Too close to call

O dado mais significativo destas eleições é o elevado número de indecisos que alguns estudos de opinião colocam perto dos 20%.

A expressão é principalmente utilizada nos Estados Unidos. Significa que as eleições estão muito renhidas e que é praticamente impossível antecipar um desfecho: quem ganha e quem perde.

Ainda nos Estados Unidos, nas maratonas eleitorais, existindo votos para contar nos 50 Estados norte-americanos, sempre que ao fim da noite não existe um resultado indicativo os jornalistas, comentadores, políticos pronunciam a célebre frase: too close to call.

Entre nós, o significado traduz-se num empate normalmente técnico já que se situa dentro da margem de erro das sondagens e que é de 3 por cento. Muito provavelmente chegaremos a domingo nesta situação indefinida até ao último minuto. A verificar-se uma proximidade muito acentuada entre a AD e o PS, teremos então uma noite longa porque será necessário esperar pelos resultados das freguesias mais numerosas situadas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

De facto, o dado mais significativo destas eleições é precisamente o elevado número de indecisos que alguns estudos de opinião colocam perto dos 20 por cento. Há várias explicações possíveis. Destaco três na minha grelha de análise:

1. Os dois candidatos a primeiro-ministro não foram suficientemente magnéticos, para utilizar uma linguagem da Física, de forma a desequilibrarem o jogo político a seu favor.

2. Os debates e a campanha foram pouco esclarecedores. Nas áreas essenciais que interessam à vida das pessoas como o aumento do custo de vida, os salários, a saúde ou a educação, as mensagens foram difusas.

3. Existiu muito passado nesta campanha. Assim como também existiu muito ruído. Nem o passado nem o ruído convencem indecisos. O passado esteve excessivamente presente na campanha da AD em razão das declarações dos antigos líderes que afastaram o eixo da campanha do centro político onde Luís Montenegro a quis colocar desde o início, sabendo que é no centro que as eleições se ganham. Ora, as campanhas fazem-se para os eleitores que ainda não decidiram em quem votar. Não se fazem para os votantes fidelizados no partido A ou no partido B. De igual modo, o PS apresentou-se com a narrativa dos oito anos de governação, um discurso de balanço do passado que, apesar de tudo, teve em António Costa uma mais-valia eleitoral.

Em suma, algumas notas sobre as lideranças no terreno.

Luís Montenegro. Fez um esforço hercúleo para recentrar a direita tradicional, apagando os fogos ateados pelos antigos líderes. Salvou-se Santana Lopes que não criou embaraços à campanha e Cavaco Silva que, com a sua experiência política, focou a sua intervenção escrita nas ideias de mudança e de esperança.

Pedro Nuno Santos. Procurou criar uma nova identidade, ou seja, manter-se fiel ao passado dos governos socialistas mas mostrar que consigo o caminho será diferente. Na sua oralidade, o verbo mais utilizado foi avançar. Valeu-lhe a ajuda de António Costa.

André Ventura. Andou perdido na campanha, ganhando alguma iniciativa nos últimos dias e percebendo que teria que voltar aos temas que radicalizam o Chega como a prisão perpétua. Se as sondagens estiverem próximas da realidade deverá duplicar o número de deputados, em linha com o que vem acontecendo com os partidos da extrema-direita em alguns países europeus.

Rui Rocha. Esteve bem nos debates mas foi perdendo força na rua. Bom comunicador, dispersou-se por vários temas revelando as dificuldades da Iniciativa Liberal em evitar o voto útil na AD.

Inês Sousa Real. A sua existência foi praticamente mediática. O PAN foi mais visível a propósito da queda do governo da Madeira do que das eleições nacionais.

Rui Tavares. Fez uma campanha esforçada e positiva. Procurou evitar o voto útil à esquerda afirmando com clareza as suas mensagens.

Mariana Mortágua. Os casos alegadamente familiares não ajudaram. A campanha do Bloco foi, por um lado, reativa e, por outro, um ombro amigo do PS.

Paulo Raimundo. Foi a sua primeira campanha. Suceder ao carismático Jerónimo de Sousa não foi fácil. Enfrentar sondagens que indicam a contínua erosão da CDU obrigou Paulo Raimundo a desenvolver quase que diariamente um exercício argumentativo. Os resultados ver-se-ão domingo.

Jornalista