Há umas semanas, crianças e jovens vindos de várias partes do país juntaram-se em Lisboa para participar num torneio de várias modalidades organizado pelos seus colégios. O objetivo era promover o convívio ao longo dos quatro dias que passariam juntos e também através da competição saudável.
Para espanto e deceção de muitos, nem sempre a competição foi tão amigável como era esperado num torneio cujo slogan se baseava na confiança e amizade. Mas enquanto alguns treinadores levaram as suas equipas para se divertirem e participarem de uma forma respeitosa e saudável, outros pareciam ter em mente sobretudo o 1.º lugar, não olhando a meios. Assim, num torneio de infantis que se esperava bem-disposto e agradável, assistimos a jogos com resultados de 30-0 que puseram os adversários em lágrimas e até a agressões muito feias e despropositadas que deixaram todos incrédulos. Quando se esperava uma reação justa do treinador, apercebemo-nos de que era o próprio que incitava e se deleitava com este tipo de comportamentos.
Todos nós gostamos de ganhar, ainda mais quando somos crianças, e por vezes temos a ilusão de que isso é o mais importante. Naturalmente que sentirmo-nos bons no que fazemos pode ter um impacto muito positivo ao nível da autoestima e da autoconfiança. Mas não são só as vitórias que nos fazem crescer e sentir completos. Sobretudo quando esse objetivo impera sobre todos os outros. É na amizade que crescemos, na partilha, na troca, na solidariedade, na empatia, na entreajuda. As vitórias são, naturalmente, o fruto mais apetecível, mas cabe aos adultos – pais ou treinadores – mostrarem o filme completo.
Lembro-me de duas situações muito próximas e semelhantes que aconteceram no corta-mato de duas escolas diferentes. Numa a criança que estava à frente abrandou para oferecer o primeiro lugar a uma amiga e outra em que o jovem que estava em primeiro lugar parou para ajudar um amigo em dificuldades. Ao assistirem, os pais souberam que a grande vitória não estava na velocidade.
Somos nós enquanto adultos que passamos a mensagem do que é realmente importante e do que é o desportivismo. Da diferença entre ter os olhos postos no placard ou em cada jogador e na equipa. De como se divertem, respeitam e entreajudam. Da forma como crescem juntos tanto nas vitórias como nas derrotas. Como dão o seu melhor para se superarem e não para pisarem os outros. Da camaradagem e respeito pelas outras equipas, para as conhecer, para jogarem juntos, para se divertirem, para aprenderem, como colegas e não como rivais, até porque sem elas não haveria campeonatos nem competições. Para aprenderem não só a saber perder, mas também a saber ganhar.
Naquele torneio amigável, a equipa e o jogador que agrediu outro seguiram para as finais e foram campeões. Pergunto-me que mensagem passamos aos mais novos quando somos coniventes com este tipo de comportamentos, quando premiamos o antidesportivos, a ganância e a agressividade numa fase tão prematura do desenvolvimento. Ou quando nos jogos os treinadores gritam com agressividade para os jovens jogadores e os pais insultam o árbitro, a equipa adversária e às vezes até os próprios filhos.
Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
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