Claude Montane morreu recentemente deixando um dos maiores legados no mundo da alta costura.
Ficou conhecido por definir a silhueta dos anos 80, caracterizada pelos ombros largos e pelas silhuetas dramáticas. Além disso, o seu trabalho era fluído, estruturado geometricamente como se de um trabalho arquitetónico se tratasse. Era especializado em couro e no chamado Power Dressing (que hoje volta a estar na moda). Graças a si, as pessoas «fugiram das caixas» e passaram a expressar-se esteticamente como não tinha acontecido até então. Segundo a Forbes, os seus desfiles de moda eram «eventos» que faziam com que as pessoas lutassem para conseguir entrar. Quem conseguia, ficava em frenesi e até havia quem vertesse lágrimas. Na sexta-feira passada, dia 23 de fevereiro, a Agence France-Presse confirmou a morte do estilista francês Claude Montana. De acordo com a agência de notícias francesa, o artista faleceu em Paris, no hospital Bretonneau, aos 76 anos, longe dos holofotes.
Das joias às vestimentas
Escreve o Le Figaro, que o estilista nasceu em 1947, em Paris, filho de pai espanhol e mãe alemã, tendo crescido no seio de uma família burguesa de três filhos. Recorde-se que esse foi o ano em que Christian Dior introduziu a primeira linha extrema do pós-guerra, o New Look. «O meu sangue meio espanhol, meio alemão explode, e isso traduz-se em formas dramáticas e altivas», escreveu em Montana, o seu livro autobiográfico escrito em coautoria com a jornalista Marielle Cro, em 2010.
De acordo com o jornal francês, em criança era sonhador e gostava de desenhar. Foi nessa altura que rabiscou as suas «primeiras silhuetas nas margens dos cadernos escolares». Além disso, era fascinado por cenários teatrais e admirava artistas dos anos 50 como Ava Gardner, Marlène Dietrich e Audrey Hepburn. Não havia dúvidas que o seu caminho iria passar pelo meio artístico. E assim foi. Mas ao contrário daquilo que se podia esperar, a sua carreira começou com joias.
Depois de estudar no Lycée Condorcet e de passar brevemente pela Ópera de Paris, aos 17 anos, mudou-se para Londres. Nessa altura, usou papel higiénico e strass (imitação de diamantes) para fazer joias de papel machê (massa feita com papel picado embebido na água, coado e depois misturado com cola e gesso). Foi nesta altura que conheceu o maquilhador Olivier Echaudemaison, que participava nas capas da Vogue britânica. Em 1970, voltou a Paris e trabalhou na McDouglas, uma empresa francesa de couro, onde aprendeu e dominou a modelagem, corte e classificação.
Ascensão e queda
Claude foi apresentado ao mundo pela Vogue em 1977 num artigo sobre talentos em ascensão na capital da moda. Na época, a jornalista Mary Russell Montana escreveu: «Os seus tecidos são lãs e sedas naturais. O couro é o seu grande amor e o seu sentido de cor é extraordinário. O artista faz cabelos e maquilhagem complexos para seus espetáculos, e todos os seus amigos vêm e ajudam a montar a coleção…. Os seus couros são caros, mas mesmo com preços altos, estão à venda. Ele espera que alguém invista numa das suas jaquetas, mas tem algumas camisas bastante baratas, largas de seda…. Ele propõe roupas… A seleção e a mistura ficam por conta de quem as compra. E, tal como os seus colegas, também vive com simplicidade: vê alguns amigos, adora música, dança em Nova Iorque e no Le Sept em Paris, e não mudaria a sua vida por todo o dinheiro do mundo». Nos bastidores havia «drama» alimentado por sexo, drogas e álcool.
De acordo com a Forbes, foi em 1979 que fundou finalmente a sua marca. Nessa altura, os elogios que recebeu pela coleção inicial da House of Montana «foram tudo aquilo que os designers novos e emergentes fantasiam». Em pouco tempo, este já havia conquistado o seu público.
Segundo a revista americana, a década de 80 foi de «uma rápida sucessão de realizações». No entanto, não tardou a se perceber que algo estava errado. «O seu comportamento tornou-se errático e surgiram rumores sobre um possível problema com drogas ou álcool (…) Tornou-se normal para o artista oscilar entre desaparecer por dias ou trabalhar mais de 12 horas». Em 1989, o estilista foi escolhido para ser o sucessor de Marc Bohan na Dior, mas optou por ir para a Lanvin. Logo depois as coisas começaram a desmoronar e, em 1992, o seu contrato terminou. Em 1993, Montana casou-se com a sua musa, Wallis Franken, e as suas coleções seguintes foram aclamadas quase universalmente. Segundo a Vogue, independentemente de qualquer coisa negativa dita na imprensa «ninguém jamais conseguiu encontrar defeitos na alfaiataria de Montana».
Durante a sua carreira recebeu alguns prémios, como dois Dés d’Or (a mais alta distinção da alta-costura nos anos 1990). Na entrada no século XXI acabou por declarar falência e afastar-se do mundo da moda.
Apesar de ter sido casado com uma mulher, em 2008, o estilista foi agredido por um ex-bailarino de uma discoteca em Paris, tendo sido acusado de lhe ter transmitido hepatite B. Infelizmente, esse foi o seu fim. O ataque acabou por deixar sequelas e este afastou-se do universo de alta costura. Em 2016, numa entrevista à revista Gala, Montana admitia sentir muita falta da moda e acreditava ter sido «esquecido».