O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, decidiu apresentar o que um grupo de personalidades da velha guarda (com as honrosas exceções da Dra. Manuela Ramalho Eanes e o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins), decidiram escrever em papel: os seus ideais. O livro chama-se Identidade e Família E tenho que vos dizer que isso é extremamente importante. É extremamente importante continuarmos a entender porque é que as mulheres são abusadas e a linha da sua opressão se mantém fiel, ao facto que só às suas próprias custas foram adquirindo direitos, ao longo de anos de tentativa de progresso e luta. É bizarro que seja publicado uma espécie de ‘Bíblia’ de conceitos, quando estas mesmas pessoas nasceram da barriga de uma mulher, que não se quer sujeitar à continuidade da barbárie pela qual passou ao longo de anos de história mas que ainda continua a ser real e bem mortal. É importante percebemos que através de tantas mentes, algumas destas personalidades são casadas e têm filhos ou filhas. São pais e mães de filhas, porque os filhos são com certeza legítimos herdeiros do trono e da herança familiar. Já segundo as palavras de alguns autores, não se quer o aborto, só por si um direito que só a uma mulher diz respeito mas pior que isso, não se quer o aborto mesmo em casos que sejam crianças ou deficientes. Não entendo como estas ideologias se podem contradizer mais. Até porque no modelo familiar, de Deus, Pátria, Família, se uma criança, filha de algum destes autores for violada e ficar grávida, irá estragar todo o belo conceito da ‘família tradicional’. Na família tradicional, também não existe espaço para a escolha individual de cada um. Deve-se então morrer de doenças degenerativas, com uma qualidade de vida reduzida a uma dor sem precedentes, porque segundo este livro, ainda não devia existir nem o conceito de direitos humanos nem o conceito de que existem doenças incuráveis e tão dolorosas, que a solução deve pertencer sem exceção a cada um de nós. Neste manual do ‘bem ser’, não falam então de todos os problemas reais do país: com cidadãos sem acesso à saúde que os faria obrigatoriamente viver mais tempo. Não falam que a violência doméstica aumentou e é um dos crimes mais cometidos em Portugal. Não falam que a justiça está entupida. Não falam dos mais velhos e da podridão que é viver a sua terceira idade, quer queiram quer não, sem quaisquer condições, esperando que a morte lhes bata à porta ou que seja essa apenas a vontade de Deus. Falam na aberração das aulas de educação sexual mas cada vez mais crianças são abusadas, no país que abafou os crimes mais hediondos, tendo sido uma das maiores investigações feitas no seio de abuso sexual da igreja católica, e ter tido como fim um fatídico empurrão para debaixo da dor de todas as vítimas, todos estes crimes com prescrição para a morte da alma. Falam em géneros, mulher e homem, quando no seio dos seus próprios amigos e amigas existem mulheres e homens que gostam de pessoas do mesmo sexo. Querem então calar e oprimir, que o jantar esteja servido, que a mulher seja desprovida de qualquer ideia, que os homossexuais sejam banidos, que as dores que a medicina não consegue salvar sejam constantes, e que o aborto de crianças grávidas ou deficientes não seja permitido. Eu sou inimiga da família tradicional e para sempre uma acérrima defensora dos direitos das mulheres, crianças e idosos, aqui espezinhados sem misericórdia, porque misericórdia é uma palavra que só cantam nas missas de domingo.
Viva a liberdade!
Ativista