Este é o tempo que mais gosto de viver no nosso país… aliás, parece-me que este é o tempo que todos esperamos em todo o mundo democrático….
Alguns gostam do inverno, porque depois vem a primavera… esta é a prima mais esperada… a primavera! Isto é incrível: a primavera, os campos repletos de flores com os pássaros que ‘aeroplanam’ pelas planícies rastejantes dos montes escarpados…
O tempo, no entanto, que eu mais gosto, não é tanto o tempo da primavera, que se aproxima, mas o tempo das eleições, que estão à porta… É verdade! É um tempo incrível…
Eu sou pároco de muitas igrejas e de muitos bairros da cidade de Lisboa: Mouraria, Castelo, Alfama… São bairros conhecidos pela sua tipicidade! Bom, na verdade: tipicidade, aqui, significa ‘codrelhice’! É verdade: quem nunca ouviu falar das codrilheiras de Alfama, ou da Mouraria? São gente desprezível que passa os dias a falar da vida dos outros!
Vou dizer-vos um segredo: já não existem! É verdade! Não existem de todo! Os turistas compraram as suas patentes, as suas casas, as suas vidas e mandaram-nas para o buraco de onde saíram: as suas terras. Voltaram para o buraco! Agora, Lisboa já não é casa de ‘codrilheiras’, mas casa de turistas finos que não falam da vida dos outros. Agora, os habitantes de Lisboa são, apenas, estrangeiros que compraram os seus vistos com casas, para terem um passaporte europeu – porque têm muito dinheiro – e já não se fala da vida dos outros.
Então, esta época das eleições tornou-se, agora, o sítio das codrelhice: a Política! A maravilhosa Política que nada propõe, mas tudo critica, que tudo promete e nada cumpre, que tudo oferece, sem fazer contas. Trata-se de um tempo de ilusionismo que ‘encanta’ os homens – e as mulheres, também – e promete coisas que nunca poderá cumprir e cumpre coisas que nunca prometeu.
Não sou contra as Eleições, mas sou contra as mentiras… mentirosos não devem, nunca, poder governar sobre nós. Eu penso que este é o momento mais sério da nossa história. Não há momento mais sério do que aquele em que nos chamam a meter o papel mascarrado dentro de uma urna de voto: o ‘Boletim de Voto’.
Há quem salte no escuro! Há quem aposte no desconhecido! Nós apostamos no nada: os partidospolíticos.
Inimaginável: como é possível que alguém vote em gente que não sabe mais nada do que dizer mal dos outros partidos, sem conseguir pensar nas necessidades dos portugueses.
Eu, por mim, penso que é necessário vermos todos os debates televisivos e radiofónicos para conseguirmos coar toda a porcaria que eles dizem e deixar ao de cima as ideias claras que eles propõem para o país. No fundo, eu penso que eles deveriam falar para os portugueses em vez de atacarem os outros partidos.
Depois do ataque geral, há os comentadores que emitem a sua opinião. Uns dizem bem da esquerda, outros dizem bem da direita, mas o que não dizem é que uns são da esquerda e outros são da direita: no fundo do ecrã da televisão dizem apenas – ‘Comentador CNN’; ‘Comentador RTP’; ‘Comentador TVI’.
Eu, por mim, penso que o é mais útil na nossa vida é ler os programas eleitorais, porque tudo o resto é paisagem. Tudo o resto é, nada mais, nada menos, do que o encantador de serpentes que pretende dominar o ouvinte e dominar o ‘inimigo’.