Arrogância e Lealdade

É urgente salvar o Estado Social, reformando a saúde, a educação, a habitação e a justiça. É assim que Luís Montenegro e o novo Governo irão ao encontro dos portugueses.

Durante o debate sobre o Programa de Governo, Pedro Nuno Santos arrancou atacando, lembrando um certo e determinado homem que ficou na história como ‘o animal feroz’.

Para o líder dos socialistas, o primeiro-ministro Luís Montenegro dirigiu-se ao país, na sua primeira intervenção, com «arrogância». Mais acrescentou Pedro Nuno, dizendo não compreender como é que o PSD espera que o PS apoie o programa apresentado.

A partir daqui, podemos facilmente chegar a uma conclusão: os socialistas ainda não perceberam o lugar que agora ocupam.

Depois de 3050 dias no Governo, o PS ainda não percebeu que foi relegado para fazer oposição e que aquele que era o seu programa eleitoral mais não passa do que um conjunto de linhas mestras que deverão por si ser defendidas enquanto tal – seja, enquanto promessas que não foram acolhidas pelos portugueses; promessas que foram, essas sim, rejeitadas e que o governo não está minimamente obrigado a cumprir. É a natureza das coisas. É a democracia a funcionar.

De que estava, de resto, Pedro Nuno Santos à espera? Estaria, porventura, à espera de que, por não ter conseguido uma maioria absoluta, Luís Montenegro e o PSD implementassem um programa baseado nas propostas do segundo partido mais votado? Seria, assim, que Montenegro demonstrava a humildade que Pedro Nuno Santos reclama e diz faltar ao primeiro-ministro?

Montenegro tem, antes, de fazer aquilo que prometeu. Lá está: tem de respeitar a natureza das coisas. E isso não é ser arrogante. É, pelo contrário, uma demonstração de lealdade, como bem lembrou Hugo Soares. Mesmo que, para isso, o PSD tenha de dialogar, de conversar e de negociar com todos os outros partidos, desde que, obviamente, estes demonstrem verdadeira vontade de chegar a compromissos e de resolver problemas, reformando o país, transformando-o.

O Governo tem, como prometeu, de reforçar os rendimentos dos portugueses, aumentando o salário mínimo, fazendo esforços para que o salário médio também suba, ao mesmo tempo que protege e reforça a capacidade dos pensionistas.

Luís Montenegro tem, como prometeu na campanha eleitoral, de reduzir impostos e de atrair investimento, criando um ambiente propício a que os jovens cá se mantenham. Lembremos, a título de exemplo, que um terço dos jovens diplomados em Portugal, até ao ano passado, emigrava assim que terminava o seu ciclo de estudos, naquilo que se consubstanciou como um verdadeiro êxodo e uma catástrofe para o país.

O PSD tem de olhar para os serviços públicos. Os serviços públicos que Pedro Nuno Santos e o Governo de que fez parte e, nalguns momentos, parece ter liderado (lembremos o episódio do Aeroporto), deixaram completamente depauperados. É urgente salvar o Estado Social, reformando a saúde, a educação, a habitação e a justiça.

É assim que Luís Montenegro e o novo Governo irão ao encontro dos portugueses. Os portugueses que votaram na AD, mas também de todos aqueles que não votaram. É assim que irá ao encontro de todos aqueles que estão sedentos de seriedade no jogo político e que mais não têm paciência para os jogos de palavras suscitado pela irresponsabilidade repentista que grassa na generalidade (felizmente, não na totalidade!) da oposição.

É este o maior ato de lealdade que Luís Montenegro poderá prestar à democracia, aos portugueses e a Portugal. Esperemos que seja, então, este o seu legado.

Advogado, Vereador do Urbanismo e Inovação da C.M. Braga