O nosso sargento-mor, na pessoa do Presidente Marcelo, poderá achar necessário amarrar palha nas pernas esquerdas e feno nas pernas direitas dos novos recrutas que em breve se apresentarão ao serviço no quartel de S. Bento. Só assim poderão ser recordados dos seus manifestos eleitorais, nos quais foram feitas promessas a um grupo de eleitores díspares.
O velho conceito político de um arranjo linear de partidos que vão desde comunistas na “extrema esquerda” até fascistas na “extrema direita” com uma miscelânea central de Socialistas, Liberais, Conservadores, Democratas, Monárquicos e Republicanos está a ser substituído por um diagrama circular sem extremidades. Culpem o populismo, se quiserem, mas as antigas crenças e costumes têm nuances a tal ponto que nenhum partido em particular pode hoje em dia reivindicar um monopólio na sua aplicação de políticas.
Os anti e os prós de controvérsias como o controlo da imigração, as alterações climáticas, a eutanásia, a aplicação da lei e a belicosidade já não podem ser contidos em qualquer caixa de truques partidária específica. Todos eles se sobrepõem de acordo com o que os políticos consideram mais atraente para os eleitores do sufrágio (quase) universal, cuja resposta é previsivelmente caprichosa.
Os psefologistas que tentaram analisar os dados incertos recolhidos pelas sondagens de saída após o escrutínio supostamente secreto de 10 deMarço estão a concluir que os 1,15 milhões de votos para o partido Chega vieram em grande parte do Partido Socialista e dos abstencionistas descontentes provenientes principalmente dos “colarinhos azuis”, fileiras” de homens com ensino secundário. Se assim for, as suas convicções políticas anteriores (ou a sua falta) podem diluir as opiniões mais extremas dos militantes fundadores que irão compor os 50 mandatos que representam agora uma terceira força dinâmica no parlamento.
Seja como for, devemos admitir que o espectro político se encontra numa encruzilhada em que o conceito tradicional de democracia ocidental é cada vez mais frágil e é desafiado por um regresso ao despotismo benevolente ou, mais provavelmente, por uma selecção ciber-disciplinada de a nossa governação pelos senhores da Internet assistida pelos robôs da IA.
Há um século, aquele influenciador presciente, Winston Churchill, afirmou “O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com o eleitor médio”. Uma breve pesquisa nos comentários políticos feitos pelos cibernautas em 10 de Março poderia muito bem chegar à mesma conclusão.
As perspectivas são sombrias. Uma segunda eleição este ano poderá muito bem ser causada pela frustração populista e resultar em trazer o descontentamento do Chega para o primeiro plano do nacional-socialismo, tornando-se a segunda ou mesmo a primeira força num parlamento fracturado.
O sargento Marcelo pode impedir decisivamente esta lamentável ameaça ao sistema democrático português, emulando presidentes contemporâneos mais poderosos na nomeação de uma coligação de ministros capazes e bem qualificados provenientes de todos os níveis da sociedade. Mas esta só pode ser uma solução efémera num perigo crescente de revolução global.
Tomar, 26 de março de 2024