Acampanha eleitoral está prestes a chegar ao fim. Não faltará muito para no próximo dia 10 sermos chamados a fazer a nossa opção, escolhendo livremente quem queremos que nos governe nos próximos anos. E todos temos o dever de cumprir essa obrigação, não deixando nas mãos dos outros a decisão que cabe a cada um de nós tomar.
Neste momento já todos fizemos as nossas escolhas e elegemos prioridades que gostávamos de ver satisfeitas pelo novo governo que se vier a formar. Atrevo-me a dizer que quase todas elas andarão à volta de melhores salários, do combate ao desemprego e à corrupção, à crise que se vive na saúde e na habitação, do problema dos impostos, entre outras. Contudo, se a mim me fizessem a pergunta habitual nestas ocasiões: ‘O que recomendaria ao novo primeiro-ministro de Portugal?’ A minha resposta era imediata: ‘Não deixem fugir os jovens!’ Ao responder desta maneira estou a dizer tudo. Aliás, nos meus artigos de opinião, por variadíssimas vezes tenho abordado o tema por me parecer pertinente, oportuno e cada vez mais atual. Não se pode pensar num país sem jovens e é um erro crasso ignorar esse princípio, como parece ser a regra geral dos últimos anos em Portugal. Já houve até quem sugerisse aos mais jovens que procurassem outras oportunidades no estrangeiro, convidando-os a deixar o país e começar nova vida lá fora. Quando se diz isto está-se a aceitar pacificamente que o país continue a investir na formação dos jovens e após conclusão da licenciatura em vez de os fixar aqui lhes abra a porta da emigração, exportando-os a custo zero. Inacreditável!
Em janeiro passado era publicado um estudo nada abonatório para nós, segundo o qual Portugal tem a taxa de emigração mais alta da Europa e uma das maiores do mundo! 30% dos jovens nascidos em Portugal com idade compreendida entre os 15 e os 39 anos vivem fora do país e são mais de 850 mil. Estes dados dispensam quaisquer comentários. Com o êxodo dos jovens o país vai envelhecendo e não há gente nova para o renovar em todos os setores.
Não posso pronunciar-me sobre o que acontece nas outras áreas, mas na minha, a da Saúde, tenho uma palavra a dizer. Baixos salários, condições de trabalho nada atrativas, carreiras sem perspetivas de progressão, estão na origem do afastamento dos jovens médicos e enfermeiros para o setor privado ou para o estrangeiro onde tudo é bem diferente. Então como ficará o SNS? Ninguém o sabe, mas, uma coisa é certa: as previsões diante deste cenário não são nada animadoras. Com os médicos da minha geração já reformados ou a reformarem-se em breve, e sem novos licenciados para os substituir, será possível pensar numa reestruturação profunda do Serviço Nacional de Saúde? Lá diz o ditado: ‘Sem ovos não se fazem omoletes’ e é bom ter presente que muitas vagas postas a concurso no SNS vão ficando por preencher o que revela um total desinteresse pelo trabalho no Estado. As consequências de termos parado no tempo os portugueses têm-nas sentido na pele: nos cuidados primários é desolador olhar para o número de utentes sem médico de família a aumentar de dia para dia e a nível dos hospitais basta ver o que se passa nas urgências e que nos é mostrado diariamente, para se perceber que se caminha para o abismo.
Um pouco por tudo isto e enquanto se espera por um novo governo no qual depositamos as nossas expectativas é altura de encarar o problema dos jovens com bom senso e sentido de responsabilidade. Que queremos nós fazer num futuro próximo? Fingir que está tudo bem, não nos leva a lugar nenhum e isolarmo-nos no ‘orgulhosamente sós’ é um sinal de fraqueza que não nos permite sair do mesmo patamar.
Não deixem fugir os jovens! Chegou o momento de repensar a situação do país e de contar com a colaboração de todos para mudar o rumo dos acontecimentos. Vamos, pois, apostar na mudança. Vamos investir no futuro. Vamos acreditar em Portugal.