Não costumamos pensar na história dos nossos bancos. Limitamo-nos a recorrer aos seus serviços sem interrogar quando nasceram e de que forma – mesmo se a antiguidade é, de uma forma geral, sinónimo de confiança. Olhando para trás, 180 anos é muito tempo. Esta é a idade que completa este mês aquele que é considerado o banco mais antigo do país: o Banco Montepio.
“O Banco Montepio é um banco com alma de gente, onde cabem todas e todos: universal, intergeracional, interclassista e multicultural. Promove a diversidade, a equidade e a inclusão. É um banco de causas desde 1844, data da sua fundação”, afirma ao i fonte do próprio banco. Ao longo destes quase dois séculos de existência, de “inspiração mutualista”, tem desempenhado um papel económico e social “vital”, tanto cá, como além-fronteiras, “levando mais longe a sua missão de fazer a diferença na vida de cada pessoa, de cada família, de cada empresa e de cada instituição da economia social”.
Único em Portugal
Autorizado, por carta régia de Dona Maria II de 4 de janeiro de 1844, como entidade anexa ao Montepio Geral – Associação Mutualista, é a mais antiga instituição financeira de Portugal, e única no panorama financeiro nacional pela sua origem e base mutualista e, consequentemente, pela sua vocação de instituição de poupança e de disponibilização de serviços financeiros universais para os clientes particulares, em todas as fases da sua vida, para os clientes do setor empresarial e para as instituições da economia social e empreendedores sociais.
Tendo por base a natureza da instituição de amealhar pequenas quantias, em 1928, criou os “cofres-mealheiros” na Caixa Económica a pensar no seu público “mais modesto” – nos depositantes cujo perfil profissional em 1926 era representado em 37% por mulheres com profissões não qualificadas e 29% de homens trabalhadores da indústria e serviços.
Recorde-se que, a partir dos anos 30, os bancos portugueses alargaram a sua esfera de influência, abrindo sucursais longe da casa-mãe. Em 1931, o Montepio abriu a primeira filial no Porto que se tornou rapidamente independente em relação à casa-mãe. No entanto, a ideia de abrir balcões nas diferentes capitais de distrito só foi aprovada em 1943, mais tarde do que a maioria dos outros bancos. O projeto levou anos a concretizar-se devido “à dificuldade em obter a autorização do Governo”. A primeira autorização deu-se para Évora. O balcão foi inaugurado em 1946 com competências para realizar operações de depósito, transferências e empréstimos hipotecários. Seguiu-se o balcão de Faro e de Coimbra.
Em 1984 – ano em que comemorou o 140º aniversário –, lançou a primeira rede nacional de máquinas de transferência de fundos (ATM) – Chave24 –, um projeto inovador que alterou a relação entre os clientes e as instituições de crédito. Em publicidade da época, lia-se: “O seu Banco em serviço a qualquer hora. Dinâmico e voltado para o futuro, o Montepio Geral coloca agora nas suas mãos a CHAVE 24. Um cartão pessoalíssimo que representa um serviço de vanguarda. CHAVE 24 abre-lhe um balcão só para si. CHAVE 24 dá-lhe acesso às operações bancárias mais frequentes. CHAVE 24, o seu banco em serviço, todos os dias, a qualquer hora do dia e da noite. Rápido. Fácil. Seguro. À medida do seu dinamismo.”
Tal como se sabe, o pelicano sempre foi o símbolo do banco. No princípio, víamos um pelicano protetor a alimentar um segundo pelicano. Recorde-se que esta ave marinha é vista como um “expoente máximo do altruísmo” – quando alimentam as suas crias, dá a impressão que estas retiram o alimento do peito. Em 2019, o Banco Montepio mudou de imagem. “Na nova imagem passa a aparecer apenas um pelicano com uma nova postura corporal. Agora, de cabeça erguida, o pelicano pretende mostrar a força e confiança de um banco preparado para os desafios futuros”, justificou o banco na altura. Foi também neste ano que o Montepio, fundado com o nome Caixa Económica de Lisboa, mudou a marca comercial para Banco Montepio, deixando para trás o nome Caixa Económica Montepio Geral, que lhe tinha sido dado em 1989.
Com sede em Lisboa, conta com uma rede de 255 balcões em território nacional e 5 escritórios de representação no Canadá, nos Estados Unidos da América, em França, na Alemanha e na Suíça, nas cidades de Toronto, Newark, Paris, Frankfurt e Genebra, respetivamente. O seu CEO é atualmente Pedro Leitão.
O mais antigo do mundo
Segundo o seu site oficial, o Monte dei Paschi di Siena (MPS) é considerado o banco mais antigo do mundo. Surgiu em 1472 a mando das Magistraturas da República de Siena, como um Monte Pio (agência de penhores) e foi “expressamente instituído para prestar auxílio às classes mais desfavorecidas da população, durante um período de particular dificuldade para a economia local”. “A sua atividade, dando continuidade às grandes tradições comerciais e bancárias da cidade de Siena, evoluiu rapidamente para a banca clássica, especialmente após as reformas de 1568 e 1624”, lê-se no texto de apresentação do banco. De 1907 a 1939, o MPS expandiu-se além das fronteiras das suas duas províncias tradicionais (Siena e Grosseto) e iniciou operações num número crescente de regiões. Durante este período abriu filiais em Empoli, Florença, Perugia, Nápoles e Roma, tendo participado ainda na fundação da Banca Toscana.
Seis anos mais tarde, em reconhecimento ao seu estatuto jurídico público, foi oficialmente declarado “instituição de crédito de direito público”, recebendo um novo estatuto, que – com algumas modificações posteriores – permaneceu em vigor até 1995, quando o banco foi profundamente transformado no nível institucional. De 1946 a 1989 o banco abriu filiais e escritórios nos principais centros financeiros do mundo: Nova Iorque, Singapura, Frankfurt e Londres.
Além disso, segundo o seu site oficial, o MPS foi o primeiro banco na Itália a diversificar em seguros, através do MontePaschi Vita.
Em agosto de 1995, um decreto do Ministro do Tesouro deu origem a duas entidades: a Fondazione Monte dei Paschi di Siena e o Banca Monte dei Paschi di Siena SpA. A primeira com um cariz solidário e de investigação e a segunda exercendo atividades de “crédito, finanças e seguros”. Em junho de 1999, o Banca Monte dei Paschi di Siena foi cotado na bolsa de Milão, o que segundo o MPS, foi “um marco fundamental no processo de fortalecimento da dimensão e da competitividade do Grupo”.
Em 2017, foi alvo de resgate com um aumento de capital de 8,3 mil milhões de euros, com o Ministério da Economia e Finanças a tornar-se o acionista maioritário do banco. No ano passado, ficámos a saber que o Estado italiano está a vender cerca de 20% do MPS por pelo menos 728 milhões de euros, como parte do “plano para alienar a instituição que tinha sido alvo de um resgate que levou à sua nacionalização”. A operação de venda estava inicialmente prevista para 2021. No entanto, foi estendida até este ano.