Querida avó,
A inda no seguimento do tema que temos abordado nas últimas cartas, dou comigo a pensar que testemunho daria o avô Mário (Castrim), nestas celebrações dos 50 anos de democracia.
Como não podia deixar de ser, nas tertúlias em que participo com base nos temas que abordamos nos nossos livros, acabo sempre por falar do “avô” Mário.
Quando falo de Mário Castrim, todos recordam o crítico e fazem comparação com a falta de profissionalismo que acontece, hoje em dia, em tantas redações de jornais, rádios e televisões. Recordam que Mário Castrim foi um homem de fé inabalável, que lutou, até ao fim, por aquilo em que acreditava.
Como dizes frequentemente: «Foi o exemplo vivo de que é possível ser Cristão e Comunista ao mesmo tempo. Pois acreditava que podíamos viver numa sociedade mais justa, menos desigual e ao mesmo tempo mais divina».
Não é por acaso que, ao longo da vida, te ofereceu inúmeras Bíblias e livros Marxistas.
Iria dizer repetidamente até ao último suspiro: «Nunca deves dar a democracia por garantida!».
Precisamente o slogan, lançado pelo Parlamento Europeu num vídeo, onde os mais velhos, falam da importância de salvaguardar a democracia: «Usa o teu voto ou os outros vão decidir por ti».
No vídeo, são dados testemunhos de avós que pretendem contar aos seus netos, e a todas as gerações que cresceram numa Europa sem guerra, a forma como a democracia não deve ser tida como garantida.
«É preciso lutar para a conquistar, estar sempre alerta e lutar por ela. Vivam a democracia», pedem estes avós. No meu entender, é a missão que todas as gerações atuais devem passar aos mais novos e às futuras gerações.
Que diria o “avô” Mário sobre o facto do cabeça de lista da CDU às europeias dizer que o «País tem de se preparar para se libertar da submissão ao Euro»?
Bjs
Querido neto,
Tanto que o avô Mário teria para dizer sobre a importância de partilhar os valores conquistados pela democracia.
Como sabes tenho ido, semanalmente, às escolas do concelho de Mafra falar aos miúdos de coisas importantes que estão a acontecer ou que já aconteceram e nunca devem ser esquecidas. Neste momento, claro, o tema é o 25 de Abril.
No meu livro Vinte e Cinco a Sete Vozes tentei passar o testemunho do que mudou a partir de abril de 1974. Afinal, para que é que se fez o 25 de Abril, a revolução que mudou a nossa história?! O que os mais novos sabem sobre o 25 de Abril? Está bem, é feriado. Mas o que mudou na nossa vida e por que é que há pessoas a passear com cravos nesse dia?
Os da minha geração, viveram o 25 de Abril de 1974 com espanto, alegria e felicidade, como muitos outros jovens/ adultos de então. Com o passar dos anos, percebemos que os jovens de hoje pouco sabem desses dias distantes.
Nada como ir a escolas, e registar por escrito, a história de como era Portugal antes da Revolução dos Cravos, como se desenrolaram os dias do 25 de Abril e como surgiu o Movimento das Forças Armadas que o fez acontecer. A maior parte dos alunos adora ouvir a história que mudou a História.
Recentemente estive na EB-2,3 aqui da Ericeira e muito raramente tenho encontrado alunos como aqueles! As perguntas que me fizeram, as conversas que tivemos, o que eles sabiam!! Então um jovem, chamado Martim (não me lembro do apelido)… No fim, quando veio falar comigo, perguntei-lhe que curso ele queria tirar. Respondeu: «Um curso que me dê dinheiro para eu poder viajar e saber mais, para que depois eu ajude muita gente, e que esses depois ajudem outros».
Há esperança nas gerações mais novas!
É um gosto encontrar miúdos assim nas escolas. O avô Mário iria gostar de os conhecer.
Bjs