Torna-se agora claro que o evangelista João, ao escrever no Livro do Apocalipse «quando o primeiro anjo tocou a trombeta, houve granizo e fogo misturado com sangue que foram lançados sobre a terra», estava a profetizar o milhão de votos no Chega. Depois, no século XII, os monges do mosteiro do Lorvão ao ilustrarem a parábola da ceifa e da vindima criaram foices que mais não são do que a letra C de Chega. E, por fim, nas suas ilustrações do Apocalipse o alemão Dürer criou uma meretriz da Babilónia com evidentes semelhanças transgénero com André Ventura.
Os sinais do Apocalipse Ventura foram transmitidos ao longo dos séculos, claríssimos, e só quem andou distraído pode ter ficado admirado com os resultados do seu partido.
Entretanto, a compra de camisas negras disparou, o que significa que o milhão de fascistas apocalípticos liderados pelo Duce Ventura irá marchar sobre Lisboa para tomar o poder. Obviamente, ao Presidente Marcelo não restará outra alternativa do que imitar o Rei Victor Emanuel II. Ao mesmo tempo, para se protegerem contra os camisas negras, os ciganos reforçaram o seu stock de caçadeiras e outras armas de fogo – mas estando na dúvida se continuam a vestir-se de preto ou não. Eu próprio, pelo sim pelo não, subi de binóculos ao telhado da minha casa, não vão estes fascistas se lembrarem de imitar os comunistas do PREC que pretendiam expulsar a minha família da sua propriedade.
Por sua vez, liderados por La Comandante Mortágua, a Extrema-Esquerda recuperou as armas roubadas dos quartéis durante o referido PREC e está a criar barricadas no Rossio aos gritos de Não Passarão!, Fascismo Nunca mais! e Pedro junta-te a nós! Mas o Pedro, que ao contrário deles teve um digno reconhecimento de derrota na noite eleitoral, e que não alinha na tentativa estalinista de apagar um milhão de eleitores, não está com vontade de cantar a Grândola Vila Morena.
Por último, os jornalistas e comentadores das linhas vermelhas, tendo percebido que a sua estratégia foi a melhor propaganda que o Chega poderia ter, compreenderam que o povinho os ignora, que a verdadeira linha vermelha vai da Coreia do Norte a Cuba atravessando a Rússia, e que a Deus o que é de Deus e a César o que é de César – ou seja, o jornalismo não se deve misturar com política. Ou talvez não tenham percebido nada.
Seja como for, na batalha entre as forças do Bem e as forças do Mal – acrescidas do social-fascista Montenegro e do liberal-fascista Rocha – a única vítima será o povo português.
Escritor