Reconhecido internacionalmente, o estilista Roberto Cavalli, apaixonado por estampados extravagantes de animais e pelo seu estilo de vida luxuoso, faleceu em sua casa, em Florença, após uma longa batalha contra uma doença, conforme relatado pela agência de notícias italiana ANSA. Cavalli, com 83 anos, cujas criações eram admiradas por celebridades e pelo jet set internacional, deixou um legado marcante na indústria da moda. Era um amante de carros desportivos, charutos e roupas feitas sob medida. Além da sua carreira na moda, Cavalli desfrutava de uma vida pessoal glamorosa, incluindo o casamento com a modelo sueca Sandra Nilsson – 45 anos mais nova do que ele – e o nascimento do seu sexto filho, Giorgio, no ano passado, quando o estilista já tinha 82 anos.
A jornada de Cavalli na moda começou quando ainda estudava e pintava t-shirts para ganhar dinheiro. Em 1975 fundou a sua empresa e ganhou reconhecimento pelos seus inovadores estampados de animais e designs ousados. Como explica o britânico The Guardian, a descoberta de Cavalli para a sua própria clientela ocorreu em 1969, quando ‘invadiu’ uma festa do designer de calçado Mario Valentino e mencionou que poderia imprimir em couro. Não conseguiu, mas no dia seguinte elaborou uma técnica e voltou com amostras.
Introduziu essas inovações em Paris, onde rapidamente atraiu a atenção de renomadas casas de moda como Hermès e Pierre Cardin. Aos 32 anos, lançou a primeira linha com o seu nome no Salão Prêt-à-Porter de Paris. Levando as suas apresentações até às icónicas passarelas da Sala Bianca do Palazzo Pitti, em Florença, apresentava coleções que incluíam peças de calças de ganga estampadas, couro, brocados e estampados de animais selvagens. Em 1972, inaugurou a sua primeira loja em Saint-Tropez. Em 1994, durante um desfile em Milão, Cavalli introduziu as primeiras calças de ganga desgastadas com jatos de areia, um processo que era, então, exclusivo. Ainda nesse ano, expandiu a sua presença global com a abertura de boutiques em destinos luxuosos como Saint Barth, além de Veneza e Saint-Tropez.
Além da sua linha principal, que é distribuída em mais de 50 países, Cavalli também lançou a RC Menswear e a linha jovem Just Cavalli em 2000, que inclui uma ampla gama de produtos, desde roupas e acessórios masculinos e femininos até perfumes, óculos, joias, relógios, roupa íntima e moda de praia. Em 2002, Cavalli expandiu os seus negócios para o setor de alimentos e bebidas, inaugurando o seu primeiro café em Florença, que foi decorado com os seus distintos estampados de animais. Logo depois, em Milão, foi aberto o café Just Cavalli na Torre Branca, juntamente com outra boutique na Via della Spiga.
Em 2015, o fundo de investimento italiano Clessidra SGR adquiriu 90% do capital da Roberto Cavalli. Gian Giacomo Ferraris, ex-executivo da Versace, foi nomeado CEO e concentrou-se em devolver a marca às suas raízes toscanas. No entanto, a empresa enfrentou dificuldades financeiras, levando ao encerramento de todas as lojas nos EUA em 2019 e à preparação para a liquidação das suas operações na América do Norte.
Cavalli enfrentou críticas durante a sua carreira, incluindo uma reação negativa da comunidade hindu em 2004 por usar imagens de deusas hindus em roupas íntimas femininas. Cavalli deparou-se ainda com outros desafios, especialmente durante a ascensão do minimalismo nos anos 80, que representou uma ameaça para os seus designs opulentos. Mas resistiu, embora também tenha lidado com batalhas judiciais, incluindo um longo julgamento em Itália por acusações de evasão fiscal, do qual foi absolvido.
Expressou a sua convicção à Vogue de que Deus era o «supremo designer», influenciando-o a replicar a beleza natural nas suas criações. Sempre com a natureza como inspiração, os extravagantes designs de Cavalli começaram a ganhar destaque nos anos 70, adornando ícones do cinema como Sophia Loren e Brigitte Bardot, antes de conquistar também celebridades contemporâneas como Kim Kardashian, Lady Gaga e Beyoncé.
Assim, a sua morte foi lamentada por colegas e admiradores da indústria da moda, incluindo o designer Giorgio Armani, que o descreveu como um «verdadeiro artista» numa homenagem emocionada. Adriana Lima, modelo da Victoria’s Secret, e Victoria Beckham, ex-Spice Girl e estilista, também prestaram homenagens calorosas a Cavalli, destacando a sua influência duradoura e o seu status como uma verdadeira lenda da moda.