A Audi tem o toque de Midas, transforma em vitórias tudo aquilo onde participa. Foi pioneira e campeã do mundo de ralis com o Audi Quattro de tração integral, depois mudou-se para as corridas de pista onde foi campeã do mundo de resistência e venceu as famosas 24 Horas Le Mans, com um motor diesel, e mais tarde aderiu a eletrificação e ganhou o Campeonato do Mundo de Fórmula E. Agora ganhou a maior e mais dura corrida do mundo como é o Dakar com um protótipo com dois motores elétricos e um motor a gasolina. O próximo desafio é a Fórmula 1 em 2026 e a concorrência que se cuide, há mais de um ano que a marca alemã está a preparar a sua entrada.
O projeto Dakar era, no mínimo, ambicioso e houve momentos em que pareceu ser uma aposta perdida. Este ano correu tudo bem ao espanhol Carlos Sainz que, aos 61 anos, ganhou a prova contrariando as previsões de Nasser Al-Attiyah que, à partida, dizia: «ao fim de três dias de prova os Audi estão a ir para casa». Enganou-se, quem foi mais cedo para casa foi o pentacampeão do Dakar.
O protótipo que venceu o Dakar foi desenvolvido em pouco mais de um ano com base na experiência da Audi Sport em várias disciplinas do desporto automóvel. Tem chassis tubular em aço temperado e resistente ao calor que é usado na indústria aeroespacial, monocoque em fibra de carbono e zylon, carroçaria em kevlar e materiais compósitos e janelas laterais em policarbonato. É um verdadeiro compêndio tecnológico, com quatro quilómetros de cabos no interior do veículo, sem contar com os cabos de alta tensão.
Dois motores elétricos
O desafio da motorização elétrica era enorme já que as temperaturas elevadas, a utilização extrema em etapas longas e a areia do deserto colocam à prova as baterias de alta tensão. Depois de duas tentativas falhadas, sobretudo por erros dos pilotos, a Audi ganhou a aposta este ano com um protótipo de grande eficiência em matéria de consumos e emissões e capaz de elevadas performances: faz 0 a 100 km/h em 4,5 segundos e atinge 170 km/h. O RS Q e-tron está equipado com dois motores elétricos com um rendimento total de 286 kW (384 cv) alimentados por uma bateria de iões de lítio com uma capacidade de 52 kWh. Sem a limitação do regulamento a potência era de 670 cv. Os motores, um por cada eixo, trabalham de forma independente e são geridos por uma sofisticada eletrónica para obter um sistema de tração integral virtual. É um sistema complexo e sem precedentes como afirmou um responsável pelo desenvolvimento do carro. Como as etapas são longas, este protótipo tem um motor a gasolina 2.0 turbo (362 cv) para recarregar as baterias durante as etapas, como não está ligado aos eixos não faz mover as rodas e serve apenas de gerador de energia. Esse motor é alimentado por gasolina sintética em 80%, o que permite reduzir em 60% as emissões de CO2 durante a prova.
A parte aerodinâmica não deve ser subestimada nas provas no deserto, onde se anda muito tempo a fundo. O RS Q e-tron foi projetado para ter um bom fluxo de ar e conseguir rapidamente atingir a velocidade máxima de 170 km/h, imposta pelo regulamento, e aproveitar toda a energia dos motores elétricos.
O piloto e navegador estão protegidos por painéis em materiais compósitos reforçados com zylon. Em caso de acidente grave evitam que objetos pontiagudos entrem no habitáculo, ao mesmo tempo protege a equipa de quaisquer problemas no sistema de alta tensão. O estreito habitáculo tem bacquets em fibra de carbono, semelhante às usadas nos carros das 24 Horas Le Mans, e o navegador conta com um roadbook digital com as indicações do percurso que é entregue pouco antes da partida para cada etapa. Existem inúmeras luzes de aviso para falhas no sistema de propulsão ou bateria, indicadores sobre a pressão dos pneus e distribuição da força de travagem. Existe ainda uma bússola e um ecrã central com 24 botões onde aparecem inúmeras informações relevantes em verde quando tudo está a funcionar corretamente ou em vermelho quando há uma falha.