A aceleração do derretimento da Gronelândia e da Antártida está a adicionar mais água aos mares do mundo, redistribuindo massa. Tal está a diminuir ligeiramente a rotação da Terra, segundo um estudo. Mas o planeta ainda gira mais rápido do que antes. O efeito é que os cronometristas globais podem precisar de subtrair um segundo dos nossos relógios mais tarde do que seria o caso. “O aquecimento global já está a afetar a cronometragem global”, lê-se no estudo, publicado na revista Nature. O Tempo Universal Coordenado (UTC) – que é usado pela maior parte do mundo para regular relógios e tempo – é calculado pela rotação da Terra. A questão é que a taxa de rotação da Terra não é constante e pode, portanto, afetar a duração dos nossos dias e noites. As mudanças no núcleo líquido do planeta fizeram com que a Terra girasse um pouco mais rápido.
Desde a década de 70 do séc. XX, para corrigir isto, cerca de 27 segundos bissextos foram adicionados ao relógio global, com os cronometristas a planear subtrair um segundo pela primeira vez em 2026. Isto é conhecido como “segundo bissexto negativo”. No entanto, o estudo conclui que o derretimento do gelo causado pelas alterações climáticas compensou parcialmente essa aceleração. As camadas de gelo estão agora a perder massa cinco vezes mais rapidamente do que há 30 anos, o que significa que a mudança negativa do segundo bissexto não será necessária até 2029. “É impressionante, até para mim, termos feito algo que muda de forma mensurável a velocidade de rotação da Terra”, disse Duncan Agnew, autor do estudo, à NBC News. “Estão a acontecer coisas sem precedentes”.
O segundo intercalado negativo nunca foi utilizado anteriormente e, segundo o estudo, a sua utilização “representará um problema sem precedentes” para sistemas informáticos em todo o mundo. “Isso nunca aconteceu antes e representa um grande desafio para garantir que todas as partes da infraestrutura global de cronometragem mostrem a mesma hora”, disse Agnew, investigador da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos EUA, à agência de notícias AFP. “Muitos programas de computador para segundos bissextos assumem que todos são positivos, então estes teriam de ser reescritos”, acrescentou. À sua vez, Demetrios Matsakis, ex-cientista-chefe dos serviços de tempo do Observatório Naval dos EUA, disse à AFP que “a Terra é muito imprevisível para ter a certeza se um segundo bissexto negativo será necessário em breve”.
As atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, estão a causar o aumento da temperatura mundial. Esse aumento da temperatura está a ter um enorme efeito no ambiente, incluindo o rápido derretimento dos glaciares e das camadas de gelo. Tanto que um estudo científico recente – publicado na Nature – alerta que, com o derretimento inevitável dos glaciares devido ao aquecimento global, o mundo precisa de começar a preparar-se para proteger os ecossistemas que emergem dessas áreas antes cobertas de gelo. Caso não sejam tomadas medidas significativas para conter o aquecimento, poderemos perder glaciares que somam uma área equivalente à Finlândia até ao ano 2100. Mesmo se as metas do Acordo de Paris forem cumpridas, ainda é previsto um considerável declínio das massas de gelo, do tamanho aproximado do Nepal. Este declínio é uma preocupação crescente e destaca a necessidade urgente de intensificar os esforços para combater as mudanças climáticas.
Os glaciares desempenham papéis vitais, refletindo a luz solar e fornecendo água doce para diversas necessidades humanas. A redução da cobertura de gelo exigirá adaptação e ações para mitigar os seus impactos. Esforços estão a ser feitos para retardar o recuo dos glaciares, mas é crucial proteger os ecossistemas emergentes, como florestas e lagos, após o derretimento dos glaciares. O estudo analisou mais de 210.000 glaciares em todo o mundo e descobriu que, em 2020, cobriam uma área de cerca de 665.000 quilómetros quadrados. Dependendo dos diferentes cenários climáticos, poderíamos perder entre 149.000 e 339.000 quilómetros quadrados de gelo até ao final do século.
Em abril do ano passado, foi divulgado o então relatório mais recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM) referente a 2022, que destacou um ritmo dramático de derretimento dos glaciares e diversos indicadores de mudanças climáticas atingindo níveis recorde. A OMM, uma agência da ONU, observava que o gelo marinho na Antártida atingiu o seu nível mais baixo já registado, enquanto alguns glaciares europeus estavam a derreter a uma velocidade sem precedentes. O relatório anual sobre o estado do clima global enfatiza as mudanças em terra, oceanos e atmosfera, atribuídas aos níveis recorde de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global ao reter calor. No ano anterior, o relatório referente a 2021 destacou recordes em quatro indicadores-chave das mudanças climáticas: concentrações de gases de efeito estufa, aumento do nível do mar, temperatura e acidificação dos oceanos.