A guerra chegou à Europa em 2022 com uma invasão brutal a um estado soberano.
A turbulência no Mar Vermelho ameaça uma das principais autoestradas marítimas do comércio mundial.
Israel e o Hamas combatem uma luta armada dramática com várias potências regionais envolvidas.
A Venezuela pode agredir a Guiana, o seu vizinho mais pequeno, para assumir o controlo do seu petróleo.
No Mar do Sul da China as tensões estão num ponto de ebulição.
A América prepara-se para reeleger Trump, que deixará a Europa largada à sua sorte.
E Portugal, membro fundador da NATO e nação marítima com responsabilidades de segurança e defesa euro-atlântica, parece viver num paraíso pós-histórico, onde a violência e a desordem são um anacronismo.
É pelo menos essa a sensação que fica quando ouvimos os candidatos a primeiro-ministro, sobretudo dos dois principais partidos. A culpa será tanto deles como de quem os modera, excessivamente preocupados que estão com a espuma dos dias.
Passamos pelo ciclo de debates sem política externa e sem política de defesa no tempo em que mais precisamos dela desde o fim da Guerra Fria.
Precisamos de mais e de melhor para o nosso país.
Que alianças quer Portugal trabalhar para ganhar nova centralidade no segundo quarto do século XXI?
Em que geografias deve apostar para diversificar a sua economia?
Que parcerias deve explorar tendo em vista o robustecimento das suas capacidades militares?
Que visão e que meios estão ao dispor do país para combater as guerras dos novos tempos – no domínio cibernético?
Qual é o nosso grau de preparação face a ameaças externas e como é que lidamos com os ataques dos atores não estatais à nossa segurança coletiva?
Todas estas perguntas ficam sem respostas.
Não temos agenda. Tenho dúvidas que tenhamos sequer uma estratégia.
Confiamos em Bruxelas e colocamos fé numa política de rebanho, quando a esmagadora maioria dos países da UE tem guardada para si uma reserva de autonomia estratégica.
Até aos dias de hoje a nossa política externa resume-se a umas viagens do Presidente, dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Economia a alguns países. Tudo casuístico, sem fio condutor.
Com uma máquina tão dispendiosa como a AICEP e com tantos diplomatas espalhados pelo mundo é pertinente perguntar: que resultados tem essa rede trazido para a imagem de Portugal no mundo, para a sua preponderância política e estratégica? Qual o resultado dessas viagens em termos práticos, materialização de negócios entre as empresas portuguesas?
Não podemos dizer que a estratégia será, ir às ex-colónias e, fazer umas viagens a Bruxelas, Estados Unidos da América, India e à China. Qual o resultado das viagens dos Ministros dos Negócios Estrangeiros nos últimos 50 anos, desde o 25 de Abril? Isso resulta em impostos pagos pelos portugueses e, é algo que deve ser questionado.
Luís Amado, Nuno Severiano Teixeira e Paulo Portas fizeram sozinhos mais do que todos os outros que deviam fazer a captação internacional de investimentos e de criar alianças políticas a nível internacional. Mas não chega. A política externa não pode ser resumida a tours internacionais e vistos Gold. Precisamos de uma estratégia a curto, médio e, longo prazo.
Acredito que a diversificação e o investimento externo no país, poderá levar-nos para um nível diferente.
Para sermos empreendedores, precisamos saber se vamos ser liderados por visionários ou por comerciantes.
Os nossos antepassados foram mercadores e comerciantes. Hoje devíamos pensar como empresários e empreendedores.
Devíamos perceber que o presente e o futuro está nas economias emergentes dos países árabes, no Golfo Arábico, na Ásia. Não apenas olhar para China e Índia, os óbvios, mas também para países como o Vietname, Camboja, Taijiquistão, Uzbequistão, Turquia. E, na Europa, olhar para os países dos Balcãs e outros onde poderemos ajudar as nossas empresas a internacionalizar-se ainda mais.
As empresas deixaram de confiar nos nossos líderes para ajudarem a levar os bens e serviços de excelência além-fronteiras.
A máquina diplomática tem experiência política mas não tem experiência na diplomacia económica. Por isso, é importante fazermos algo pelas nossas indústrias, pelos produtos agrícolas portugueses e pelo nosso sector privado de forma a conseguirmos pagar bons salários e trazermos mais riqueza para o nosso país.
Se somos os “Heróis do mar”, façamos jus a esse legado.
O consenso deve existir para ajudar as empresas portuguesas, os empresários e a população portuguesa a internacionalizar-se.
Valorizaremos o que é nacional para atrair investidores e investimento, ao mesmo tempo que criamos mais valor no território nacional, com dinâmicas de apoios a quem eleva a bandeira
nacional.
Ao fazer isto, os empreendedores, públicos e privados, conseguirão chegar mais longe. Onde nunca chegaremos se não tivermos uma visão a longo prazo.