Caros leitores,
Oxalá pudesse trazer-vos boas notícias quanto ao regressar dos reféns em Gaza e um aproximar paulatino ao cessar das hostilidades na região, mas ainda não é o dia. Começam a circular rumores para um possível avançar das negociações para um cessar-fogo temporário, porém, até que algum acordo se concretize e seja cumprido até ao fim, não nos podemos fiar. Apesar disso, muito se tem passado no território Israel-Palestina nas últimas semanas, e é disso que vos venho falar nesta edição.
Em semana de (algumas) eleições autárquicas – outras regiões adiaram as suas eleições para o final do ano por vários dos candidatos ainda estarem em serviço militar -, um dos pontos quentes em Israel é a demanda para o reformular da lei que isenta os jovens ultraortodoxos estudantes das yeshiva (escola onde homens ultraortodoxos estudam a Torah durante todo o dia, enquanto sendo financiados pelo governo e outros doadores privados, podendo prolongar a sua estadia por vários anos, até bem dentro da sua vida adulta e familiar) do serviço militar obrigatório. Normalmente, quanto um/a jovem chega aos 18 anos, é necessário fazer serviço militar ou trabalho comunitário durante 2 ou 3 anos, sendo isto por muitos considerado como um ‘serviço à nação’. No entanto, os ultraortodoxos são completamente contra esta visão ‘ateísta’ e acreditam que os seus tempos de estudo e oração são a melhor forma de manter o Estado (e o Judaísmo) em segurança, por isso, tantos têm sido os esforços dos seus ministros em manter o status quo. Mas, agora, um sem número de membros do Governo, doutras instituições e do Supremo Tribunal da Justiça pedem o escrutinar das leis que os protegem, pedindo uma reforma para que o esforço de ‘proteger a nação’ seja feito por todos. Escusado será dizer que a discussão tem sido bem acesa.
Por outro lado, os críticos do Governo e dos seus líderes de extrema-direita continuam a levar para a rua o seu descontentamento, em cada vez maior número de localidades e em números crescentes. Todos os sábados, ao final do Shabbat, em pontos centrais das maiores cidades do país (e com o palco máximo a ‘Rotunda dos Reféns’ em frente ao Museu de Arte de Tel Aviv), há manifestações apelando ao selar de um acordo para o regresso dos reféns e para eleições legislativas o mais rápido possível. Também em sessões abertas no Parlamento e em conversações privadas com o gabinete do primeiro-ministro (para além de em vários outros encontros com figuras políticas influentes por todo o mundo) vários membros pertencentes ao Fórum de Familiares e Amigos dos Reféns têm continuamente pedido esclarecimentos quanto ao porquê de medidas para o acordo ainda não terem sido tomadas, e nem sempre são recebidos da forma mais amigável possível – basta que ouçam Smotrich ou Ben-Gvir para perceberem do que falo. Está claro que a figura de Netanyahu caiu em desgraça e o povo não quer esperar mais para deitar abaixo o Governo. Infelizmente, boa parte dos protestos em Tel Aviv tem terminado com violência policial e detenções dos protestantes, tendo nas últimas ocasiões sido feito uso de canhões de água para dispersar as multidões. Entretanto, os familiares dos reféns em Gaza continuam à espera de poder reaver os seus entes queridos, e está bem claro que tudo isto já passou os limites do aceitável há muito tempo!
Outros dois eventos ‘relevantes’ das últimas semanas foram os dois ataques terroristas nas estradas: um perto do colonato de Maale Alumim, na autoestrada em direção a Jerusalém, que matou um jovem e deixou outras 11 pessoas feridas; e o outro na intersecção de Re’em, que matou duas pessoas e causou 4 feridos. Estas duas situações fizeram os elementos de extrema-direita e Netanyahu anunciarem o seu desejo de construir mais 3000 casas em alguns dos colonatos na Cisjordânia, mencionando ser esta uma medida para aumentar a segurança para o Estado de Israel. Quem colateralmente sofre com estas decisões são aquelas mesmas famílias que viram as suas casas na Faixa de Gaza (não em Gaza, mas os kibbutzim próximos da fronteira que foram invadidos pelo Hamas) serem seriamente danificadas ou mesmo destruídas, que se veem agora impedidas de fazer um progressivo regressar a casa, quando foram prometidas pequenas habitações temporárias em localidades adjacentes para onde se mudaram até que possam regressar a casa. Estas mesmas famílias (a enorme maioria delas com preferências políticas bem diferentes dos partidos que constituem o atual Governo) sentem-se novamente abandonadas pelo seu país, um sentimento muito semelhante ao de todos os residentes internamente destacados do Norte do país – como nós. Ah, já agora, começaremos o mês de março no nosso 6.º apartamento desde outubro.
Com votos de paz e de saúde para todos, dos dois lados de todas e quaisquer fronteiras.