A não ser por pura cegueira ideológica, não conheço ninguém que defenda a extinção do Serviço Nacional de Saúde. Mesmo aqueles que um tanto diletantemente exibem bons seguros de saúde, e que porventura nunca conheceram os corredores de um hospital público, gostam, no fundo, de sentir o conforto de que no fim da linha há sempre uma porta que nunca lhes recusa a entrada (a que têm direito).
Tenho por certo que cada cidadão perceciona o funcionamento do SNS em função da experiência vivida. E essa perceção pode ser volátil ao longo do tempo, curto ou não, dependendo de múltiplos fatores. A ida a uma urgência ou um internamento podem ser uma experiência sem mácula num dia e uma experiência de contornos traumatizantes no dia seguinte. O fator determinante são as pessoas, os profissionais de saúde. E há-os para todos os gostos, embora me atreva a dizer que a evolução tem sido positiva.
Seria pura estultícia dizer que o SNS funciona na perfeição. Todos sabemos que não. E também sabemos que o embaciamento político-partidário distorce frequentemente a realidade. Neste aspeto, em particular, o SNS não pode dar grande ajuda. A lista de espera para cirurgia às cataratas é enorme.
Do complexo emaranhado que é a gestão hospitalar emergem por vezes serviços à comunidade que são de saudar. Embora lhe adivinhasse os fundamentos, só agora tive contacto com o chamada Hospitalização Domiciliária. Neste caso, no âmbito do Centro Hospital de Lisboa Ocidental, que engloba os hospitais de São Francisco Xavier, de Egas Moniz e de Santa Cruz.
Há pouco tempo, quando, num caso familiar que reunia as condições eletivas para o efeito, foi proposta a hospitalização domiciliária, a minha reação foi de alguma desconfiança, por certo inspirada na constante dúvida sobre a eficiência dos serviços públicos. Elencadas as vantagens, à cabeça das quais vinham a diminuição do risco de infeções hospitalares e o abrandamento do declínio físico e cognitivo, a proposta foi aceite e o doente passou a ser seguido no domicílio.
Assim, todos os dias, uma equipa passou a deslocar-se ao domicílio para as tarefas inerentes à recuperação de um doente que foi submetido a uma complexa neurocirurgia. Se umas vezes a equipa era constituída por médico e enfermeiro, noutras agregava nutricionista ou farmacêutico. Além disso, em caso de intercorrência, estava disponível um número telefónico, com garantia de atendimento 24 horas por dia. Cada dia, ao começo da noite, numa chamada de cortesia, uma voz empática perguntava como tinha decorrido o dia do doente.
Concluindo, há ilhas de excelência no SNS e há profissionais que vale a pena conhecer e a quem com muito gosto abrimos a porta de casa