Marques Mendes, Ana Gomes, Paulo Portas ora em campanhas eleitorais, ora a comentar nas TVs? Ora na tribuna, ora no estúdio? Ainda por cima – comentário individual – nem sequer é debate. Mas que regabofe é este?! Já que, agora sim, entrámos em longos dias (semanas?!) de reflexão, aproveite-se para equacionar que ser comentador político nos dias pares e comiceiro pelo PSD, PS ou outro partido qualquer nos dias ímpares é obsceno. Não devia ser necessária nenhuma entidade para que os órgãos de comunicação social não promovessem esses pseudo-analistas-políticos totalmente comprometidos. Rádios e televisões deviam chegar sozinhas a essa evidente conclusão e ter pinga de deontologia (já que os próprios não a possuem). Só que não. Mais. Por acaso até existem as ditas entidades – Entidade Reguladora da Comunicação Social e Comissão Nacional de Eleições – só que isto acontece na mesma. Como é que é possível que no período oficial de campanha estas pessoas estivessem em horário nobre ao lado de um líder partidário e a analisar a campanha desse mesmo líder e seus adversários quase em simultâneo?
Isto é tão óbvio que nem se pode falar de conflito de interesses mas tão só de República das Bananas. Das Bananas Podres. Não há sombra de isenção. Outros casos – como Ricardo Costa, diretor de informação da SIC, não se abster de comentar a situação política que envolve diretamente o seu próprio irmão – também merece reflexão. Até já tem estado nas televisões Pedro Costa, o próprio filho de António Costa, a analisar a governação do seu pai. Aliás, eu mesma cheguei a ter um debate com o primogénito do ex-PM na CNN, no qual não pude ignorar o elefante no meio da sala. Mas que sentido faz o colocar a escalpelizar a prestação do papá ?! Houvesse sombra de decoro e qualquer um destes protagonistas ter-se-ia abstido de perorar nos ecrãs . Mas lá está – não há pudor nem ética republicana… nem reguladores que, como se sabe, em Portugal vivem capturados pelo poder político e, eles mesmos, pouca independência revelam.
Aliás, essas instituições são pródigas em perder tempo e recursos em minudências ou minúcias enquanto ignoraram assuntos magnos como o em apreço ou a violação boçal de iguais oportunidades para as diferentes forças políticas. Afinal , como é que foi possível que nem a RTP ou a Lusa –com as devidas obrigações de serviço público – não entrevistassem os 24 partidos em competição? Na democracia há vencedores à partida? Dispensa-se o voto?! Claro que estes reguladores fracos depois também precisam de se mostrar muito fortes e com tiques ditatoriais como o exibido no domingo eleitoral quando a dita ERC proibiu os jornalistas de referir a questão do ADN/AD. Enfim, pífios que se regozijam com estas vitórias de Pirro, como o próprio dia de reflexão.
Mas o que toda este triste cortejo revela ainda é que os órgãos de comunicação social transformaram-se em rampas de lançamento ou redes de salvação e resgate de políticos. Advieram centros de propaganda, escancarados porta-vozes do poder. Perigosos pés de microfone já que distorcem a opinião pública, condicionam-na, moldam-na a seu bel-prazer, comprometendo a própria democracia e a liberdade de informação. E depois… fazem greve. A sério?
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