Estas eleições europeias que se realizam no dia 9 de junho assumem uma dimensão mais relevante do que os atos eleitorais para o ciclo político institucional europeu a que estávamos habituados. Explico: Tradicionalmente, as eleições europeias representam uma espécie de cartão amarelo ou vermelho, consoante o nível de penalização com que as opiniões públicas pretendem penalizar os governos nacionais. Se os governos estão com baixos níveis de popularidade, é certo que esse desgaste vai refletir-se no voto europeu. Tem sido assim, historicamente. Tem sido este o olhar dos cidadãos em relação ao Parlamento Europeu com sede em Estrasburgo.
Tendo Portugal realizado eleições legislativas no dia 10 de março, decorrerão três meses entre as eleições gerais e as europeias. Não há ainda tempo suficiente para o desgaste nem do Governo nem das oposições. Significa isto que as eleições europeias irão ser uma espécie de segunda volta para percebermos se os portugueses irão votar no dia 9 de junho como votaram no dia 10 de março. Simples.
Quanto aos partidos, existe normalmente uma dupla preocupação: gerir expectativas duplas. Por um lado, o empenho na obtenção de um bom resultado que possa ser utilizado no âmbito da política interna; por outro, a colocação dos seus melhores ativos em trânsito para Estrasburgo. É neste quadro de análise que a escolha dos cabeças de lista adquire uma especial atenção. No caso em concreto, ninguém imaginava que as escolhas dos líderes Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro tivessem uma elevada dose de surpresa.
Nos últimos meses, o nome de Marta Temido foi sempre referenciado como sendo, com fortes probabilidades, a candidata do PS às eleições autárquicas em Lisboa que se realizam em 2025. A própria Marta Temido falou várias vezes sobre o desafio autárquico deixando um vislumbre sobre a sua vocação para o governo da capital. Foi, portanto, com surpresa que o nome da antiga ministra da Saúde surge como cabeça-de-lista às europeias.
No entanto, o grande facto político da semana e que inevitavelmente marcará o debate sobre as eleições europeias nos próximos dias é a escolha de Luís Montenegro para liderar a lista da AD às europeias. Mais uma vez, o líder do PSD dribla a comunicação social e apresenta um nome que a bolha mediática não está à espera e que a opinião pública também recebe com admiração. Esse nome é Sebastião Bugalho.
Sebastião Bugalho divide opiniões, principalmente no interior da classe onde ele literalmente nasceu; uma classe que olha com desconfiança alguém que se destaca e que rompe a linha da mediania.
Com os seus 29 anos, Sebastião é um conservador. Não conhecemos (ainda) o seu pensamento sobre a Europa, nas múltiplas dimensões que o projeto europeu coloca nos tempos presentes. Na campanha eleitoral que começará nas próximas semanas, Sebastião vai ter que fazer prova de vida, ou seja, mostrar aos que agora dizem que ele é um figura saída dos reality shows dos debates que a sua experiência profissional vivenciada nas redações dos jornais e nos estúdios de televisão não pode ser um estigma ou um preconceito para uma carreira politica que agora se fará nos palcos de Estrasburgo e de Bruxelas mas que previsivelmente terá uma linha de vida longa. Só os mais distraídos poderiam pensar que a vida profissional de Sebastião Bugalho iria esgotar-se no comentário politico.
Finalmente, algumas notas sobre as motivações políticas de Luís Montenegro. Ao escolher Sebastião Bugalho, o presidente do PSD quis dar um sinal aos jovens, à geração que circula nas redes sociais mas também aos jovens, uns descontentes, outros liberais, que votaram no Chega e na Iniciativa Liberal nas eleições de 10 de março. Simultaneamente, no combate com Marta Temido (PS) e com o embaixador António Tânger (Chega), a ideia será apresentar ao eleitorado um candidato que pelo efeito surpresa e pelo seu poder argumentativo sejam uma mais valia para a AD.