Chegará a Páscoa…

Como diz São Paulo: queremos fazer o bem, mas não fazemos e não queremos fazer o mal, mas fazemo-lo

Há três semanas começámos a Páscoa Cristã, onde Cristo rebenta com as cadeias da morte e abre caminho para uma nova humanidade. Há algo de novo que começou com Cristo! A Lei de Talião dizia: «Olho por olho e dente por dente». Cristo, porém, disse: «Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem. Fazei bem a quem vos fizer mal. Se alguém te bater numa face, oferece-lhe também a outra». 

Este é o chamado Sermão da Montanha que se encontra nos capítulos cinco, seis e sete do Evangelho de São Mateus e que, nestes tempos de guerra, vale a pena serem lidos e relidos. Um livro de George Weigel, O Cubo e a Catedral, dá-nos um panorama dos acontecimentos do século XX que nos têm conduzido até este estado. O século dos direitos humanos, afinal tem-nos conduzido a genocídios e a guerras nunca antes vistas.

Segundo este americano, a sede dos direitos humanos foi feita, do ponto de vista físico, com a medida exata da Nôtre Dame de Paris, para, simbolicamente, dizer que os Direitos Humanos superam a carta deixada por Cristo à Igreja. No fundo, ao final de trezentos anos, depois de se terem criado os Estados Modernos, dá-se uma nova cultura que, no Ocidente, se separa definitivamente da religião. 

A cultura cristã, aleada ao pensamento grego, desenvolveram um sistema de organização humana que possibilitou ao homem separar-se da própria religião. No fundo, a religião criou o ambiente propício para que haja uma separação da religião, tal como Deus fez a criação do existente, possibilitando ao homem separar-se de Deus. Porque, na realidade, o pensamento judaico-cristião é o grande fundador do conceito de liberdade que chegou aos nossos dias. 

Esta possibilidade que o homem tem de separar da fonte da sua própria existência – Deus – é a condição única para a existência de uma relação que exige liberdade: o Amor. Porque não poderia haver amor se não houvesse liberdade. Só um homem livre pode amar. 

Algumas pessoas deixaram de acreditar em Deus, baseando-se num pensamento negativo da criação: o problema do Mal. Afinal, poderia, ou não, Deus ter criado o homem sem a possibilidade de fazer o mal? A resposta é muito simples: Não! 

E porque não poderia Deus ter criado o homem sem a capacidade de se separar de Deus, de cometer o mal? Porque se o homem fosse criado sem a possibilidade de fazer o mal, deixaria de ter vontade própria. Ora, sem a vontade própria, seria apenas uma marionete nas mãos de Deus, porque seria Deus a controlar a vida humana. Então, o Amor seria apenas uma obrigação e o homem deixaria de poder oferecer-se. No fundo, seria uma criação feita por uma ditadura.

O que leva o homem a cometer o mal é a sua própria liberdade para amar. Só o judeu-cristianismo considera o homem como capaz de renunciar à relação com Deus numa relação de liberdade. 

Mas será que o homem é mesmo capaz da liberdade? Ele é realmente livre? A resposta também é clara: Não! A liberdade do homem está mesmo ferida pelo tal malfadado Pecado Original. Como diz São Paulo: queremos fazer o bem, mas não fazemos e não queremos fazer o mal, mas fazemo-lo. Nós sabemos que só Cristo foi um homem livre capaz de amar e são-no também todos aqueles que pedirem o Espírito de Cristo.