Esta semana celebrou-se o Dia do Pai que é, provavelmente, aquele que junta mais pais e filhos durante o ano. Embora todos saibamos da importância desta relação, por vezes andamos um pouco esquecidos ou demasiado ocupados para lhe dedicarmos o tempo merecido.
Quando o bebé nasce e nos meses seguintes, muitos pais conseguem ter um papel ativo e constante nos cuidados do filho. Sobretudo se puderem gozar de licença parental. O vínculo desenvolve-se quando lhe dão banho, trocam a fralda ou o vestem, enquanto conversam e brincam com ele, o fazem rir e se vão deliciando com as suas gracinhas e reações. É assim que se vão descobrindo e conhecendo.
Depois o pai regressa ao trabalho, o bebé acaba por ir para a escola e, embora continuem todos a viver na mesma casa, por vezes o tempo para estarem juntos vai passando para segundo plano, depois de um enorme conjunto de tarefas e responsabilidades.
Durante os primeiros anos há sempre novidades, porque tudo acontece pela primeira vez: o sorriso, o riso, os primeiros passos, as primeiras palavras, a primeira sopa, mas com o tempo a relação tende a fazer-se de pequenos encontros. Como as conversas no carro a caminho da escola ou durante as refeições ao final do dia, as pequenas brincadeiras, a cumplicidade, os bocadinhos que se vão roubando à falta de tempo, a história antes de dormir, quando é possível, ou o beijinho enquanto os aconchegam aos lençóis. E se assim for, já não é mau. Mas às vezes nem esses bocadinhos são possíveis.
O ideal seria que houvesse ‘Dia do Pai’ mais vezes ou todos os dias um bocadinho, para estar, conversar, passear ou fazerem alguma coisa em conjunto de que gostem.
Nas escolas o Dia do Pai costumava ser preparado semanas antes, para as crianças receberem os pais com tudo a que têm direito: um bolinho, um café, uma música, uma dança ou uma pequena peça ensaiada para eles, uma brincadeira ou uma atividade para fazerem em conjunto. Costumava ser um dia muito ansiado, porque os mais pequenos dedicavam-se e preparavam-se para receber o pai no seu espaço o melhor possível.
Acontece que paralelamente a toda esta alegria e boa disposição por vezes havia meninos que não podiam comemorar o dia da mesma forma porque o pai não podia estar presente. Para evitar situações destas, muitas escolas passaram a optar por deixar cair o convite para o pai e guardá-lo para o Dia da Família uns meses depois.
Sabemos que há cada vez mais crianças que vivem sem o pai – há três anos foram registados cerca de dois bebés por dia apenas com o nome da mãe –, o que é bastante preocupante e nos devia fazer refletir. Mas abolir o Dia do Pai nas escolas só vai fazer com que a figura do pai se desvalorize, sem que ninguém beneficie efetivamente. Para acompanhar a mudança dos tempos e sobretudo para que as crianças que não podem ter o pai presente não se sintam tristes ou magoadas, o Dia do Pai devia ser aberto a outras figuras que acabam por colmatar o seu papel: o avô, o tio, o irmão, o vizinho e, à falta de haver uma figura masculina, que seja uma figura feminina que possa estar presente e assegurar que ninguém se sente sozinho. Com esta tendência a aumentar, talvez o Dia do Pai se pareça realmente mais com um Dia da Família, mas desistir dele é não só não dar às crianças a oportunidade de convidarem os pais para um dia diferente, como fazê-las acreditar que deixou de ser um dia para comemorar e assumir que a figura do pai caiu definitivamente em desuso.