A recetora do vestido e o agonista do recetor

A lista de celebridades que recorrem ao semaglutido é extensa e inclui nomes como Oprah Winfrey, Elon Musk e Khloé Kardashian.

Como forma de perder peso, cada vez mais pessoas recorrem a um medicamento originalmente concebido para quem sofre de diabetes do tipo 2. Disponível sob os nomes de Ozempic, Rybelsus e Wegovy, entre outros, a sua utilização para tal fim disparou desde que várias celebridades de Hollywood admitiram usá-lo para emagrecer rapidamente sem sentir fome. Outras nem precisaram de o confessar, como foi o caso, por exemplo, de Kim Kardashian, que se limitou a revelar à revista Vogue que perdeu mais de 7 kg em três semanas, a tempo de poder apresentar-se na Met Gala com o vestido que Marilyn Monroe usou a 19 de maio de 1962, quando cantou Happy Birthday, Mr. President a John F. Kennedy durante um evento de angariação de fundos para o Partido Democrata, no Madison Square Garden, em Nova Iorque.

Num indivíduo saudável, uma entrada significativa de glicose (açúcar) na corrente sanguínea induz o pâncreas a produzir insulina, que é uma hormona que atua como chave que abre as ‘portas’ das células à glicose. Dentro das células, esta é metabolizada através de processos bioquímicos, produzindo a energia de que o organismo precisa, seja para a atividade muscular, seja para a manutenção das funções vitais. Quando a insulina não consegue abrir adequadamente as ‘portas’ das células, a glicose acumula-se na corrente sanguínea. Essa condição, conhecida como hiperglicemia, verifica-se em quem sofre de diabetes, uma doença que em 2021 já afetava 537 milhões de adultos em todo o mundo. Na grande maioria dos casos trata-se de diabetes do tipo 2. Associada a hábitos de vida como o sedentarismo e uma alimentação inadequada, caracteriza-se pela resistência à insulina e pela produção insuficiente desta pelo pâncreas. Por sua vez, o tipo 1 resulta essencialmente da destruição súbita e irreversível das células pancreáticas, geralmente por inflamação autoimune.

No Ozempic e nos seus congéneres, a substância ativa é o semaglutido, que é um análogo do GLP-1 (do inglês glucagon-like peptide-1, ou seja, ‘péptido semelhante à glicagina-1’), uma hormona peptídica do trato gastrointestinal que desempenha um papel crucial na regulação dos níveis de glicose no sangue, particularmente através do controlo da produção de insulina. O mecanismo de ação do semaglutido envolve a ligação deste a um recetor específico (GLP-1r), expresso principalmente em células do pâncreas, mas também do cérebro, coração e trato gastrointestinal. Dessa ligação resulta a estimulação do recetor – substâncias que estimulam os recetores dizem-se agonistas –, desencadeando uma série de efeitos fisiológicos que se traduzem na diminuição dos níveis de glicose no sangue, no retardamento do esvaziamento gástrico e, por ação hipotalâmica (ou seja, no cérebro), reduzindo o apetite e aumentando a sensação de saciedade.

É desta forma que os indivíduos que recorrem ao agonista do GLP-1r perdem peso sem passar pelos rigores de uma dieta. Contudo, salvo os casos de obesidade severa, tal aplicação configura uma utilização off-label, ou seja, um uso distinto daquele para o qual o medicamento foi criado e aprovado. O uso off-label do semaglutido para fins estéticos tem algum paralelismo com o Botox, uma potente neurotoxina que, na década de 1970, foi originalmente aprovada para uso médico como relaxante muscular. Como é bem sabido, hoje é mais conhecida pela sua aplicação para fins estéticos.

A lista de celebridades que alegadamente recorrem ao semaglutido é extensa e inclui nomes como Oprah Winfrey, Elon Musk e Khloé Kardashian. A irmã desta última apenas usou o célebre vestido de Marilyn por breves minutos à entrada da referida gala, tendo-o de seguida substituído por uma cópia. No entanto, apesar dos cuidados da socialite com tão mítica peça – sentar-se, por exemplo, estava fora de causa – parece que a mesma ficou danificada. Adquirido em 2016 pelo museu Ripley’s Believe It Or Not num leilão por 4,8 milhões, o vestido encontra-se guardado num cofre escurecido, a uma temperatura controlada de 20°C e com uma humidade de 40-50%. Da autoria dos estilistas Bob Mackie (n. 1939) e Jean-Louis (1907-1997), esta verdadeira escultura, que, ao que consta, foi cosida diretamente sobre o corpo de Marilyn, custou na época 1440 dólares. A performance no Madison Square Garden foi uma das últimas aparições públicas da atriz. Morreu – em circunstâncias misteriosas – menos de três meses depois, a 4 de agosto de 1962.