O pacto sobre migrações e asilo não agrada nem a esquerda nem a direita e, sobretudo, não resolve os principais e graves problemas que gravitam em torno dos colossais e crescentes movimentos populacionais. Esta nova legislação contenta a grande coligação entre socialistas, liberais e populares porque, precisamente, não resolve nada. Ou até agrava.
A direita não ficou satisfeita porque embora este pacto gire em torno da referência recorrente e obsessiva à detenção, às deportações e à criminalização das pessoas migrantes e transferência da gestão das fronteiras para países antidemocráticos, deixa-as entrar. E deixa-as entrar a rodes.
O francês Jordan Bardella, presidente do Rassemblement National (de Marine LePen), diz que ‘Bruxelas quer repartir’ os migrantes, em vez de os ‘fazer partir’.
A esquerda rejeita o pacto por tudo isso e ainda porque o tempo de detenção é aumentado e alargado; os requerentes de asilo não terão acesso a assistência jurídica; as famílias podem ser separadas e as crianças podem ser detidas, o que inclui a recolha de impressões digitais e de dados biométricos a partir dos 6 anos de idade. Mais. Os estados mais ricos até podem recusar receber migrantes. Custar-lhes-á 20 mil euros por cabeça. Preços em seres humanos?
Para o presidente dos Verdes, Philippe Lamberts. «O Pacto reforçará os problemas existentes ao centrar-se desproporcionadamente na dissuasão, nomeadamente através da detenção generalizada de pessoas e crianças, reduzindo simultaneamente os seus direitos».
É que vai mesmo ficar tudo na mesma ou piorar. Sem reformas profundas no sistema de asilo o acesso à Europa manter-se-á como território de batalha entre os traficantes e aqueles que têm mais condições físicas e económicas para pagar a jornada cara de entrada na Europa. Assim, os números mais recentes indicam que a esmagadora maioria dos requerentes de asilo são homens sozinhos com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos, o que levanta complexos efeitos nos países de acolhimento.
Mais. Uma percentagem muito elevada destes migrantes são oriundos de países como o Afeganistão e o Iraque, demonstrando que a destabilização dessas regiões preconizada pela política imperialista estado-unidense é largamente responsável pela sangria de muitos nações. Da mesma forma que o Ocidente não pode esperar drenar esses países de recursos naturais e humanos sem consequências.
Ou seja, debater e solucionar o problema da migração para a UE implica rever estas posições belicistas e neo-colonialistas ocidentais. É o cúmulo da hipocrisia política provocar fluxos desmedidos migratórios, explora-los como mão de obra barata e ainda fingir que se pretende mudar alguma coisa.
Esta drenagem massiva não é acidental nem arbitrariamente mantida. É deliberada, consciente e visa profundas alterações sócio-económicas nas sociedades ocidentais, no nosso modo de vida. Este pacto que só agrada aos interesses instalados é isso mesmo – a lei do status quo e dos poderes fácticos. Os ricos ficarão mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Novidades?