Turismo no Interior. O encanto dos passadiços

O turismo no Interior de Portugal tem sido alvo de crescente atenção e investimento nos últimos anos. O Governo tem implementado diversas iniciativas para valorizar o potencial turístico destas áreas e atrair visitantes, tanto nacionais como internacionais.

Habitualmente, o turismo concentra-se nas áreas do litoral. No entanto, um estudo da Universidade de Coimbra revelou que a pandemia de covid-19 levou os portugueses a redescobrirem os destinos rurais. Os investigadores acreditam que isto pode impulsionar uma mudança para um modelo de turismo mais sustentável, com uma redistribuição dos fluxos turísticos e um foco maior no mercado interno e no turismo doméstico. O estudo, baseado num questionário aplicado a 685 turistas nacionais que viajaram por Portugal entre junho e setembro de 2020, descobriu que, embora as praias ainda fossem o destino mais popular, houve um aumento no interesse por áreas rurais, montanhosas e fluviais.

Já em 2022, o turismo em Portugal alcançou resultados recorde, e os primeiros meses de 2023 mostraram que o crescimento continuava. No entanto, apesar dos ganhos quase duplicarem, atingindo 451 milhões de euros, a maioria da atividade turística, cerca de 90%, ocorre nas regiões costeiras, que recebem 95% dos visitantes internacionais. Para abordar essa disparidade, o Governo lançou um plano de investimento de 200 milhões de euros, como parte da Agenda do Turismo para o Interior. Além disso, uma nova campanha de promoção, intitulada “Viaja pelo teu interior”, foi anunciada, visando atrair mais turistas para essas áreas menos exploradas.

Desde maio de 2023, o Turismo de Portugal aprovou apoios para 81 projetos de turismo em concelhos do Interior de Portugal, totalizando 9,4 milhões de euros de um investimento total de 20 milhões de euros. Além disso, foram recebidas 268 candidaturas para as 12 medidas da Agenda do Turismo para o Interior, que têm uma dotação total de 200 milhões de euros. Uma das medidas é a Linha +Interior Turismo, que em janeiro já tinha aprovado seis projetos e tinha mais 12 a serem contratualizados, visando fortalecer o turismo no interior do país e promover a coesão territorial. Estes projetos incluem iniciativas como a criação de centros náuticos, impulsionar o enoturismo, melhorar acessibilidades em praias e requalificar espaços históricos. O financiamento pode chegar a 70% do investimento elegível, com um máximo de 400 mil euros por projeto.

Além desta medida, existem outras. O Microcrédito +Interior Turismo, através do qual é disponibilizado o valor de 15 milhões de euros para micro e pequenas empresas, oferecendo empréstimos sem juros, com até 30% do montante concedido como prémio de desempenho; a Linha de Crédito com Garantia Mútua, com 35 milhões de euros destinados a projetos de criação, crescimento e apoio de tesouraria, com maior garantia para projetos no interior; a Linha de Apoio à Qualificação da Oferta, com um reforço de 50 milhões de euros, gerida pelo Turismo de Portugal, para promover a qualificação da oferta turística no interior; o Capitalizar Turismo +Crescimento que, com 10 milhões de euros para operações de capitalização de empresas, visa a expansão, a internacionalização ou melhoria da competitividade; o Fundo de Investimento Imobiliário para o Interior, destinando 15 milhões de euros à criação, crescimento ou expansão de negócios com base em ativos imobiliários; o Programa Regressar +Interior Turismo, com 400 mil euros para incentivar a mobilidade de pessoas para empresas turísticas do interior; o Estudar Turismo no Interior, que oferece 200 mil euros para incentivar a mobilidade de estudantes do litoral para as Escolas de Hotelaria e Turismo localizadas no interior e a majoração do apoio ao Portugal Events, com um acréscimo de 25% para estimular a realização de eventos no interior.

Relativamente ao estudo desta área, já existem cursos conceituados em território nacional, como o mestrado em Turismo de Interior – Educação para a Sustentabilidade da Escola Superior de Educação de Coimbra. A coordenadora do mesmo, a professora Adjunta Susana Lima, explica ao i que “o programa do mestrado foi projetado para preencher uma lacuna na oferta educacional, focando-se no desenvolvimento sustentável do turismo interior”, explicando que existem “parcerias entre os diferentes agentes envolvidos no setor turístico”. 

“Não havia e não há, efetivamente, um mestrado com esta especificidade ao nível do turismo de interior, com foco, obviamente, no desenvolvimento sustentável, naquilo que são as diretrizes internacionais e nacionais, relativamente ao cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, naquilo que são as opções e o desenvolvimento da oferta turística para o interior, que nós entendemos naturalmente que deve ser uma oferta valorizada, portanto deve-se fazer uma valorização da oferta turística do interior”, adianta, acrescentando que “este mestrado tem ênfase no turismo interior na prática, incluindo visitas de estudo ao território e interação com profissionais do setor”.

Contudo, as candidaturas a este curso de 2.º ciclo serão interrompidas devido ao lançamento do mestrado em Gestão Turística e Inovação Territorial, que terá a mesma base mas algumas novidades como a questão da importância da acessibilidade a todos, independentemente das suas condicionantes físicas e/ou psicológicas, no turismo.

O reconhecimento dos passadiços 

Dos 81 projetos de turismo em concelhos do Interior do país, alguns estão relacionados com passadiços. Por exemplo, será construído um Centro Náutico em Juromenha, que incluirá um ancoradouro, áreas de lazer, restaurante e serviços, além de acessos, estacionamento e uma ligação pedonal à vila. O projeto terá uma área de intervenção de cerca de 18.275 m2, localizado próximo à água da barragem do Alqueva. A integração com o ambiente será realizada por meio de passadiços em madeira. Em Vila Velha de Rodão, o Lagar Varas do Enxarrique será requalificado com a construção de um edifício de apoio ao turista, um passadiço e um elevador semi-panorâmico.

Os Passadiços do Mondego, localizados na região da Guarda, foram reconhecidos nos World Travel Awards como o Projeto Líder de Desenvolvimento do Turismo em 2024. Este percurso, com cerca de 12 quilómetros de extensão, conecta a Barragem do Caldeirão à aldeia de Videmonte, na Guarda. Desde a sua inauguração em novembro de 2022, os Passadiços do Mondego já receberam mais de 130 mil visitantes. Localizado no Parque Natural da Serra da Estrela e no Estrela Geopark Mundial da UNESCO, o percurso aproveita caminhos existentes, oferecendo passadiços de madeira e pontes suspensas ao longo do trajeto.

Em outubro de 2022, os Passadiços do Paiva, localizados no Arouca Geoparque, ganharam reconhecimento internacional ao também serem premiados nos World Travel Awards como a Melhor Atração Turística da Europa. A divulgação da ponte suspensa, a 516 Arouca, contribuiu ainda mais para a popularidade dos Passadiços do Paiva. Desde a sua abertura e até àquela data, os passadiços haviam recebido mais de 1,5 milhões de visitantes.

Mas existem outras passagens famosas. Os Passadiços do Sistelo, situados em Arcos de Valdevez, ganharam destaque como uma atração turística de renome desde 2007, quando foram elevados a Património Nacional. Reconhecidos como “o pequeno Tibete Português”, oferecem um percurso de cerca de 19 km, parte integrante da Ecovia do Vez, que pode ser estendido para 32 km. Ao longo do percurso, os visitantes podem desfrutar de vistas panorâmicas deslumbrantes, atravessar pontes medievais, explorar bosques e desfrutar de praias fluviais. Para aqueles que preferem uma caminhada mais curta, há um mini-percurso circular de 2,5 km disponível.