Esta é a Semana da Páscoa: um dia, com oito dias, com oito semanas. Desde o domingo de Páscoa, durante nove semanas, é como se fosse um só dia. Trata-se de uma Primavera que rompe com as trevas do inverno e faz surgir a luz do Sol, com todas as flores dos campos… A Primavera traz consigo uma luz imensa que anima toda a criação. A Primavera renova a vida que há nos homens. O próprio profeta Isaías tinha já profetizado na noite de Natal: «O povo que caminhava nas trevas, viu uma grande luz. Para aqueles que viviam na sombria região da morte, uma luz brilhou». Esta promessa que é feita aos homens no Natal, fez-se carne na Primavera.
Os homens viram na Ressurreição de Jesus Cristo, uma Primavera que faz brilhar a luz para toda a humanidade. Gosto de ver o teatro da política durante estes dias. Dá-nos cor aos dias cinzentos que nos habitavam e abre-nos um tempo de arte: uma jarra de flores que surge na escuridão. Olhando para o teatro político, acreditamos que estamos diante de umas madalenas puras e imaculadas que lutam contra o dragão transformado em serpente. Cada agente político está no sítio certo, no palco, acima dos espetadores que nem pipocas podem comer a ver as cenas passar, para observar atentamente o desenrolar da sessão. Aliás, faz parte do jogo democrático. Homens, representantes do povo, que lutam pelos interesses do povo, mas que se esquecem do povo para jogar o seu jogo. Melhor do que isto, só mesmo as novelas mexicanas.
Veremos que os lobos que andam vestidos de cordeiros nos irão fazer acreditar que o lobo mau quer tomar o poder e pretende, antes de mais, comer o capuchinho vermelho, inocente e pobre, que é a imagem do povo. Quando vemos esta telenovela política nem sequer conseguimos perceber quem é o bom e quem é o mau, quem maquinou por detrás de quem e quem é aquele que não está a mentir. Sim, nós já nem queremos que nos digam a verdade, mas que nos deixem compreender quem são os que nos metem.
Isto, no entanto, é muito difícil. Quem votou em quem, quem legitimou ou vai legitimar o governo de AD? Quem fez acordos com quem? Não sabemos, nem nunca iremos saber, porque, para sabermos, seria preciso termos o conhecimento daquilo que nunca saberemos. No fundo, todos os que se nos apresentam nestas cenas, têm apenas uma promessa: havemos de vos libertar! Eles querem, realmente, avançar com a libertação do inverno para nos fazer introduzir na primavera florida da nova governação, da nova política. Tudo isto, porque o diabo está ali à porta. O lobo mau… mauzão da direita… mauzão da esquerda… A Páscoa é, realmente, uma passagem, um caminho de uma escravidão para uma vida nova, uma nova primavera que surge na natureza, mas que se estende para o homem. O inverno dos dias escuros que pairavam sobre nós, hão de ter agora um sentido novo, com o aparecimento do poder de um Deus que vence a morte de todos os homens.
Hoje, tenho a certeza que os discursos políticos são muito previsíveis e que nos hão de libertar de pouco. Aliás, o que espero que o Governo me possa libertar é do dinheiro que pago para os impostos em cada ano. Desse dinheiro já não me sentirei mais escravo, mas apenas ciumento. Eu, afinal, como todos os homens, queria ficar com todo o dinheiro que ganho para não ter de pagar a segurança social que subsidia o serviço nacional de saúde, e depois ter de pagar um seguro. Neste ponto… os sucessivos governos têm-nos libertado de tudo o que ganhamos… porque nos obrigam a gastar.
A Primavera… surge!
A Páscoa é uma passagem, um caminho de uma escravidão para uma vida nova, uma nova primavera que surge na natureza, mas que se estende para o homem.