas, e dimensões muito compactas (2,28 metros de comprimento e 1,38 metros de largura). O modelo original tinha um motor de dois cilindros a gasolina de 236 cc com 9,5 cv, que foi depois substituído por um bloco de 250 cc e 12 cv, tração traseira e caixa de quatro velocidades. Apesar de ser um carro económico teve vida curta em Itália e deixou de ser produzido em 1956.
De Itália para o mundo
O Isetta nasceu em Itália, mas foi produzido em outros países e por outras marcas, nomeadamente a BMW, tendo sido aí que se tornou mundialmente famoso. O Isetta alemão foi produzido com profundas alterações em relação à versão original. Recebeu o motor a quatro tempos da moto BMW R25 com 250 cc e 12cv. Um ano depois a cilindrada aumentou para 300 cc e a potência para 13 cv. Era opinião geral que acelerava bem, atingia os 85 km/h, era fácil de conduzir e gastava pouco. Fazia 25 quilómetros com um litro de gasolina, era assim que a marca anunciava o consumo, e tinha autonomia para 263 quilómetros. O motor estava associado a uma caixa de quatro velocidades e, mais tarde, surgiu uma versão de duas rodas no eixo traseiro. Custava 2.550 marcos alemães (412 euros) e pagava 44 marcos (7 euros) de imposto – «menos do que o município cobra por ter um cachorro» dizia a publicidade da BMW na época. O pequeno BMW Isetta conquistou diferentes mercados. No primeiro ano vendeu 40 mil unidades e chegou aos Estados Unidos, onde chegou a ser fotografado com o rei do rock Elvis Presley. Mais tarde foi lançada a versão Bubble Window cabrio, com teto removível e janelas basculantes, da qual foram produzidas apenas 50 unidades, e passou a estar disponível com volante do lado direito. As necessidades dos clientes mudaram e o mercado começou a pedir carros pequenos e económicos, mas de quatro lugares. O Isetta deixou de ser produzido em 1962. Durante nove anos vendeu mais de 190 mil unidades, ganhou um lugar na história da indústria automóvel e deu origem a campanhas publicitárias inovadoras. No Brasil, foi apresentado como o segundo carro de família e o carro dos estudantes universitários. Houve também campanhas para atrair o público feminino vendo-se uma mulher a entrar no Isetta com a mensagem «agora sou livre».
O Isetta ficou também famoso por transportar às escondidas nove pessoas que pretendiam deixar a República Democrática Alemã na década de 60, uma história que deu origem à curta-metragem The Small Escape. O engenhoso mecânico Klaus-Günter Jacobi criou um espaço para esconder uma pessoa atrás do banco e ao lado do motor. Para tal retirou o filtro do ar, o pneu sobressalente, o sistema de aquecimento e trocou o depósito de combustível de 13 litros por um de dois litros, o suficiente para cruzar o Muro de Berlim. Esse carro está exposto no Museu do Muro de Berlim, onde Jacobi é guia turístico.