A edição deste ano começou em grande. A primeira etapa levou mais de 100 mil pessoas às estradas da Arganil e Lousã, teve cinco pilotos a vencer troços e três a passar pelo comando. Para fechar em beleza o primeiro dia, foi anunciado que o Rali de Portugal vai manter-se no Mundial por mais dois anos. “É uma prova que acrescenta valor ao Mundial. Tem grande impacto junto das pessoas e dos media, tivemos um milhão de pessoas ao longo dos quatro dias. É incrível. Estamos muito contentes com este acordo, é disso que os ralis necessitam”, disse Jona Siebel, diretor-geral do WRC, que salientou ainda a qualidade da organização do Automóvel Club de Portugal, que envolve 1.200 pessoas e 600 agentes de segurança. E tinha razão, o rali deste ano foi um êxito a todos os níveis. A exigente Michele Mouton, responsável pela segurança das provas do Mundial de ralis, reconheceu no final que “foi a melhor edição de sempre”. A isto, junta-se a verdadeira festa popular, que levou cerca de um milhão de pessoas para a estrada ao longo de quatro dias. Só na classificativa de Fafe, com o famoso salto onde os carros voam 50 metros, estavam cerca de 70 mil pessoas em apenas 11,1 quilometros! Doze horas antes da realização da Power Stage com que terminou o rali (por volta da meia-noite), o ambiente era de completa loucura. Havia espetadores por todo o lado, mas os pontos quentes eram a zona do Confurco e no salto da Pedra Sentada. Vivia-se um ambiente de grande festa com fãs de todas as idades, muitos começaram a chegar a Fafe na quarta-feira para ver passar os carros no domingo, mas havia um motivo para isso: era preciso montar as centenas de tendas de campismo e as grandes mesas onde se serviram apetitosos churrascos, enriquecidos com muitas “bocas”, e até havia discotecas a céu aberto, onde se ouvia música eletrónica cruzada com a “poesia” de Quim Barreiros e, de tempos a tempos, fogo de artifício.
A paixão dos portugueses pelo rali é única e a temperatura foi subindo à medida que a noite avançava…Ver o Rali de Portugal é uma experiência “obrigatória”, nem que seja uma única vez.
Rei Sébastien
No plano desportivo, confirmaram-se as melhores expetativas, assistiu-se a um constante sobe e desce na classificação e o rali foi decidido ao segundo. Sébastien Ogier (Toyota Yaris Rally 1) resistiu aos ataques dos pilotos da Hyundai e venceu pela sexta vez (2010, 2011, 2013, 2014, 2017 e 2024), com quatro marcas diferentes: Citroën, Volkswagen, Ford e Toyota. Caiu um recorde com 37 anos, que pertencia a Markku Alen, obtido nos anos 70 e 80. Foi mais um sucesso, o 60.º, numa carreira incrível, que conta com oito títulos mundiais. “Estou muito contente, é um momento especial. Finalmente a história veio ao meu encontro, é um orgulho e uma felicidade bater o recorde do Markku Alen, por quem tenho um enorme respeito e é uma lenda. Estivemos empatados vários anos, agora ganhei mais um. É um número giro, seis vitórias…”, disse o francês. No seu caminho para a vitória, foi o mais rápido em seis dos 22 troços. “Foi uma luta intensa e não houve momentos para relaxar”, disse o piloto, acrescentando: “Foi um ótimo fim de semana para mim, mas não foi fantástico para a equipa”. Isso ficou bem evidente na forma contida como o diretor desportivo, Jari-Matti Latvala, festejou o triunfo. É que, embora tenha ganho o rali, a Toyota foi ultrapassada pela Hyundai no Mundial de construtores e Elfyn Evans atrasou-se no campeonato de pilotos com uma prova desastrada. “É um misto de sensações. Estou contente com a vitória, mas não conseguimos marcar tantos pontos quanto gostaríamos para os campeonatos”, frisou o responsável da Toyota, marca que venceu pela quinta vez consecutiva em Portugal e conquistou o 88.º triunfo em 210 participações no Mundial de ralis.
Os pilotos dos Hyundai i20 Rally 1 ficaram nas posições imediatas, com Ott Tänak em segundo a 7,9 do vencedor e Thierry Neuville a fechar o pódio a 1m.09,8 s. Com o terceiro lugar e a vitória na Power Stage (que vale cinco pontos), o belga aumentou para 24 pontos a vantagem sobre Elfyn Evans no campeonato de pilotos. “Foi um fim-de-semana incrível para nós e tivemos um rali isento de problemas. Ataquei o máximo que pude. Obrigado à equipa por ter dado um carro fiável”, disse. Uma vez mais, o aberrante sistema de pontuação da FIA introduzido este ano voltou a mostrar-se desajustado, pois o segundo classificado (Tänak) recebeu 26 pontos e o vencedor do rali (Ogier) 25 pontos.
Armindo Araújo (Skoda Fabia RS) foi o melhor português na 17.ª posição. “O Rali de Portugal é uma prova de endurance e nós sabíamos isso. Foi importante gerir o andamento e atacar nos sítios certos”, disse Araújo.