Votar aos 16 anos?

Muitos jovens não se sentem ouvidos ou representados por quem decide, trazendo a frustração para as ruas e ausentando-se dos atos eleitorais.

Não andarei longe da verdade se disser que quase todos nós temos uma reação instintivamente negativa quando ouvimos formular, pela primeira vez, a ideia de baixar a idade do voto para os 16 anos. Crescemos num sistema que, por razões ora culturais ora científicas, se organiza artificialmente ao longo de faixas etárias, às quais associamos direitos e deveres, fazendo também corresponder um conjunto diversificado de expectativas. Tal como acontece com as mulheres, ou com os idosos, também os jovens estão devidamente arrumados em papéis sociais pré-concebidos, alvo de expectativas sociais maioritariamente baixas e com uma prevalência de estereótipos negativos.

Não surpreende por isso que os argumentos que mais ouvimos contra a redução da idade do voto sejam o da irresponsabilidade e de falta de maturidade política, fatores que sustentam a ideia de escolhas ‘desinformadas’ e facilmente manipuláveis.

Mas a verdade é que, nos últimos anos, os debates sobre este tema têm aumentado de intensidade e também muito fruto de uma estratégia de baixo para cima, onde se destaca o reforço do envolvimento cívico e do ativismo jovem, muito impulsionado pelas novas formas de reunião, comunicação e mobilização online.

Em contraciclo com a realidade portuguesa, os resultados do inquérito Eurobarómetro pós-eleitoral mostram que o aumento global da participação nas últimas eleições europeias, a mais elevada desde 1999, foi impulsionado exatamente pela geração mais jovem. Com cerca de 1.7 milhões de novos eleitores jovens, o mesmo pode voltar a acontecer este ano, não sendo indiferente o facto de alguns países terem passado a permitir que jovens de 16 e de 17 anos votem pela primeira vez. Por curiosidade, em termos percentuais, Portugal não anda longe da média europeia de países com mais novos eleitores jovens em proporção de eleitores recenseados, representam 6% do número total, cerca de 640 mil pessoas.

Tenho sido convidada para vários debates promovidos por estudantes, sempre com salas cheias e participadas, pelo que é no mínimo duvidoso continuar a insistir na ideia que os jovens não estão interessados na política ou no futuro da Europa. Talvez estejam menos interessados na política partidária, mas esse é outro problema. Há um fosso comunicacional, de forma e conteúdo, que não pode continuar a ser ignorado e que tem tido reflexos nos resultados, principalmente nos partidos tradicionais. Muitos jovens não se sentem ouvidos ou representados por quem decide, trazendo a frustração para as ruas e ausentando-se dos atos eleitorais, onde o voto é visto como uma escolha e não como um dever. A boa notícia é que acreditam na União Europeia. 

Há, por isso, que atribuir mais centralidade à Europa, garantir que as campanhas não são dominadas por temas nacionais e apostar, paralelamente à literacia, na comunicação política, com mensagens trabalhadas com os jovens e para os jovens.

Talvez assim, sem acantonamentos ideológicos, possamos começar a reconhecer e a reduzir pré-conceitos, como o da imaturidade política, e encarar, sem purismos legais ou outros, a importância deste debate que vai muito além do ‘mero’ direito ao voto, sendo acima de tudo uma questão de reforço de cidadania e espírito democrático. Afinal, o futuro é essencialmente deles.