Talita Barbosa. ‘Ainda não consegui pintar o meu auto-retrato’

Talvez não sejam muitos os portugueses que conhecem a obra desta menina que nasceu em Lorena, no Estado de São Paulo, formada em Artes Plásticas na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, e que possui uma cativante paixão pelas cores garridas aplicadas a personagens famosos. Se não sabem da sua obra, fiquem a saber que vale…

Encontrei-a por acaso. E ainda bem. Já expôs no Brasil, em Portugal e na Austrália. Descobria-a por acaso. Fascinei-me com naturalidade. Senti que era injusto que não fosse publicitada como merece. Nasceu a entrevista. Aqui fica para que os leitores também a sintam próxima.

Como definirias a tua pintura? Na minha pintura, busco capturar a essência vibrante e dinâmica da pop art, bem como a narrativa visual presente nas revistas de banda desenhada. Através do uso de cores intensas e marcantes, busco transmitir energia e vitalidade nas minhas obras. O canvas 3D adiciona uma dimensão extra às minhas pinturas, proporcionando uma sensação de profundidade e imersão ao espectador. O contorno preciso que delineia os elementos da obra ajuda a criar um impacto visual forte e a destacar a interação entre as cores e formas presentes na composição. Considero a minha pintura como uma forma de trazer alegria e vivacidade ao quotidiano, utilizando a arte como meio de expressão e comunicação com o público.

O que te levou a querer utilizar personagens conhecidas nos teus quadros? Ao utilizar personagens conhecidas nos meus quadros, tenho o objetivo de estabelecer uma ponte entre o passado e o presente, criando um diálogo visual entre diferentes épocas e estilos artísticos. A minha abordagem consiste em reinterpretar figuras famosas da história da arte e da cultura popular, inserindo-as em contextos contemporâneos através da escolha da vestimenta, dos ambientes e das cores utilizadas. Essa fusão entre o clássico e o moderno não só adiciona uma camada de complexidade às minhas obras, mas também convida o público a refletir sobre a atemporalidade e a relevância das figuras e temas retratados. Considero essa prática como uma forma de revitalizar e reinventar a tradição artística, mantendo-a relevante e cativante para as gerações atuais e futuras.

Que fascínio tens pelas cores berrantes e como o explicas? Tenho um fascínio pelas cores berrantes devido à sua capacidade de transmitir energia, vitalidade e emoção nas minhas obras. O contraste entre as cores fortes e vibrantes cria uma dinâmica visual que atrai o olhar do espectador e adiciona profundidade às composições. Acredito que as cores desempenham um papel fundamental na nossa vida diária, pois são capazes de trazer vida, luz e alegria ao nosso quotidiano. Ao explorar as cores de forma intensa nas minhas pinturas, busco não apenas estimular os sentidos do espectador, mas também provocar uma resposta emocional e intelectual. Como seres humanos, somos naturalmente recetivos e influenciados pelo ambiente externo, e as cores desempenham um papel significativo nesse processo. Recebemos estímulos visuais através das cores e respondemos a eles de maneiras diversas, seja através de associações emocionais, memórias ou sensações.

Que feedback tens tido das pessoas que retratas nos teus quadros? Tenho recebido um feedback extremamente positivo das pessoas que retrato nos meus quadros. Quando os clientes têm o primeiro contacto com a obra pessoalmente, a reação costuma ser de surpresa e encantamento. O impacto visual das pinturas, juntamente com a interpretação contemporânea das figuras conhecidas, tende a gerar uma resposta emocional forte nos observadores. Muitas vezes, as pessoas sentem-se conectadas e emocionalmente envolvidas com as representações, o que contribui para uma experiência única e memorável ao contemplar as obras. Além disso, é importante destacar que recebo muitas encomendas de quadros com representações personalizadas de famílias ou de pessoas específicas. A possibilidade de criar obras únicas e personalizadas para os clientes, capturando a essência e a personalidade de cada indivíduo, tem sido muito bem recebida. O facto de poder proporcionar às pessoas a oportunidade de terem uma obra de arte personalizada e única, que reflita quem são e o que valorizam, é algo que me traz grande satisfação como artista.

Serias (ou já foste) capaz de pintar a branco e preto? Nunca pintei a preto e branco nas minhas obras, pois as cores desempenham um papel fundamental na minha identidade artística e são uma característica marcante das minhas criações. A vibrância e a vivacidade das cores são elementos essenciais que contribuem para a expressividade e o impacto visual das minhas pinturas. No entanto, apesar de nunca ter explorado a pintura a preto e branco até o momento, acredito que como artista, nunca se deve dizer nunca.

Tens a influência de algum pintor conhecido? Foram 4 os artistas que influenciaram significativamente a minha prática artística, inspirando-me a explorar novas formas de expressão, cores e estilos na minha própria obra. Roy Lichtenstein foi um dos principais artistas da pop art, conhecido por obras que fazem referência à cultura popular e à estética dos quadrinhos. Ele ficou famoso pelas suas pinturas que reproduzem o estilo dos quadrinhos, com o uso de cores vibrantes, pontos ben-day e balões de fala. Andy Warhol é outro ícone da pop art, reconhecido pelas suas obras que celebram a cultura de consumo e a fama. Ele ficou famoso por suas serigrafias de celebridades, como Marilyn Monroe e Elvis Presley, assim como por suas representações de produtos comerciais, como as latas de sopa Campbell’s. Tarsila do Amaral foi uma importante artista brasileira do modernismo, conhecida por suas obras que exploram a identidade e a cultura brasileira. Ela foi uma das precursoras do movimento antropofágico, que buscava absorver e reinterpretar influências estrangeiras na arte brasileira. Suas obras muitas vezes apresentam cores vibrantes e formas simplificadas, refletindo a diversidade e exuberância do Brasil. David Hockney é um renomado artista britânico conhecido por suas pinturas vibrantes e coloridas que exploram a relação entre arte e tecnologia. Ele é famoso por suas representações de piscinas, paisagens e retratos, muitas vezes utilizando cores intensas e contrastantes.

