Caros leitores,
Esta quarta-feira assinalaram-se quatro meses desde o início desta tragédia. E hoje, sexta-feira, dia da tiragem desta edição semanal do SOL, celebra-se o Dia da Família em Israel, uma festividade que será carregada de dor, perda e trauma neste ano em particular. Eu imagino (e consigo entender) que as guerras no Médio Oriente e na Ucrânia (e outras tantas no nosso mundo) comecem a ‘cair em esquecimento’ aos olhos do público de fora, tal a falta de solução e de desenvolvimentos. Entramos todos em ‘modo rotina’ porque parece que pouco há a fazer para mudar o rumo dos acontecimentos. Também aqui há muita gente para a qual a vida segue normalmente, como se nada fosse. Mas não é o caso de muitas famílias na Faixa de Gaza, nas fronteiras com Gaza, Líbano e Síria em território israelita, no sul do Líbano, e os familiares de reféns e de militares em Gaza.
São dias de tormento para poder rever os familiares, saber notícias, para poder regressar a casa. Os amigos e familiares dos reféns em Gaza continuam a demonstrar-se nas ruas e a viajar pelo mundo no apelo por uma maior intervenção diplomática para um acordo que tarda em chegar. A ‘solução militar que coloca pressão no Hamas’ de pouco ou nada tem adiantado no que toca a um entendimento mais célere e apenas aumenta a angústia de quem espera (e, certamente, dos reféns, eles mesmos, que vivem no inferno há tanto tempo). Os familiares dos militares ainda em serviço vivem na incerteza da condição física e mental dos seus queridos, normalmente com os pais a poderem estar um minuto ao telefone com eles uma vez por semana ou a cada duas semanas. E, depois, as milhares de famílias que preventivamente foram evacuadas das suas casas para um sem número de localizações diferentes ao longo do país, que continuam sem receber respostas quanto ao que tem sido feito para as proteger a partir do momento em que haja um cessar-fogo, quando é que poderão regressar às suas casas e aos seus negócios, ou para onde terão de mudar a seguir.
No nosso caso em particular, já vamos no quinto apartamento (quarto no qual temos de pagar renda, para além de parte daquela da nossa residência permanente) em quatro meses. Todos os meses há que procurar novo apartamento, arrumar as coisas, ir para o novo destino e repensar todas as viagens para o trabalho, onde fazemos as nossas compras, etc. Isto enquanto mantemos um emprego a tempo inteiro. Já há um cansaço emocional brutal de não encontrar poiso fixo e de continuarmos sem podermos trazer os nossos dois gatos para viver conosco. Há um desejo enorme de simplesmente voltar a casa e lá ficar, mas a sofisticação das armas do Hezbollah é muito maior do que aquelas do Hamas e, portanto, o risco é demasiado grande.
No que toca ao ambiente interno, acentua-se paulatinamente a divisão entre as pessoas e as manifestações contra o Governo e pró-acordo para o regressar dos reféns, ou contra a entrada de ajuda humanitária pelos postos de entrada israelita para o norte de Gaza, ou a favor do estabelecimento de colonatos vão-se multiplicando e fazendo barulho. Está bem claro que, após a união no rescaldo do ataque bárbaro do Hamas, tudo voltou à estaca zero no que toca aos ideais políticos dos vários grupos comunitários que constituem este país (e que explica o porquê das várias eleições em tão poucos anos). Nada é claro sobre o que acontecerá nas próximas semanas e nos próximos meses. O que sim para mim é claro é que devemos fazer o maior dos esforços para trazer de volta a casa os reféns ainda com vida em Gaza antes que seja tarde demais!