Óscares. Os prémios mais conhecidos da sétima arte

São considerados os prémios mais importantes da sétima arte. Existem desde 1929 e muita coisa tem mudado desde então. Mas qual a sua origem? De que forma foi escolhido o seu nome? Quais os artistas e filmes mais galardoados até hoje? Há quem os tenha recusado? Conheça também os destaques da cerimónia deste ano.

O cinema pode ter um significado e importância diferente para toda a gente. No entanto, há uma premissa inegável: este faz-nos viajar, sair de nós, viver a vida dos outros, conhecer novos lugares, novas histórias, experienciar novas sensações, repensar ideologias. Se algumas vezes nos faz sentir medo, outras faz-nos sonhar, chorar de alegria, sentir tristeza, raiva, desconforto ou rir às gargalhadas.

Todos os anos os aficionados de cinema esperam por este momento. O ano é passado a ver tudo aquilo que de melhor se fez no universo cinematográfico para, neste dia, se conhecerem os vencedores. Falamos da cerimónia dos Óscares que, este ano, se realiza no dia 10 de março em Los Angeles, nos EUA. Esta é já a 96º edição da entrega destes prémios. Mas como surgiram? Quem os inventou? Quais os melhores momentos e curiosidades? Quem escolhe os vencedores? O que é preciso para uma longa metragem poder ser considerada para nomeação? Quais os maiores galardoados até hoje? E quais os nomeados para este ano?

A origem

Este é o prémio que todo o artista sonha receber e também o mais antigo de Hollywood. Criado em 1927, teve a sua primeira cerimónia em 1929, em Los Angeles (como ainda acontece atualmente). Tal como acima referido, o seu objetivo é premiar as melhores produções cinematográficas de cada ano. Na altura em que surgiu, o cinema americano atravessava um processo de expansão. À época, grandes nomes do ramo resolveram juntar-se e criar uma organização que fosse responsável pela imagem de Hollywood, onde os filmes eram produzidos. Foi assim que nasceu a Academy of Motion Picture Arts and Science (AMPAS). Fundada no dia 11 de maio de 1927, surgiu de uma ideia de um dos chefes da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) – empresa norte-americana de produção, distribuição de filmes e programas televisivos -, Louis B. Mayer.

Segundo os meios de comunicação internacionais, no princípio, a associação servia para «cuidar da imagem dos estúdios de cinema de Hollywood» e «resolver problemas dos trabalhadores». Teve como primeiro presidente Douglas Fairbanks, considerado um dos principais atores norte-americanos do começo do século XX. No entanto, as coisas acabaram por mudar e os seus fundadores chegaram à conclusão que era necessário criar uma cerimónia onde fossem premiados os melhores filmes produzidos a cada ano.

Na primeira cerimónia organizada pela associação, realizada a 16 de maio de 1929, foram premiados os melhores filmes de 1927 e 1928. O evento contou apenas com a presença de 270 pessoas (nessa altura já se sabiam quem eram os vencedores e as pessoas tiveram de pagar 5 dólares para assistir). E diz-se que esta só durou 10 minutos. Além disso, destinou-se a premiar apenas 12 categorias (algumas já extintas): Filme, Ator, Atriz, Realizador de Drama, Realizador de Comédia, Argumento Original, Argumento Adaptado, Quadros, Qualidade de Produção, Direção Artística, Fotografia e Efeitos de Engenharia. De acordo com a Infopédia, só em 1936 foi criada a categoria que se destina a premiar o Melhor Ator e Atriz Secundários. Com o passar do tempo, o evento tornou-se multimilionário e é exibido nas mais diversas partes do mundo, dando a oportunidade de todos assistirem.

Os jurados e o prémio

Mas quem é que decide os vencedores? De acordo com o Digital Spy, plataforma de entretenimento especializada em cinema, tanto os filmes selecionados para concorrer, como a escolha dos vencedores do Óscar são determinados pelos membros da Academia (membros da AMPAS). Mas se na primeira cerimónia essas escolhas foram realizadas por 26 membros, atualmente, acredita-se que estes sejam cerca de 9500. Recorde-se ainda que apenas duas categorias são abertas ao voto de todos os membros: Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro. Já que, em todas as outras, é necessário «conhecimento técnico para avaliação».

A Academia queria que os prémios simbolizassem toda a grandeza do evento. Foi o chefe dos artistas do estúdio MGM, Cedric Gibbons, que criou o conceito. Porém, a origem do nome é desconhecida. A própria Academia diz não ter certeza de quem foi o autor do nome e existem três versões para o seu surgimento: a mais conhecida diz que logo depois do escultor George Stanley – que executou a estatueta a partir do desenho original de Cedric Gibbons -, entregar as primeiras versões do troféu, a bibliotecária da Academia – e futura diretora executiva do sindicato -, Margaret Herrick, disse que a estátua parecida o seu tio Óscar (da noite para o dia, Óscar virou o tio mais famoso do mundo); a segunda teoria, parecida à primeira, diz que foi a atriz Bette Davis quem lhe colocou o nome ao comparar a estátua com o seu marido, o músico Harmon Oscar Nelson; a terceira possibilidade apresentada pela própria Academia diz que o nome Óscar pode ter surgido de um comentário de um jornalista. Aliás, em tempos, foi o próprio Sidney Skolsky que garantiu ser o autor do nome. A Academia acabaria por batizar oficialmente a estatueta com o nome Óscar em 1939.

