Cresci e vivi com a palavra ‘direita’ a ser usada como estigma. Estamos agora a assistir ao fim desse longo período. O democrata Mário Soares sabia que numa Democracia todas as convicções devem poder estar representadas e manifestar-se, e por isso deu a mão que se sabe ao CDS. E fazendo frente corajosamente ao PCP quando se dizia que o país era comunista e Cunhal também chegou a pensar que era, opôs-se também à sua ilegalização.
Depois do Governo de Sócrates e destes Governos socialistas de António Costa, prevejo que será a palavra ‘socialismo’ que passará a ser estigma usado como arma de arremesso.
Um estudo da Pordata revela que a maioria dos eleitores não confia nos partidos e não é de esquerda ou de direita. A divisão não passa já por essa dualidade semântica. Já não há partidos de esquerda nem de direita. Há Partidos da Situação e da Oposição. Do mesmo modo, pergunto se André Ventura é mais populista do que Pedro Nuno Santos, se faz sentido identificar o populismo com a direita e não chamar populismo ao populismo igual de que também a dita esquerda abusa.
Não estou a avaliar o mérito ou o demérito dos Governos que temos tido dos vários Partidos da Situação. Mas quero dizer que irem buscar os antigos presidentes desses partidos e chefes desses Governos para convencer os indecisos a votar me parece ser darem um forte tiro no pé. Porque é sobretudo nos líderes, por causa do resultado dos seus governos, que os eleitores não confiam nos partidos e têm pensado não valer a pena votar.
E que dizer do facto de um corpúsculo de fanáticos, o BE, ainda surgir nas sondagens com 5% das intenções de voto!? Com a sua coordenadora a continuar a promover um país pobre, continuar a querer acabar com os ricos em vez de acabar com os pobres. O que naturalmente só se consegue aumentando a riqueza do país.
Lembro as proclamações de Deng Xiaoping, que em 30 anos mudaram o seu país e o mundo, quando um dia depois do desaparecimento de Mao abriu uma janela de liberdade e a China importou o capitalismo, que enriquecera o Ocidente e enriquecia o mundo que o foi adotando – «Não interessa a cor do gato, interessa é que apanhe ratos» disse expressivamente:
«Enriqueçam!». «Enriquecer é glorioso!». «Uns têm que enriquecer primeiro!». «Mas todos têm que ter o seu quinhão». (Deng enunciava os princípios que irão ser a grande referência em que se centrará o grande debate da Filosofia Política nos próximos tempos).
Hoje a China enfrenta decididamente – como nós também devíamos fazer, mas o nosso modelo político de Estado de direito não está a conseguir fazer – as disfunções que desregulando o funcionamento ético do capitalismo, geram e concentram fortunas colossais em personalidades e grupos, os tais ‘donos disto tudo’, que se substituem aos Estados. É isto que está a ameaçar o capitalismo democrático na democracia.