Abril: um projeto que se aproxima!

Não há maior Liberdade do que beber uma imperial e ver uma multidão ordeira e feliz como vi neste 25 de Abril.

Acho este ano troquei o 25 de Abril e o 1.º de Maio… passei o dia 25 de Abril a trabalhar e terminei o dia, no meio de uma multidão que ninguém podia contar, a beber umas cervejas nas Portas de Santo Antão.

Este ano, decidi libertar-me e passei todo o dia da Liberdade a esfregar portas na Igreja de Santa Cruz do Castelo. Limpei, em primeiro lugar, e, depois de bem secas, acabei por encerar as portas com pura cera de abelha natural… faltou apenas uma coisa: limpar o lustro… mas isso teria de esperar que secassem.

Desci do Castelo de São Jorge e, chegado às Portas de Santo Antão, decidi parar um pouco e beber umas cervejas com umas sandes de panado. É nesse mesmo momento que veio uma multidão faminta de revolucionários e entram em tudo o que tem porta para saciar a sua fome e a sua sede.

Esta foi, sem dúvida, uma descoberta. Havia uma grande concentração de gente na Avenida da Liberdade a celebrar a alegria dos 50 anos da Liberdade e eu nem me tinha dado conta. Passei todo o dia a limpar portas. Passei horas a encerar portas.

Parei, naquele momento, a olhar para os milhares de jovens que passavam à minha frente e pensava o que estavam eles a fazer ali. Literalmente eram milhares de jovens que celebravam uma palavra que poucos imaginam o seu significado: Liberdade!

E eu pensava: porque não estou a eu a celebrar a Liberdade? Porque estou estive eu todo o dia a limpar portas em vez de estar nesta concentração imensa de gente? Porquê?

Sei que não era momento de filosofar, mas fiquei a pensar na alegria que é um padre estar sentado numa esplanada a pensar na Liberdade e uma multidão de pessoas a celebrarem essa mesma Liberdade.

Estando eu a filosofar nos meus botões, deparo-me com uma senhora que me pergunta: «O que está aqui a fazer? Um padre aqui?».

Eu nem queria acreditar que um padre não pudesse estar a beber umas belas imperiais e a desfrutar de uma esplanada. De repente, percebi que a senhora estava escandalizada por eu estar no meio de uma multidão que celebrava a Liberdade!

Ela continuou: «A Igreja aqui? Veio celebrar o 25 de Abril?».

Foi naquele momento que percebi que a Liberdade é muito relativa e bastante limitada, porque só pode ser liberdade para meia dúzia… afinal, eu tive mais liberdade em limpar portas do que em beber uma imperial… Afinal os padres podem limpar portas, mas não podem celebrar o 25 de Abril.

Eu, sinceramente, sei que nunca poderia viver no meio de uma ditadura. Eu sou livre demais para me deixar amordaçar por um qualquer ditador. Na perspetiva de outros mais, eu sou ditador demais para deixar que os outros sejam livres. Porque, na verdade, tudo isto é uma questão de perspetiva.

O que será a Liberdade?

Será difícil responder a esta questão, porque, na verdade, os que muitas vezes pensam ser livres não passam de uns escravos das suas ideologias. Eu próprio, se não tiver cuidado, seria um escravo da liberdade que me foi dada.

Esta escravidão da minha Liberdade, tornar-se-á numa ditadura para quem me rodeia. Porque eu sou livre, não importa o que os outros pensam… desde que eu seja livre… então faço da vida de toda a gente um inferno… um inferno absoluto.

Eu, na verdade, penso que a grande liberdade que me foi dada manifesta-se no respeito que devo ter para com todos, principalmente para com todos os que são diferentes de mim….

Por isso, não há maior Liberdade do que beber uma imperial e ver uma multidão ordeira e feliz como vi neste 25 de Abril… Afinal, eu pude trabalhar um pouco, sem meter de parte a minha diversão.