Maiores vencedores e recusas

E quais os artistas mais premiados até aos dias de hoje? Segundo a GQ, Katharine Hepburn é «a rainha dos Óscares». A atriz americana, que teve uma carreira de mais de 60 anos, recebeu ao todo quatro estatuetas, todas elas de Melhor Atriz Principal. No entanto, Meryl Streep supera-a em nomeações: enquanto Katherine tem 12, Streep tem 21, mas recebeu o prémio apenas três vezes. Também Jack Nicholson, Daniel Day-Lewis, Ingrid Bergman e Walter Brennan receberam três prémios. Porém, só Day-Lewis faz o pleno na categoria principal – todos os outros (Streep incluída) ganharam o prémio como Secundários em pelo menos uma ocasião (Brennan ganhou nas três ocasiões, tornando-se assim o melhor ator secundário da história dos Óscares).

Relativamente aos filmes que ganharam mais Óscares, lidera a lista tanto o clássico Ben-Hur, realizado em 1959 por William Wyler, como Titanic, realizado em 1997, de James Cameron. Depois deles, vem a terceira parte da trilogia O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, que estreou em 2003. Os três filmes ganharam 11 prémios. Com dez estatuetas segue-se a versão de 1961 de West Side Story – Amor sem Barreiras, de Robert Wise e Jerome Robbins.

Mas quem pensa que estes são prémios irrecusáveis, engana-se. Em toda a história dos Óscares já houve três pessoas que os recusaram. Em 1935, o argumentista Dudley Nichols fê-lo por causa de um desacordo entre a Academia e o Writer’s Gild (WGA). Segundo a Globo, este recebeu o prémio pelo argumento de The Informer, mas como Hollywood vivia uma crise entre o sindicato dos argumentistas e os grandes estúdios e Nichols foi um dos fundadores do WGA, este argumentou que receber o prémio seria «virar as costas aos parceiros do sindicato» e «ignorar as injustiças que a classe sofria». Em 1938, viria a aceitar receber o prémio.

Já em 1971, pelo incrível trabalho no filme Patton, o ator George C. Scott venceu o prémio de Melhor Ator. Este já havia enviado uma carta à Academia a pedir que o seu nome fosse retirado da lista de nomeados, mas tal pedido foi ignorado. Na altura, à imprensa, escreve o jornal brasileiro, o artista chamou a premiação de «desfile bárbaro e corrupto de duas horas». Acabou mesmo assim por ganhar. Foi o produtor do filme que recebeu a estátua em seu nome. No dia seguinte, devolveu o prémio a pedido do mesmo.

Apesar de se seguir a estes dois, o caso de Marlon Brando, que venceu o prémio de Melhor Ator com O Padrinho, de 1972 e que se fez representar pela ativista Sacheen Littlefeather que leu um discurso que exponha todos os motivos do premiado para a recusa, é o mais popular. O ator estava em protesto contra o tratamento dado pela indústria cinematográfica aos nativos americanos. De acordo com a biografia do ator, The Contender: The Story of Marlon Brando, escrita por William J. Mann, toda a gente sabia que o ator não iria aparecer no evento e que enviaria uma «pessoa misteriosa» no seu lugar. Sacheen Littlefeather foi retirada de palco e há quem acredite que esta acabou por ser colocada numa lista negra oficiosa de Hollywood, já que nunca nunca chegou a ter uma carreira cinematográfica. Demorou 50 anos até a Academia lhe pedir desculpa. «Em relação ao pedido de desculpas da Academia, nós índios somos um povo muito paciente – só se passaram 50 anos! Precisamos de manter o nosso sentido de humor em todos os momentos. É o nosso método de sobrevivência», respondeu em 2022.

Além destes, o realizador Roman Polanski também não recebeu o seu Óscar de Melhor Realizador em 2003, pelo filme O Pianista. No entanto, as razões foram bem diferentes. O cineasta não pode entrar nos Estados Unidos, sob pena de ser preso (foi condenado pela violação de Samantha Geimer, que era menor à altura do crime). A Academia acabou por receber o Óscar em nome do realizador.

Óscares 2024

Este ano o grande destaque vai para Oppenheimer, de Christopher Nolan, com 13 nomeações, incluindo a de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Ator, Melhor Ator Secundário ou Melhor Atriz Secundária. Já Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos, tem 11 nomeações, o Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, tem 10, e Barbie, de Greta Gerwig, soma 8.

Além disso, nesta cerimónia participarão vários artistas portugueses: Um Caroço de Abacate de Ary Zara, está nomeado na categoria de Melhor Curta-Metragem, havendo também destaque para o produtor Joaquim dos Santos, responsável por Spider Man Into de Spider Verse e a fadista Carminho, que tem uma música em Pobres Criaturas, filme que conta com nomeação a Melhor Banda Sonora Original.