Pelo que percebo viajas muito – reconhecem o teu trabalho fora de Portugal? Sim, adoro viajar e conhecer novas culturas, pois acredito que o artista precisa constantemente se alimentar de novas experiências e influências. O meu trabalho tem sido reconhecido internacionalmente, com obras vendidas em diversos países ao redor do mundo. Além disso, sou representante de uma galeria muito conceituada na Austrália, a 19karen Gallery.

E já agora como te veem no Brasil que é o país onde nasceste? Penso que o meu trabalho tem conquistado admiradores não apenas no Brasil, mas também em outros países ao redor do mundo. A minha presença na cena artística internacional, com obras vendidas em galerias renomadas e reconhecimento em diversos países, tem sido motivo de orgulho e felicidade para as pessoas que conviveram comigo no Brasil.

Tens alguma grande exposição programada para breve? Sim, a Exposição Santo António com a temática Natureza que se realizará em Montemor-o-Velho numa capela requalificada pelo consagrado arquiteto Álvaro Siza Vieira. A exposição será coletiva. Inicia-se em 1 de Maio.

Qual a figura que ainda não pintaste e gostarias de pintar? Ainda não consegui fazer o meu autorretrato, pois sinto que é um desafio artístico pessoal que requer uma introspeção profunda e uma conexão íntima com a própria imagem. Pintar um autorretrato exige uma autocrítica e uma honestidade emocional que nem sempre são fáceis de enfrentar. Além disso, a representação de si mesmo pode ser um processo complexo e desafiador, pois envolve capturar não apenas a semelhança física, mas também a essência e a alma do sujeito retratado.

Além do autorretrato, há muitas personalidades que gostaria de pintar, incluindo Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá. Ambos são figuras inspiradoras que deixaram um legado significativo de luta pela justiça, igualdade e compaixão. Através da minha arte, gostaria de homenagear esses grandes líderes e compartilhar a mensagem de esperança, amor e paz que eles representam. Além disso, tenho o desejo de fazer uma releitura da obra A Criação de Adão de Michelangelo. Esta pintura icónica é um marco na história da arte e explorar essa narrativa transcendental seria uma oportunidade única de mergulhar nas profundezas simbólicas e emocionais dessa cena emblemática.

Onde é que as pessoas podem ter acesso ao teu trabalho? As pessoas podem ter acesso ao meu trabalho principalmente através das redes sociais, como o Instagram e o Facebook. Nestas plataformas, partilho regularmente as minhas obras, o processo criativo, exposições e eventos relacionados com a minha arte. Os interessados podem acompanhar o meu trabalho, interagir comigo e conhecer as últimas novidades e projetos artísticos através das publicações e atualizações nas redes sociais. Estas plataformas digitais proporcionam uma forma acessível e imediata de estar em contacto com o meu trabalho e de acompanhar a minha jornada artística.

Qual o teu material preferido para desenho e pintura? Utilizo tinta acrílica como meu material preferido para desenho e pintura, pois ela se encaixa perfeitamente no meu estilo artístico. As cores vibrantes e chapadas que a tinta acrílica proporciona são essenciais para a expressividade das minhas obras. Além disso, a versatilidade e a secagem rápida da tinta acrílica permitem-me trabalhar de forma eficiente e criar camadas de cores intensas em meus quadros.

Como base para as minhas pinturas, opto pelo Canvas 3D, que proporciona uma dimensão adicional às minhas obras. Gosto de explorar a profundidade do Canvas 3D e de dar continuidade à pintura na “beirada” do quadro, criando um efeito visual interessante que envolve o espectador de forma mais imersiva. Essa abordagem acrescenta uma camada extra de complexidade e dinamismo às minhas composições, contribuindo para a singularidade e o impacto das minhas criações artísticas.

Que reconhecimento tens sentido dos portugueses em relação à tua obra? Desde que iniciei a minha jornada artística, tenho sido acolhida de forma calorosa e generosa pelos portugueses. O reconhecimento e o apoio que tenho recebido da comunidade artística e do público em geral em Portugal têm sido incrivelmente gratificantes e inspiradores. É uma honra para mim. O facto de cerca de 80% dos meus compradores serem portugueses é um testemunho do carinho e da apreciação que a minha obra recebe em Portugal. Esta ligação especial com o público português é algo que valorizo profundamente e que me motiva a continuar a criar e a explorar novas possibilidades na minha arte. Portugal tornou-se verdadeiramente a minha segunda casa, um lugar onde me sinto acolhida, amada e inspirada.

Sinto um imenso orgulho em ser portuguesa e em poder contribuir de alguma forma para a riqueza cultural e artística deste país. Agradeço de coração a todos os portugueses que têm apoiado o meu trabalho e que têm feito parte desta incrível jornada artística. O reconhecimento e a aceitação que tenho sentido em Portugal são um tesouro inestimável que alimenta a minha paixão pela arte e me impulsiona a continuar a partilhar a minha criatividade com o mundo.