Negócio milionário. Camisolas que valem milhões

Há décadas que as grandes marcas de equipamento desportivo travam uma guerra comercial para terem as melhores equipas e os jogadores mais influentes.

Neste negócio milionário, a Nike obteve uma importante vitória em casa da grande rival Adidas ao patrocinar a seleção da Alemanha a troco de 100 milhões de euros. Terminou uma das parcerias mais longas na história do desporto.

Numa manobra surpreendente, a norte-americana Nike assinou um contrato com a federação alemã de futebol (DFB) para equipar todas as seleções nacionais a partir de 2027 e por um período de sete anos. O contrato no valor de 100 milhões de euros é o dobro daquilo que a Adidas paga atualmente para ter as três listas na camisola da seleção tetracampeã do mundo. Chega, assim, ao fim uma ligação de 70 anos da Adidas com a ‘Mannschaft’, embora no Euro 2024, a realizar na Alemanha, e no Campeonato do Mundo de 2026, nos Estados Unidos, Canadá e México, a seleção ainda jogue com o símbolo da Adidas. Durante esta longa parceria, a Alemanha foi quatro vezes campeã do mundo, venceu o europeu por três vezes e ganhou dois mundiais e oito europeus de futebol feminino. «Estamos ansiosos por trabalhar com a Nike. A futura parceria permitirá à DFB realizar tarefas fundamentais na próxima década com vista ao desenvolvimento do futebol na Alemanha. Mas uma coisa também é clara: até dezembro de 2026, tudo faremos para alcançar o sucesso com o nosso parceiro de longa data, a Adidas, a quem o futebol alemão deve muito há mais de sete décadas», disse Bernd Neuendorfdiz, presidente da federação alemã. A adjudicação à Nike resultou de um concurso onde foi a jogo com a melhor oferta monetária, como frisaram os responsáveis da federação, que adiantaram outros motivos para a escolha: «A sua visão de conteúdo, o compromisso com a promoção de modalidades amadoras e o desenvolvimento sustentável do futebol feminino na Alemanha», lembrando que «a federação representa 7,3 milhões de pessoas e tem por missão apoiar financeiramente os seus membros e não é financiada por eles».

Vitória simbólica

A Nike ultrapassou a rival Adidas num negócio que o CEO da marca alemã, Bjorn Gulden, considerou «inexplicável». E justificou: «Analisamos sempre a relação custo-benefício para saber se os valores são corretos». As reações negativas surgiram de imediato. Robert Habeck, ministro da Economia alemão, afirmou que não conseguia «imaginar uma camisola da Alemanha sem as três riscas», considerando que «perde-se um pedaço de identidade germânica». O ministro da Saúde, Karl Lauterbach, manifestou-se chocado com a escolha de uma empresa americana para vestir a ‘Mannschaft’. «É um erro», disse e lamentou que «o comércio destrua uma parte da pátria e uma tradição». Os adeptos e a imprensa alemã foram igualmente críticos. A exceção veio do popular Bild, que aprovou o acordo pelas dificuldades financeiras da DFB. «A tradição não paga as contas», avançou o jornal.

A Adidas foi criada em 1949 por Adolf Dassler, o nome resulta da junção do diminutivo “Adi” (de Adolf) e “das” do apelido (Dassler). O primeiro grande sucesso da Adidas aconteceu em 1954 com a vitória da República Federal da Alemanha no Mundial da Suíça. Os alemães venceram (3-2) a poderosa Hungria, que não perdia há quatro anos, para isso muito contribuíram as chuteiras inventadas por Adolf, mais leves e com  novos pitons, que fizeram a diferença num relvado alagado e com lama. A rivalidade entre as grandes marcas de artigos desportivos ganhou peso a partir dos anos 70 quando surgiu um novo conceito de negócio a que se chamou sport business. Essa rivalidade foi alimentada pelos irmãos Dassler, uma vez que Rudolf Dassler era proprietário da Puma.

O fornecedor de equipamento desportivo norte-americano atacou em força esta temporada, e o contrato com a seleção alemã é a reação de uma marca que estava a perder relevância entre as equipas e atletas de topo mundial. A primeira grande conquista da Nike foi em 1996, quando passou a equipar o Brasil – atualmente patrocina as seleções da França, Inglaterra, EUA, Portugal (a Federação Portuguesa de Futebol termina contrato com a Nike em dezembro deste ano – após 27 anos de ligação – e já terá chegado a acordo com a Puma) e, recentemente, assinou contrato com seleção do Uruguai para a Copa América 2024. A Adidas contra-atacou de imediato e conquistou as célebres camisolas encarnadas do Liverpool. A partir de 2025/26, os reds deixam de ter Nike e passam a vestir Adidas. A marca alemã apresentou a melhor licitação e fechou um acordo de cinco anos com um dos clubes com mais adeptos em todo o mundo. Não foi divulgado o valor do negócio, mas sabe-se que a Nike pagava 35 milhões de euros por época, um valor considerado baixo quando comparado com o que recebem as principais equipas da Premier League, nomeadamente o Manchester United, que recebe da mesma marca 105 milhões de euros.

De salientar que o mercado de patrocínio desportivo na Europa teve um crescimento significativo em 2023. Segundo dados divulgados pela Nielsen Sports e Associação Europeia de Patrocínio, este mercado atingiu 21,9 mil milhões de euros, o que é um recorde nesta indústria. A Alemanha é o maior mercado do Velho Continente com 5,5 mil milhões de euros, seguido pela Inglaterra com 5,1 mil milhões.