As casas emocionais que construímos e em que criamos os nossos filhos variam de acordo com uma série de fatores complexos, que vão desde as nossas próprias casas da infância, àquelas que queremos construir, às que gostaríamos de demolir, aos desejos e receios que temos em edificar uma construção nossa e de como tudo isso se conjuga num primeiro projeto a dois, que depois se amplia para um projeto mais ambicioso.
Serão o planeamento, a escolha dos materiais, a qualidade e a quantidade de cada um, o prazer da construção, a originalidade, a dedicação e a determinação que temos para construir a casa dos nossos sonhos, que ditarão o seu resultado final.
Certamente nenhum dos três porquinhos queria construir uma casa que fosse permeável ao lobo, até porque isso poderia representar o seu fim. Mas de acordo com a sua maturidade ou determinação, porque tinham diferentes capacidades de organização e planeamento, diferentes tipos de materiais disponíveis, por serem mais preguiçosos ou porque tinham outras coisas igualmente importantes em que pensar ou para fazer, as casas não tiveram todas o mesmo tipo de construção.
Também nós, quando pensamos em construir ou aumentar a família, pensamos em fazê-lo da melhor forma, mas dificilmente a nossa maquete mental é replicada na construção real. Por vezes surpreendemo-nos e fazemos construções superiores às que projetámos, mas por outras podemos não encontrar os materiais certos ou não conseguir fazer as melhores construções e, tal como as casas dos três porquinhos, as diferentes estruturas poderão levar a enredos diferentes.
Tal como a obra do porquinho mais novo, há construções emocionais familiares que, por alguma razão, têm fundações mais frágeis. Nestes casos, é possível que os pequenos habitantes se sintam menos seguros no seu crescimento, tendo dificuldade em se tornarem independentes. Assim, também para eles será mais difícil edificar uma casa sólida na idade adulta, ficando muitas vezes dependentes das construções dos outros, sobretudo quando se sentem ameaçados pelos lobos que vão surgindo na vida e que às vezes com um pequeno sopro parecem conseguir destruir tudo o que eles tinham erigido.
A casa do porquinho do meio permite uma independência maior, que só é abalada por sopros mais fortes, mas quando estes se dão a casa não resiste e o caminho a seguir é o mesmo do porquinho mais novo.
São as casas-relações mais sólidas, construídas com os materiais de maior qualidade, com disponibilidade, tempo e dedicação nas medidas certas, que permitem uma construção interna robusta, permeável aos lobos mais ferozes. Assim são as relações primárias fundadoras do futuro adulto que se quer autónomo, aquele que interiorizou as relações sólidas e significativas da infância, seguro e confiante, emocionalmente estável, decidido e determinado e também capaz de um relacionamento saudável consigo e com o que o rodeia. Que não vive dependente de casas aparentemente mais fortes, mas que se mantém naquela que conseguiu construir, fruto do seu trabalho emocional e profissional. Que vai de visita à casa da família, não porque precisa, mas porque quer, e depois regressa à sua, que continua a construir com tijolos e cimento de boa qualidade, onde vai receber quem o faz sentir bem, sem medo de arriscar, porque sabe que a sua construção interior é da melhor qualidade.